1. Inabilidade ou dificuldade em verbalizar emoções e expressar sentimentos.
Dois dias depois...
Pandora e eu tivemos uma conversa franca, objetiva, sem muitos detalhes e decidimos que nosso relacionamento não passaria de uma relação acadêmica, de professora e aluna, era para ter seguido assim, a não ser pela pequena queda de pressão que tive e o desmaio súbito, ela teve que me arrastar para dentro de casa e mesmo depois de acordar ficou preocupada com meu estado de saúde e permaneceu ali, cuidando de mim. Porém, o mais importante é que não houve nada mais que isso, nada de cunho romântico, Pandora acabou dormindo no sofá da sala e cozinhou o final de semana inteiro para mim - sua comida era um tanto quanto salgada e dentre outras críticas que tenho como uma expert no assunto, mas era feito com carinho -, passamos aquele domingo chuvoso todinho em casa juntas, sugeri para que não voltasse para casa por conta do tempo e então maratonamos uma série de filmes antigos que eu gostava, o que nos gerou uma imensa discussão sobre cinematográfica e indústria da cultura.
Já na segunda-feira me senti mais disposta e segui normalmente minha rotina, fiz torrada com pasta de abacate e tomate amassados misturados com bastante tempero e algumas folhas de coentro sobre, acompanhado por um café preto caseiro com leite de semente de melão. Alimentei Inácio, limpei a casa na parte da manhã, fiz yoga, passei mais algumas camadas de tinta no quadro que havia feito no sábado e passei verniz, planejei minhas aulas da semana e fui até o mecânico que estava há mais de 3 meses com a minha scooter que havia sido praticamente atropelada por um carro, mas felizmente, eu estava longe quando o acidente aconteceu. Almocei o resto da sopa que Pandora havia feito e acabei acrescentando algumas batatas para que sugasse o excesso do sal, saí de casa pontualmente para não enfrentar aquele trânsito de universitários nas calçadas e fui caminhando para o trabalho, no portão estava o porteiro/segurança com uma garrafa térmica que exalava um vapor quente - supus que era café.
-Bom dia, Sra.Tellei.
Valentim era um homem mais velho que eu, tinha cabelos loiros que ao se colidirem com a luz solar ficavam tão claros, mais tão claros que se tornam brancos quase tanto quanto ele - os alemães têm uma escassez de melanina gigantesca que chega me assustar - e as bochechas vermelhas mesmo num dia parcialmente nublado.
-Bom dia! Tudo bem? - Cumprimentei com as mãos dentro dos bolsos aquecidos do sobretudo rajado.
-Como sempre, minha filhinha deu os primeiros passos ontem, eu e minha esposa estamos felizes que só. - Disse ele com um semblante verdadeiro.
-Fico feliz por sua família estar bem, que continue assim. - O dei um tapinha nas costas passando pelo portão e o lançando um sorriso de orelha a orelha em forma de despedida.
Passei pela estátua que enfeitava a entrada da universidade e em todos esses anos aqui, como estudante e professora, nunca me dei o trabalho de perguntar quem era. O jardim estava sendo regado por aquelas pequenas mangueiras que ficam no chão, as flores pareciam que estavam mal cuidadas, provavelmente haviam deixado os regadores desligados no fim de semana, algumas ervas daninha se esgarranchavam nas flores e as que não estavam mortas precisavam ser podadas, eu conseguiria dar um jeito naquilo se fosse minha função, no entanto, me achariam mais estranha ainda. É esse um dos motivos principais pelo qual não passo muito tempo na sala de professores, entro quando chego para guardar meus pertences e só volto de novo para pegá-los, não tenho o hábito de conversar nada além de assuntos profissionais com meus colegas de trabalho, sou a mais nova deles e nesse período dando aula me sinto deslocada, quando decidi usar a área verde do campus como sala de aula houveram muitos murmúrios e surgiram dúvidas sobre minha didática, fiquei furiosa e como sempre não falei diretamente com ninguém, apenas chorei no banho. No entanto parei de me importar e sou preferida entre os estudantes que me tem em suas grades horárias, penso que meu relacionamento com eles seja melhor, porque faz menos tempo que saí dessa fase se comparado com os demais professores e sempre busco aperfeiçoar meus métodos.
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ENTRE NÓS| ⚢
RomanceUma série de cartas destinadas ao primeiro grande amor de Aurora. Cartas de amor, angústia, ira, boas e más lembranças. Seria o amor o único elemento capaz de sustentar relações? Seria o amor uma substância atemporal e isenta de interferências caus...