Carta n° 09

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Querida Aurora...

A viagem foi longa, como você já sabe. Tinha um menino baixinho de óculos redondos maiores que os próprios olhos no voo que me acalmou durante a turbulência, ficamos conversando sobre os insetos da Austrália e sobre a época bizarra em que algumas cidades de lá ficam cobertas de teias gigantescas de aranha, isso me entreteu. Ainda não acostumei com a subida inicial do avião, que é quando as benditas rodas saem do chão e desaparecem, o mesmo em relação a descida que dá a sensação de que você vai desmaiar do nada.

Só que eu preciso te dizer que ir embora foi mais difícil do que pensei que seria. Fui para aí sem saber o que ia de nós, sem esperanças de que podia ser algo verdadeiro e admito que para mim era mais confortável ignorar o que houve lá no começo. Seria mais fácil, só você sabe como sou, eu gosto de arriscar, mesmo tendo um preço a pagar cedo ou tarde por isso. Não quis transformar nossa despedida em um drama, sei que você é mais sensível que eu, e te doeria em dobro me ver sofrer por ter que ir. Nós dançamos, conhecemos lugares, fomos à praia e acima de tudo curtimos a companhia uma da outra, foi como se o passado coabitasse o agora. A gente vive repetindo que determinado instante que passamos juntas no presente nos faz relembrar nossa juventude, mas é verdade, só consigo enxergar a Celine e a Aurora de antes em nós quando estamos nos juntamos. E por mais que não sejamos as mesmas, a essência nunca nos abandonou. Acho que a gente consegue se habituar com as manias uma da outra, vamos ter muito tempo para isso...

Em relação ao que você perguntou, quando cheguei em casa e desfiz minha mala encontrei ela, estava amarrotada, meio molhada e com resquícios de areia do jeito que você deixou. O seu cheiro e o do mar continuam no tecido mesmo depois da lavagem, Fergus tentou adicionar uma loção nova de lavanda que estava de promoção no mercado, em vão. Foi inevitável não vestir sua camisa, agora tenho mais um pouco de você aqui para recompensar a distância. O pano é leve e gelado, usei ela hoje no trabalho e Francis me olhou de forma estranha. Você contou alguma coisa para ela? Eu espero que não e que seja só coisa da minha cabeça, a última coisa que preciso é que minha vida desmorone agora. Eu sei que uma hora ou outra terei que contar para o Fergus, eu te prometi isso, só preciso que o momento certo chegue e até lá o nosso romance precisa ser discreto. Não paro de pensar em você... Me mantém informada, por favor. Obrigada por tornar as coisas melhores.

Toda sua, Celine...

Toda sua, Celine

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