Capítulo 18

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Estou sem fôlego quando olho diretamente nos olhos de Peter.

Peter então sorri para mim, se desvincula do nosso abraço e se vai, sim, ele sai pela porta sem me dizer nada.

Fico alguns minutos parada tentando entender o que acabou de acontecer. Primeiro, Peter não me esclareceu coisa alguma; segundo, ele me beijou e terceiro, ele me deixou aqui.

Minhas perguntas sem respostas apenas aumentaram.

Desço atrás dele. Chegando na sala vejo que estão todos aqui, não vou fazer uma cena.

Me sento em frente ao Peter que não me olha muito.

Algo muito estranho ocorre quando seu celular começa a tocar, uma coisa que quase nunca acontece, Peter olha assustado para o aparelho e sai em disparada para a biblioteca fechando fortemente a porta atrás de si.

Ele não sai de lá pelo resto da noite.

Quando já se é bem tarde e Peter vem dormir, ele está agitado e levemente nervoso. Não sei se isso é por causa do telefonema ou por conta do beijo, mas algo me diz que tem a ver comigo.

No café, na ida à escola, no almoço, no jantar e assim por diante, Peter nem olha nos meus olhos. Não sei o que fiz de errado, foi ele que me beijou.

Se ele não gostou, ele poderia ter me dito, tenho certeza que machucaria menos.

Prometi a mim mesma que não ia chorar, qual é? Chorar porque seu marido babaca brinca com seus sentimentos toda hora não me parece um bom motivo. Se ele acha que é demais pra mim, minhas lagrimas são demais para ele.

Mas eu queria mesmo só um abraço agora. Eu não tinha intenções com Peter antes, só queria saber o que ele queria de mim, sempre achei que eu não era para o bico dele, mas aí ele vem e me dá esperanças só pra me ignorar depois! Isso é ser maldoso.

Não vou contar a ninguém aqui, isso só os faria tomar lados e eu não quero isso para as crianças. Vou até a cozinha e observo Maria, acho que ela não vai se zangar se eu a abraçasse, fico receosa, porém confio que ela não vai me rejeitar também.

— O meu Deus, o que foi minha criança? — Seu jeito terno de me perguntar enquanto me abraça parece quebrar uma parede dentro de mim. Não respondo sua pergunta. — Foi o Peter? O que ele fez?

— Seu conselho não funcionou. — Digo baixo, temendo começar a chorar.

— Por quê? — Ela pergunta com espanto. — O que aconteceu?

— Ele me beijou?

— E você queria beijá-lo? — Não sabia no momento, mas sim, queria muito. Aceno positivamente em resposta. — Então qual é o problema, minha menina?

— Ele não fala mais comigo desde então, acho que ele se arrependeu e não quer me dizer. Estou com tanta raiva dele. — Lágrimas fujonas começam a escapar.

— Você tentou falar com ele e ele te ignorou!? — Ela questiona incrédula.

— Não, não falei com ele.

— Então nenhum dos dois estão falando um com o outro depois do beijo. Até porque se você não falou com ele, ele pode dizer o mesmo que me disse.

— Você acha que ele pensa que eu estou evitando ele?

— Não sei, mas você pode ir lá perguntar. — Nesse instante ela me aponta Peter subindo as escadas para o andar de cima.

— Eu vou.

— E para de chorar, é muito bonita pra isso. — Dou um sorriso pelo elogio.

Subo as escadas apreensiva e entro no quarto com um pouco mais de esperança.

Ela se esvai quando encontro Peter no banheiro, minhas coisas estão todas reviradas e ele está com a minha escova de cabelo na mão.

Qual é o problema desse homem? Aonde eu fui me meter?

— O que você tá fazendo com isso? — Eu o indago e ele se assusta com o tom da minha voz, que não é nada amigável.

— Esquece Celina. — Esquece? É isso que ele acha que eu vou fazer, esquecer sempre que ele fizer algo que eu não sou "digna" de saber? Ele que vá para o inferno com isso.

— Esquecer é uma ova, qual é a merda do seu problema? — Ele me encara e começa a passar a mão pelo cabelo.

Ele respira fundo, exageradamente, e fica em silêncio.

— É isso então? Vai me tratar como se eu fosse o seu brinquedo particular, você já se satisfez comigo sr. Andríc? Eu sou a merda de uma pessoa, sabia?

— Caramba Celina, não estou usando você! Só tem algumas coisas... coisas que você não entenderia.

Agora eu sou burra, claro.

— Claro, porque eu sou estúpida para uma conversa com você, minha única serventia seria quando enfia a língua na minha boca e abre as minhas pernas. — Estou com muita raiva, ouvi isso a minha vida inteira e quando sai daquele pardieiro não achei que ouviria de novo.

Sinto vontade de chorar.

— Eu jamais faria isso com você, Celina e você sabe disso. — No seu tom parece que ele está bem ofendido, eu pouco me importo.

— Sei!? Como?

— Que ódio, Celina! Não sou o vilão aqui!

— Então quem é? O que está acontecendo, se não é você se arrependendo das suas ações e sendo um merda por não admitir?

— Não é isso... é que... é... — Ele começa a gaguejar. — Acho que somos irmãos, Celina.

Começo a rir com desprezo. Mais essa agora.

— Tá drogado seu imbecil? Como podemos ser irmãos? Nem o branco dos nossos olhos são parecidos. — Estou ardendo em raiva.

— Sei que não somos parecidos, não posso te dizer meus motivos, mas eles são bem fortes.

— Essa é a coisa mais idiota que já ouvi, se você não quer algo, não tem que inventar essas merdas. Sou adulta e posso muito bem lidar com a verdade.

— Faz sentido, Celina, essa pode ser a verdade. Estava pegando isso pra fazer o teste.- Diz ele com a escova na mão. Quero muito fazer ele engolir aquilo. — Pensa só! Provavelmente foi isso que a fez parar nosso beijo.

Ele está colocando a culpa em mim? As lagrimas que eu muito custei a segurar começam a escapar.

Essa é a gota d'água.

— Não venha colocar a culpa em mim! O mundo não gira entorno de você Andríc e você quer saber porque eu interrompi aquilo? Não que eu te deva satisfações, mas eu vou contar. Sabe como foi meu primeiro grande beijo? Eu fazia trabalhos para meus colegas na escola e um dos garotos achou que como pagava por aquilo, também tinha direito a outras coisas, depois de eu dizer inúmeras vezes que eu não queria beijá-lo, ele pediu para seus amigos me segurarem em uma sala enquanto ele me beijava. A minha vida não é um mar de rosas e eu fiquei quieta no momento, pois sabia que ele poderia fazer muito pior.

Tenho que parar e respirar fundo depois de contar essa vergonhosa história.

— Então quando nosso beijo foi invadido por essas lembranças eu me afastei, pois não queria corrompê-lo, eu quis te beijar, então não jogue isso pra cima de mim. Quer ver uma coisa?

Vou até ele, fico na ponta do pé e o puxo pela camisa. Colo nossos lábios de modo duro, demostrando minha raiva e indignação.

Ele não retribui e eu me afasto com meu coração em pedaços.

— Pronto, agora a escolha e o problema é todo seu. Quer o meu cabelo pra sustentar sua desculpa? Leva. Quer que eu cuspa pra você também? Eu faço. Só some da minha frente!

— Eu não quis culpar você e sinto muito pelo que te aconteceu...

Não fico ouvindo ele falar, suas palavras não me interessam mais.

Me tranco no banheiro e me sento no chão, sinto como se meu coração tivesse sido golpeado e de certa forma eu sei que foi.

Comprada sem razões Onde histórias criam vida. Descubra agora