Capítulo 6

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Felizmente, Peter caminha até a porta para encostá-la e depois retorna ao meu lado, o que me deixa mais tranquila.

Nunca pensei que conseguiria ficar em uma sala sozinha com dois homens e me sentir tranquila, mas nesse caso acho que estou começando a confiar em Peter, ele nunca fez nada para me machucar e suas recentes ações confirmaram isso, mesmo com raiva ele não descontou em mim e isso quando a culpa era toda minha.

A consulta segue bem e depois de alguns exames o Dr. Stell comunica Peter.

— Sr. Andríc para prosseguir eu gostaria de falar com a sra. Andríc em particular, visto que farei algumas perguntas direcionadas apenas as pacientes femininas, não quero que ela se envergonhe.

O médico sorri e antes que Peter possa dar sua opinião, Eliza entra impaciente para dar a dela.

— Um médico homem Peter, jura? Qual é seu problema? — Ela o confronta e para parecer mais intimidadora até fica na ponta do pé, o que não causa nenhum efeito.

Andríc sem a mínima paciência, a segura com as duas mãos no ombro e diz para sair com ele que o médico terminará sozinho. Ela então me olha e eu não preciso dar nenhum sinal para que ela entenda que o que menos quero no momento é ficar sozinha.

— Não vou sair. Você se quiser pode ir, eu vou ficar bem aqui. — Indo em direção à cama de Andríc, ela se senta, cruza as pernas e olhando para o médico de forma desafiadora, ela acrescenta. — O sr. não vê problema algum, certo?

— Claro que não. — Ele responde sem graça.

Ele foi profissional e me perguntou sobre relações intimas e como afirmei não ser ativa sexualmente, ele não teve como abordar mais esse tópico comigo.

O quarto, que sempre teve o cheiro de amaciante em lençol recém lavado, agora tem cheiro de esparadrapo e coisas médicas.

Ao finalizar, ele me receita muitos medicamentos e convoca Peter, que acredito ter ficado no corredor todo o tempo, ele é informando que vou precisar tomar medicamento na veia por essa noite para uma melhora mais ágil.

— É isso, então ela logo-logo ficará novinha em folha. — O médico alisa meu rosto, algo que odeio, e sussurra. — Você foi uma ótima garota, Celina.

Paraliso. Tenho uma memória horrível com essa frase, não importando o idioma, uma memória que tento a muito custo esquecer e nesse momento é como se esse homem tivesse puxado o gatilho de uma arma que disparou essa lembrança, ela e a dor dela em mim.

Demoro a perceber que o médico já foi, olho ao redor e vejo que estamos apenas Eliza e eu no quarto.

— Decidi que quero ser sua amiga, sabe... não fui legal com você no início, mas quero ser sua amiga agora. — Ela diz do nada, evitando olhar diretamente para mim.

— Eu desejo também. — Digo qualquer coisa.

— Aquele homem nojento te disse algo que mexeu com você, o que foi?

— Foi algo que me despertou uma memória ruim da infância, não tive uma muito boa.

— Se é assim, bem vinda ao time. — Me sinto curiosa com suas palavras e pergunto se ela quer conversar sobre isso. — Você quer?

Ela devolve a pergunta e eu nego com a cabeça, há algumas coisas que são ruins demais para serem contadas.

— Posso fazer uma pergunta? Por que aceitou isso? Se casar com alguém do nada. — Ela questiona incrédula enquanto muda de posição para ficar totalmente de frente para mim.

— Sei que ama a Claire, e se vocês estivessem numa situação muito ruim e lhe oferecessem algo que tiraria ela disso, você pensaria duas vezes?

— Não.

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