1. Comparação entre uma coisa e outra, entre uma pessoa e outra, para buscar suas semelhanças e/ou diferenças; comparação.
-Escuta bem, Aurora, nós não temos nada uma com a outra! Nada, está entendendo bem? - Celine falou se levantando do chão e encaixando as alças da mochila nos ombros.
-Eu sei, porra! Para de repetir isso! Porque me dói saber que você está me testando. Testando qual é o meu maldito limite e até onde posso ir para ficarmos juntas. - Gritei enquanto balançava minha cabeça de um lado para o outro nervosa.
-Você não é exemplo! - Ela retrucou apontando um dos dedos na minha cara descendo os degraus. -Ou já se esqueceu que não parava de se esfregar naqueles dois? E quando perguntei sobre você e o cara da picape disse que não tinham nada. Você mentiu para mim mais uma vez! - Esbravejou dizendo pausadamente cada palavra.
-Quer falar mesmo de mentira? E a merda do segredo que você guardou do Fergus, em? - Indaguei fitando-a. -Você jura que ele é tão tonto ao ponto de não reconhecer o corpo da própria noiva num quadro? Para de mentir para você!
-Você me vê como um monstro sem emoções... - Celine sussurrou com uma postura cabisbaixa e em um tom mais sereno, revestido de mágoa. -Te testando? Não temos mais idade para joguinhos, por que eu faria isso?
De relance uma cena se reproduziu na minha mente, eu estava entorpecida ainda naquele bar, não queria desfrutar das sensações de um corpo sóbrio, não conseguia levar a situação a sério. A movimentação assíncrona dos rostos de Celine e de seu mais novo companheiro em meio a um beijo me dava asco e fazia minhas entranhas se revirarem como uma carne enfiada em ferro que girava sem parar meio às brasas respingando sangue no carvão. Os ombros largos que no passado a seguravam desapareceram, naquele momento eram curtos e curvados para frente, Aart não era boa pinta, muito menos sedutor, era só um imbecil metido a confiante e os olhos claros não eram os mesmos. Nunca foi sobre o Fergus ser melhor que eu, porque por mais que ele fosse ou não, eu nunca fui suficiente para ela, sequer uma opção, então era fácil me trocar por qualquer um, nunca foi difícil.
-Te dou toda a razão. Me diz, como eu deveria te ver? Idealizada? U-uma versão inocente e esquecida da primeira carta que te enviei antes de você destruir minhas expectativas que as mesmas foram alimentadas por você? - Gaguejei e senti uma gota gélida escapar do canto dos meus olhos. -Ou como a noiva arrependida que beijou a melhor amiga no jantar de noivado em cima da cama onde ela e o noivo dormiam? E que aliás, mesmo depois de meses ainda fantasia aquele dia e não se aguenta quando estou por perto. - Pausei engolindo um seco. -Qual versão sua você quer? Tenho exemplos bem recentes, como a noiva confusa que veio para outro continente só porque não conseguia parar de pensar em mim. Ou melhor, a que beijou um cara na minha frente depois de dizer que estava se esforçando para experimentar isso. V-você não está tentando nada! Só está destruindo o pouco que tinha. - A encarei em meio às lágrimas. -Você estava certa, Celine. Foi uma péssima ideia ter te enviado aquela última carta...
Me afastei no limiar, limpando meu rosto na blusa amarelada enquanto a via se aproximar da saída.
-Eu não vou te impedir de voltar para o Fergus... V-vocês formam um belo casal, aliás. - Comentei me acomodando na cadeira próxima a parede.
-Você quer que eu vá embora? - Celine questionou com uma feição entristecida e com uma das mãos sobre a maçaneta.
-Não, eu nunca disse isso. Foi você que ameaçou de ir. - Respondi desviando nossos olhares. -Eu te amo tanto que independente do que aconteça você sempre vai poder recorrer a mim. - Levantei meu rosto olhando para o nada.

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ENTRE NÓS| ⚢
RomanceUma série de cartas destinadas ao primeiro grande amor de Aurora. Cartas de amor, angústia, ira, boas e más lembranças. Seria o amor o único elemento capaz de sustentar relações? Seria o amor uma substância atemporal e isenta de interferências caus...