— Bom dia, meu amor. — Acordo com um sorriso nos lábios ao ouvir isso.
Não posso acreditar que estou nua junto com outra pessoa e estou confortável com isso, esse sentimento é libertador. Peter intensifica seu aperto em mim e eu amo ver o contraste da sua pele com a minha.
Dou uma risada barulhenta ganhando toda sua atenção. Não que eu já não tivesse.
— Não acredito que pensou que éramos irmãos, você é super branquelo. — Ele ri bem rente ao meu ouvido, fazendo o meu corpo acordar.
— Eu não sou tão branquelo assim. — Ele é quase transparente.
— Você não toma sol, Peter, você é branquelo. Meu branquelo. — Tento virar para o outro lado para poder encará-lo, mas ele me fixa fortemente nessa posição para continuar me abraçando por trás.
— Em minha defesa eu moro na Suécia, não tem muito sol por aqui. — Ele tem razão.
Ficamos nesse abraço por um tempo enquanto Peter insiste em fazer círculos sobre o meu abdome, sinto que ele está sorrindo contra o meu pescoço e começo a sorrir também.
— Por que está sorrindo? — Eu questiono.
— Você já se imaginou grávida? — Meu corpo todo se enrijece e meu sorriso morre.
Eu não posso ter outro filho, não quando abandonei os que tinha, eu não quero isso.
— Eu disse algo errado?... — Não respondo, não sei o que responder, na verdade. — Não estou falando que quero isso, Celina... não é como se eu fosse ser um bom pai com as experiências que tive, eu sei...
Isso está indo para o lugar errado, não tem nada a ver com ele.
— Não é isso, Peter, você seria um ótimo pai. Você meio que já é pra essas crianças daqui, não tem nada a ver com você. — Minha voz sai com dificuldade.
— Tem a ver com aquela música triste que você canta às vezes?
— Que música?
— Aquela que tem um anjo e uma rua, algo assim.— Como ele sabe dessa música?
— Se essa rua fosse minha. Como sabe o que fala na música?
— Assim que me confirmaram que você estava vindo pra cá, eu comecei a fazer aulas de português, depois de todo esse tempo, eu sei o básico.
— Por que nunca me disse?
— Bem, você chegou falando inglês, então não havia necessidade. Mas é pela música? — Respiro fundo, receosa.
Eu canto essa música quando sinto saudade deles, não sabia que ele podia entender. Falar sobre isso é como esmagar meu coração, mas ontem ele me disse tudo e eu quero que ele saiba tudo sobre mim também.
— Essa música é a razão de eu estar aqui.— Não demora nem essa frase toda para as lágrimas caírem.— Quando eu era adolescente uma mulher deixou na porta de casa dois irmãos que decidi cuidar porque não queria que nada do que aconteceu comigo, acontecesse com eles, eles eram os irmãos que eu não tive, nós nos divertíamos à beça e eles sempre eram compreensivos e me ajudavam... mas teve um dia que outra moça deixou uma garotinha, bem pequenininha e eu a peguei achando que seria o mesmo... mas não foi, ela era totalmente dependente de mim e aí... aí ela me chamou de mamãe e eu soube que ela teria meu coração para sempre, eu prometi que faria qualquer coisa por ela...
— Qual o nome dela?
— Eduarda... e como se não bastasse a Duda, me entregaram uma bebê, uma bebezinha bem forte que se grudou a vida e ficou me esperando no frio até que eu pudesse pegá-la. Eles estavam passando fome, Peter, estavam correndo perigo e eu tinha essa oportunidade de ajudar meus irmãos e minhas filhas, então eu coloquei a minha foto nesse site, os monstros que viviam comigo pegaram metade do dinheiro e o resto eu deixei com uma vizinha para que ela cuidasse deles...
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Comprada sem razões
RomanceCelina é uma menina, que muito cedo deixou de ser criança, sem pais, deixada a mercê de uma mulher questionável na infância, teve que aprender a sobreviver chamando o mínimo de atenção possível. Ela não teria porque ficar ali se não fosse as demais...