Mesmo não querendo, fui dormir arrasada, eu devo confessar que nutri esperanças com Peter e a única culpada desse sofrimento todo sou eu. Eu só pensei que seria legal ter uma família com ele, fazer parte de algo, mas em momento nenhum ele me prometeu isso.
Eu devia saber que estava tudo bom demais para ser algo meu.
Aquele homem é rico, bonito, gentil quando quer, bom com crianças, é poderoso no que faz. As mulheres que ele deseja devem estar à altura dele e eu, eu sempre fui rejeitada por todos, não sei o que me fez pensar que com ele seria diferente.
Tomo um banho gelado, mesmo com o frio horrendo, a água me faz ficar mais desperta e me lembra que eu já superei coisas muito piores, só estou aqui hoje porque eu nunca parei de lutar e me levantei sempre que me derrubaram, não vai ser um homem que vai me deixar no chão agora.
Desço para mesa e vou tomar meu café, coloco um sorriso no rosto, que mesmo falso, dá pra disfarçar minha recente desilusão.
— Bom dia. — Digo a todos "animada".
Enquanto comemos, todos estão em silêncio, algo muito suspeito nessa casa. Os dois pequenos não param de se encarar; meu quarteto preferido, trocam olhares a todo momento, os únicos alheios a tudo são Peter e Claire.
— Celi, onde você foi ontem? Do nada você sumiu. — Claire me pergunta focada em terminar seu leite.
Lembro da desculpa de Adriana e resolvo usá-la.
— Adriana precisava pegar um papel sobre o trabalho da... família e eu fui com ela. — Espero que ninguém note que gaguejei e continuo comendo.
Do nada todos param o que estão fazendo devido a um alto barulho de talheres batendo contra o prato. Adriana, que está com os olhos inundados, se levanta e me olha fixamente.
Não sei o que está acontecendo, mas a menina parece muito chateada comigo.
— Como descobriu!? — Ela grita. — Não era pra contar. — Depois de sussurrar a última parte, ela sobe correndo as escadas.
Ninguém está entendendo nada, inclusive eu. Mas como nenhuma alma viva se move em direção ao problema, decido ir verificar. Levanto e vou em direção ao quarto da pequena.
Chegando lá a porta do quarto está escancarada e não a vejo em lugar nenhum, como ouço seu choro baixo, sei que ela está aqui.
E lá está ela, sentada ao lado da cama, encolhida, abraçando suas pernas.
Sento do lado dela e a abraço, ela nem sai da posição para olhar pra mim, ela parece estar sofrendo, está muito agoniada. Ver minha alegre e doida garotinha assim parte o meu coração de um jeito muito doloroso.
— Não quero falar. — Ela avisa tão baixo que quase não consigo ouvir.
— Tudo bem. Eu vou ficar aqui para você não ficar sozinha. — Com minhas palavras suaves, ela chora mais do que antes.
Fico abraçando-a até ela levantar a cabeça para me olhar, seus olhos estão vermelhos e ela parece cansada, o que pode estar a fazendo sofrer tanto?
— Como você soube do trabalho e por que contou pra todo mundo? — Ela parece tão magoada.
— Eu só falei o que você disse pro Peter ontem, que trabalho é esse que te deixou tão triste assim? — Vou alisando seu cabelo até que ela crie coragem pra me contar.
Adriana rasteja até debaixo da cama e puxa um papel que havia deixado por lá, o que tem nisso que ela sentiu a necessidade de esconder?
Me entrega o papel com medo e volta a posição que estava quando a encontrei. Olho o papel e me parece uma atividade bem simples, ela destaca um título e embaixo tem uma árvore bem ramificada, a árvore é para colocar o seu nome no tronco e o nome dos seus parentes nos galhos, é uma árvore genealógica.
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Comprada sem razões
RomanceCelina é uma menina, que muito cedo deixou de ser criança, sem pais, deixada a mercê de uma mulher questionável na infância, teve que aprender a sobreviver chamando o mínimo de atenção possível. Ela não teria porque ficar ali se não fosse as demais...