A semana passa e o dia de Peter e eu termos aquela conversa nunca chega, hoje já é sexta e eu realmente não quero insistir nisso, mas isso está nublando minha mente e me fazendo, cada vez mais, ter os piores pensamentos.
Estou me torturando, meu cérebro está tirando o melhor de todos os momentos que vivencio, ele para de prestar atenção e me faz visualizar outra teoria maluca a cada minuto do dia.
É cansativo e frustrante.
Hoje é um dia atípico, o pessoal mais velho aqui de casa irá voltar na hora do almoço, ontem foi o dia da conclusão de algumas matérias e hoje eles pegam as notas e tiram a tarde de folga.
Assim que a porta bate eu sei que tem algo muito errado, todos os quatro primeiros que entram estão normais, mas aí vem Josie que se joga no sofá e parece que está prestes a ter um surto.
Sua cara está vermelha e seus olhos inundados, não sei se devo perguntar, parece não ser o certo, porém não me aguento.
— O que foi, Josie? — Nesse momento recebo olhares feios de todos na sala, inclusive Peter.
— O que foi? O QUE FOI!? É QUE EU SOU UMA IMBECIL QUE NÃO SABE MONTAR NA DROGA DE UM CAVALO E TIREI VERMELHO EM HIPISMO E COMO SE ISSO JÁ NÃO FOSSE HORRÍVEL AINDA QUASE ZEREI UMA MATÉRIA.
— Mas é só um bimestre, você pode recuperar no outro. — Ela começa a respirar com dificuldade e eu começo a ficar muito preocupada.
— EU QUERO QUE A RECUPERAÇÃO VÁ PRA PUTA QUE A PARIU! EU NÃO SOU ALGUÉM QUE VAI PRA RECUPERAÇÃO, não posso ser.— Ela aponta o dedo na cara do irmão e quando vai começar a falar, Peter pede para ela subir e descansar.
Acho que ela não ia dizer palavras agradáveis ao pobre John. Todos estão em silêncio quando ela começa a gritar, chorar e antes de subir faz questão de derrubar todas as decorações do balcão do hall no chão. Ela parece estar possuída.
— Não quero que ninguém vá falar com ela, deixa ela lá no quarto. — Peter fala para os demais assim que Josie sobe. — Celina, você pode sair comigo por um instante?
Como não estou fazendo nada e estou com medo de subir para enfrentar Josie, resolvo ir com Peter.
Ele entra no seu carro, o preto, aquele que ele menos usa, e eu o sigo me sentando no banco do carona.
— Não devia ter dito nada, Celina, não consegue simplesmente ignorar?
— Eu nunca a vi assim, o que aconteceu?
— Ela tirou notas baixas em uma das matérias, é quase sempre assim na entrega das notas. — Ele fala como se o assunto o cansasse profundamente.
— Mas ela é a mais estudiosa daqui, se ela tirou nota baixa de certo está com dificuldade, eu só não entendo todo aquele escândalo. — Peter suspira.
— Josie está em quase 50 matérias aqui, é impossível ir bem em todas.
— 50!? Peter isso é muita pressão, ela tem que sair de algumas porque...
— Impossível, já tentei e não dá, ela não vai sair. Esse é o jeito dela lidar com as coisas.
— Que coisas?
— Como eu posso explicar?... Jack, por exemplo, você já notou como ele não menti mesmo quando a coisa pode ofender alguém? — Faço um gesto de concordância. — Ele não consegue mentir. Só vou te contar isso porque ele disse que eu poderia, o pai de Jack sempre foi muito agressivo com ele, a mãe dele os abandonou e por isso o pai odeia a mãe. Sempre que Jack fazia algo parecido com a mãe, o pai batia nele, algo simples como o jeito de falar, o jeito de andar; então um dia Jack mentiu para o pai dele e ele apanhou tanto, mais tanto que ficou sem falar por uma semana...
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Comprada sem razões
RomanceCelina é uma menina, que muito cedo deixou de ser criança, sem pais, deixada a mercê de uma mulher questionável na infância, teve que aprender a sobreviver chamando o mínimo de atenção possível. Ela não teria porque ficar ali se não fosse as demais...