Parte 02: Serendipidade

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Batemos nossas taças uma na outra e demos um gole daquela bebida, o gosto era maravilhoso e a combinação de vinho branco com soda era incrível. Pandora tinha toda razão, eu havia amado sem dúvidas.

-Wow, isso é extremamente bom! - Disse apontando para o recipiente.

-Eu disse que você iria gostar.

-Estava certa. - Curvei meu tronco na sua direção encarando-a.

Meu cotovelo estava firmado no balcão, as pernas cruzadas, a taça em meio a minha boca e uma das minhas mãos entre os fios do meu cabelo. Pandora aproximou-se um pouco de mim com a cabeça caída de lado fitando-me enquanto acariciava a borda do recipiente onde seu drink estava.

-O que foi? - Perguntei tímida.

-Nada. - Ela retrucou virando o rosto. -Você é bonita para caralho, Aurora! - Um sorriso surgiu naqueles lábios pigmentados.

Bebemos mais três daquelas excepcionais bebidas e eu comecei a ficar um pouco alterada, fui perdendo aos poucos cada um dos sentidos, o primeiro foi o do rídiculo, porque meu tom de voz se elevava cada vez mais, não conseguia falar nada sem berrar e ria de qualquer coisa por mais besta que fosse, e meu erro foi não parar no quarto copo, havia uma taça ainda cheia nas minhas mãos e outra na de Pandora que ficava contando histórias engraçadas de propósito para me fazer rir. Podia sentir minhas bochechas quentes e com certeza estavam rubras, por conta do álcool e simplesmente do nada voltei a estar vestida com o meu sobretudo enquanto comia uma uva azeda e fazia careta, Pandora até registrou o momento com sua câmera fotográfica. Eu estava muito tonta, os barulhos estavam cada vez mais distantes e a música tocava bem alto nos meus ouvidos, me fazendo dançar no banco como se estivesse na pista.

-Quer voltar para lá? - Pandora perguntou meio bêbada também.

Sem enxergar para onde ela estava apontando fiz que sim com a cabeça, abrindo minha bolsa em seguida, apanhando rapidamente o meu isqueiro fluorescente com lantejoulas brilhantes e um baseado, pondo-o de canto da boca e seguidamente riscando a centelha daquele "pequeno lança-chamas" e levando aquela faísca de fogo até pontinha da seda, que fez uma massa de fumaça se formar e descer pela minha garganta, adentrando calmamente meus pulmões, a cannabis foi logo fazendo efeito e me tranquilizando. Levantei, encaixei o tabaco entre dois dedos separando ele dos meus lábios secos e exalando o vapor acinzentado que se espalhou pelo ambiente, em seguida segui Pandora.

Eu me sentia tranquila e poderosa, como se pudesse fazer tudo e nada era capaz de me parar. A canção passava um ar sensual que agora vinha de uma caixa do som e não mais da banda, não reparei para onde os músicos foram, mas enfim, as luzes que eram brancas haviam se tornado roxas e as pessoas tinham se multiplicado. Por um instante minha audição voltou a funcionar como se tivessem tirado a TV do zero e aumentado de uma vez só no cem.

Pandora e eu virávamos uma só quando o assunto era dança, nossos corpos estavam colados, meus dedos acariciavam sua face e depois desciam pelo seu pescoço, ela jogava sua cabeça para trás em resposta, o que deixava o resto mais a mostra e então era a vez das minhas mãos, que iam percorrendo suas curvas com as batidas da música e Pandora fazia o mesmo comigo, até chegar na minha nuca onde agarrava meu cabelo, chegando mais perto ainda e se esfregava em mim. Ainda com o cigarro entre os meus dentes exalei aquela fumaça pelo canto dos lábios que foi em direção a ela.

-Posso dar um trago? - Questionou com a boca próxima a minha.

-Abre a boca! - Ordenei.

Devagarzinho Pandora foi dando abertura e aquela expressão no seu rosto era de matar, mas me contive, levando o baseado entre os dedos e encaixando-o entre seus lábios que logo se fecharam. Voltamos a dançar e quando nos demos conta haviam dois caras sentados numa mesa no canto nos olhando, um tinha ombros largos e cabelos pretos ondulados, já o outro, era careca. Aproximei meu rosto do dela e sugeri que provocassemos eles por diversão - eu não estava batendo bem da cabeça definitivamente -, ela consentiu logo me dando as costas e começando a rebolar no meu colo descendo até o chão fazendo contato visual com ambos e tornando a ficar de pé repetindo o mesmo movimento algumas vezes, minhas mãos estavam encaixadas naquela cintura larga e beijava cuidadosamente seus ombros delicados de olhos fechados desfrutando daquele sentimento.

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