Eu chego em casa e sei que preciso tomar banho, me sinto suja, imunda. Porém, tem um problema, eu não quero subir sozinha, não consigo, é ridículo, mas estou com medo.
Maria acaba de chegar com algumas sacolas que acredito ser a ração de Raje, Jack está conversando com ela. Espero até que ele sair e vou até ela, isso é uma das coisas mais humilhantes que tenho que fazer na vida, abaixo a cabeça e sem olhar, peço o favor bem baixinho.
— A senhora poderia subir comigo e me esperar até eu tomar banho? Por favor. — Estou com lagrimas nos olhos, lágrimas de raiva, raiva por ser obrigada a fazer isso, raiva por ter que sentir isso, raiva de mim.
— Claro, vamos lá. Você nem precisa me pedir e depois do banho vou trazer um docinho com chá para te animar. Vamos, vamos lá. — Sua voz animada não esconde suas rugas de preocupação pelo rosto.
Entro no banheiro enquanto Maria fica sentada em uma das poltronas com uma revista na mão, ela lê os artigos em voz alta para que eu possa ouvir sua presença. Enquanto vou tirando minhas roupas, minhas lágrimas vão se intensificando.
Sou tão inútil que não posso tirar minha própria roupa.
Decido tomar banho de calcinha e sutiã já que não consigo ficar totalmente nua.
Ao entrar no box, o alto som do chuveiro abafa os sons dos meus soluços agonizantes. Eu não consigo me sustentar, então caio de joelhos e me sento sobre minhas pernas.
Eu quero gritar, quero me machucar, quero fazer isso parar.
Com minhas mãos tampando meus ouvidos, aperto o mais forte que consigo a minha cabeça. Não sei se estou em um silêncio absoluto ou se é meu grito que está sendo proferido há tanto tempo que eu não consigo nem ouvi-lo mais.
Nada disso adianta, não adianta, as vozes, as imagens e as sensações estão passando aqui dentro e nada que eu faça vai para-las.
Eu só conheço um jeito de para-las.
Eu respiro fundo, apenas continuo respirando e tento parar de pensar.
Começo a me esfregar com a bucha o mais forte que posso até que a sensação de sujeira de lugar a ardência, então paro. Eu estou farta, não aguento mais isso, não é justo que pessoas que nem estão mais ao meu lado possam continuar me machucando.
Não é justo.
Eu preciso que isso passe, bem dentro do armário eu sei que tem uma gilete nova, com uma lâmina nova, minhas mãos começas a tremer e meus olhos, que não tem mais lágrimas para poder derramar, ardem como meu corpo.
Seria rápido e fácil, então tudo aí embora.
Fico parada um bom tempo olhando para a porta do armário, respiro fundo, fecho os olhos e me abraço. Penso que esse abraço é de alguém que me ama muito e essa pessoa me diz para continuar lutando essa batalha porque a guerra eu já ganhei.
Eu já ganhei a guerra, eu não sou mais uma menina indefesa e não estou sozinha no mundo. Só tenho que vencer essa última batalha, preciso tirar os fantasmas que estão dentro de mim, porque os reais eu já derrotei.
Respiro fundo uma última vez, enxáguo meu rosto e desligo o chuveiro.
Saio porta a fora e estou tão alheia que me esqueço até de me enxugar.
— Vem cá menina, vamos trocar essa roupa, coloca essas peças e eu vou escolher um pijama quentinho pra você. Você quer que eu te ajude a se secar? — Rapidamente nego com a cabeça, não quero ninguém me tocando.
Os olhos dela estão tristes e parece ter chorado, será que ela me ouviu? Espero que não.
Tiro a roupa íntima molhada e coloco outras, Maria aparece então com um pijama felpudo de florzinha e me faz colocá-lo, ela também pega um pente e vem pentear meu cabelo enquanto estou sentada na cama.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Comprada sem razões
Любовные романыCelina é uma menina, que muito cedo deixou de ser criança, sem pais, deixada a mercê de uma mulher questionável na infância, teve que aprender a sobreviver chamando o mínimo de atenção possível. Ela não teria porque ficar ali se não fosse as demais...