Átimo

91 10 13
                                    

1. Período de tempo muito curto; momento breve; instante.

UMA SEMANA ATRÁS...

-Não, o arranjo de flores tem que combinar com as toalhas de mesa, isso já é certo.

Fergus estava conversando desde cedo com os organizadores da festa de noivado e também antecipando alguns assuntos da cerimônia, ele perambulava pelos cômodos com o telefone em uma mão e o gancho em outra, os fios estavam por toda a casa quase formando um emaranhado de nós. Em dado momento ele apareceu no quintal e ficou me olhando enquanto terminava de lixar uma tábua de madeira - se transformaria na nossa nova mesa de jantar -, mandei um beijo em sua direção e em resposta ganhei um sorriso infantil.

Havia feito uma faculdade de 5 anos na área de matemática com o intuito de me tornar professora - o que acabou não acontecendo -, mas decidi que queria esculpir e criar móveis, tive bastante apoio vindo do meu noivo e dos meus avôs que sempre queriam o meu melhor. Assim que eles morreram Fergus e eu passamos a morar na casa que foi passada como herança para mim, o imóvel era muito confortável, grande e prático. Nós dois dividimos as tarefas domésticas de acordo com o tempo que tínhamos ou não, como ele trabalhava mais de casa fazia mais coisas como, cuidar da limpeza e fazer as refeições - ao contrário de mim que não sei cozinhar -, já eu, faços os trabalhos braçais que normalmente um "homem" faria, corto a grama e conserto as coisas quando quebram, desde as lâmpadas até as telhas. Funciona bastante conosco, quase não brigamos em relação à organização do lar, até porque odiamos bagunça e sentimos que precisamos dessa ordem para que tudo aconteça como deve acontecer.

Eu amava como as lascas da lenha se desprendiam umas das outras, aquela era a minha paz, finalmente um hobbie de que não tinha me cansado. Trabalhar modelando matérias exigia uma habilidade e firmeza nas mãos que eu tinha como ninguém, e me perdia em uma profunda concentração desde o início até o fim do processo de configuração. No bairro eu era considerada uma excelente marceneira, nunca faltava trabalho e comecei quebrando uns galhos como "marido de aluguel" para os vizinhos, fazendo disso um meio de sustento e passei a ser chamada de "Esposa de Aluguel". Meu uniforme de serviço era um macacão jeans com pequenas listras folgado que deixava uma das alças sempre cair quando abaixava meu tronco, porém aquela era sem dúvidas a melhor roupa para se usar para atividades árduas e ainda me deixava mais confortável que qualquer outra peça para usar sem nada por cima, meus pequenos seios não me atrapalhavam em nada e por isso usualmente não vestia sutiãs ou blusas dentro de casa, mas quando tinha atendimento usava um top preto fosco - só para dizer que tinha algo tampando o bico do meu mamilo -, também usava uma bandana que era essencial para prender minhas tranças e evitava que dificultasse meu trabalho quando estava ocupada, a sandália que ganhei quando mais nova de Aurora não saia dos meus pés e mesmo alguns clientes meus tendo dito que era melhor usar um calçado fechado pelo fato de viver manuseando ferramentas perigosas - por mais que nunca tenha sofrido um acidente de trabalho -, porém gostava de carregar um pouco da juventude feliz que tive ao lado da minha melhor amiga.

Nós havíamos nos distanciado assim que ela saiu do país e foi estudar no exterior, ela avisou que iria? Não, mas na época a Sra. Tellei - mãe da Aurora - me explicou que era só mais um surto dos que ela tinha constantemente e em breve me escreveria, isso não aconteceu, portanto eu a escrevi milhares de cartas que nunca foram respondidas. Preferi acreditar que algo no endereço estava incorreto, as cartas podiam ter se perdido no meio do caminho ou quem sabe o lugar onde ela morava não tinha acesso ao sistema dos correios. Ela era bondosa e inocente demais para se afastar sem dar explicações e só 3 anos longe não afetariam nossa amizade. Quando ainda éramos adolescentes vivíamos falando que assim que fossemos pedidas em casamento correríamos para contar uma para a outra antes de qualquer um e eu fiz isso, um mês antes de Fergus fazer o pedido sua mãe me contou que Aurora tinha juntado um pouco de dinheiro e comprado um telefone residêncial igual o que a maioria tem, vi isso como uma oportunidade de voltarmos a nos comunicar, mas estava atolada de encomendas de um banco de cozinha e assim que vi aquele anel lindo na caixinha sob as mãos do meu então noivo nem hesitei em ligar para ela. E agora daqui algumas horas minha companhia favorita estará chegando na Nova Zelândia depois de quase 21 horas de voo, imagino o quão cansada ela deve estar.

ENTRE NÓS| ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora