Empedernido

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1.Que não se deixa persuadir; inflexível, contumaz, insensível.

Um dia depois...

-Aurora foi quem te deu esse quadro? - Fergus indagou com a boca ainda cheia.

Algumas migalhas de pão estavam caídas fazendo um círculo imperfeito ao redor do prato dele e seus óculos meio embaçados por conta da temperatura do café quente não me deixavam olhá-lo nos olhos.

-Isso. - Respondi apanhando minha xícara, levantando e indo para trás do balcão.

-E ela está bem?

-Acho que sim. - Retruquei rolando os olhos.

-Sabe quem é a pessoa que ela pintou? - Mais uma pergunta.

-Olha, Fergus, eu não sei. - Dei uma pausa. -Sei lá. A Aurora não me disse. Você sabe como ela é... - Falei meio impaciente esfregando a bucha na porcelana.

-Tá, eu só perguntei. É que ele está pendurado na nossa sala e você não me falou nada sobre. - Ele limpou a boca num guardanapo, retirando seus óculos e os deixando sobre a mesa.

-Você está certo, a casa não é só minha, eu deveria ter te avisado. - Complementei abrindo a pia e enxugando a xícara.

Vi de relance Fergus esfregando as lentes no casaco amarelo de algodão e vindo na minha direção, higienizei minhas mãos enquanto tentava secar a pia. Segundos mais tarde ele enlaçou seus braços ao redor da minha cintura, acariciando meu ombro com o queixo em cima e a respiração calma.

-Não precisa ficar zangada, meu amor! Eu só pensei que poderia ser um presente para mim. - Fergus falou próximo ao meu ouvido. -Parece muito você, só que menos gostosa. - Ele selou seus lábios deixando um selinho no meu pescoço.

Dei uma risada baixa ainda virada de costas para ele enxugando minhas mãos em um pano velho. Depois me virei fazendo com que ficássemos frente a frente, olhei ele nos olhos e em seguida nos beijamos exageradamente.

Tinha apenas um dia que havia colocado a tela de Aurora pendurada na sala de estar, quando ela chegou achei melhor guardá-la e a esconder de Fergus até o final das nossas vidas, porém algo em mim recuou, eu não podia deixar uma parte dela esquecida atrás de algum móvel antigo, então o preguei na parede principal. A última carta dela chegou essa semana, mas ainda não abri, não parece correto continuar assim, mas não sei o que fazer...

Fergus afastou-se nos separando e sorrindo sem mostrar os dentes deixou um beijo estalado na minha testa.

-Quer ir para o centro comigo? Tenho que fazer compras e levar o carro na revisão. - Ele perguntou com o queixo agora no topo da minha cabeça.

-Não posso, tenho que terminar umas prateleiras. - Respondi com uma expressão de decepção.

-Que pena. - Fergus fez um biquinho infantil. -O que acha de fazermos algo especial hoje? - Sugeriu mudando de feição rapidamente.

-Como o quê? - Questionei com os braços em volta do seu pescoço, passando meus dedos entres seus fios de cabelo.

-Cerveja artesanal alemã. - Ele deu uma pausa beijando minha boca. -Abalone preto de jantar. - Fergus pausou novamente colando nossos lábios. -Jantar a luz de velas no quintal.

Abri um sorriso de orelha a orelha contente abraçando-o posteriormente.

-Eu posso arrumar a mesa. - Disse afastando aquelas mechas loiras do seu rosto o fitando nos olhos. -E a cama também. - O lancei um olhar malicioso com um sorriso de lado na face.

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