1. Mudança, transformação de caráter ou na maneira de pensar; motivado ou resultado de algum tipo de arrependimento.
-Como foi com a... - Pandora se perdeu na pergunta. - C-célia? Como foi com ela?
-É Celine - falei fitando-a antes de dar o primeiro gole no café espresso.
-Celine, isso. - Ela confirmou assentindo com a cabeça enquanto ajeitava os óculos escuros. - Como foi com ela? - Pandora repetiu.
-Foi bom. - Respondi virando de costa, deixando o copo revestido em bambu sobre a mesinha auxiliar e continuei pintando.
O silêncio ecoou pelos cantos do estúdio ainda vazio, com as paredes brancas e o chão encapado por um pano grande e lívido, não nos dava muitas opções do que fazer além de trabalhar. Assim que retornei recebi reclamações da faculdade e repentinamente fui convocada para uma reunião que anulava a minha permissão de prosseguir com a confecção da exposição, de acordo com o reitor ele recebeu denúncias de um aluno anonimamente - Tom Schmidt, eu sei bem - que eu estava usando de forma imprópria o local. Desde então convenci Pandora a alugarmos um estúdio temporário, porque por ela teríamos resolvido de outra maneira, só que vale mais a pena gastar um pouco de dinheiro do que eu ficar desempregada e ela ser expulsa.
-Onde está a Aurora faladeira? Que me contou quase tudo sobre ela da primeira vez que saímos juntas? - Ela indagou ajustando o volume do rádio.
-Isso é café - apontei para o recipiente sob a mesa. -Para que eu falasse precisava ser vinho ali ou qualquer merda com álcool. Você e Pierre já sabem muito sobre mim. - Terminei encarando-a.
-O que tem eu? - Pierre questionou mais ao fundo adentrando a porta com uma caixa azul em mãos.
-Ela não vai nos contar mais nada sobre a vida dela. - Pandora o respondeu.
Ele me olhou rapidamente e pude ver sua feição mudar, o sorriso descontraído se foi e as sobrancelhas grossas e acentuadas logo apareceram. Pierre abriu a caixa e lá estavam as bisnagas de tinta que nós havíamos pedido, Pandora e eu pegamos as nossas e eu o agradeci com um semblante fugaz, misturando algumas cores para formar os subtons.
-Eu gostei da casa minimalista... - Comentei em meio à quietude abaixando a altura da minha voz de acordo que a frase terminava.
-E ela vai largar do noivo quando? - Pandora perguntou arrastando o seu banco de rodinhas pela sala.
-C-como você sabe? - Surpresa virei na sua direção boquiaberta.
-Quem é que não percebeu aquele anel no dedo dela?!
-Por que você acha que Aart estava interessado nela, em? Ele tem uma coleção de anéis de casamento no porta-luvas do ônibus. - Pierre retrucou acendendo um cigarro com o tronco deitado no parapeito da janela. -Você deu sorte que Eni gostou de você e impediu que sua amiguinha ficasse sem o dela.
-Por que diabos aquele imbecil faz isso? - Indaguei levantando da cadeira e caminhando até ele.
-Aart sempre tenta levar a melhor, faz isso para se certificar que depois que os maridos baterem nele, ele ainda vai sair por cima - Pierre disse em meio a fumaça.
-Por que não me avisou? V-você sabia e não disse nada, ia deixar ele roubar ela? - Indaguei o encarando séria.
-Eu conheço você, Aurora, não ela. Meu compromisso é com você e não com a sua namoradinha.
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ENTRE NÓS| ⚢
RomanceUma série de cartas destinadas ao primeiro grande amor de Aurora. Cartas de amor, angústia, ira, boas e más lembranças. Seria o amor o único elemento capaz de sustentar relações? Seria o amor uma substância atemporal e isenta de interferências caus...