Aurora

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1. Os primeiros indícios de alguma coisa; começo.

Nem mesmo com o meu pessimismo exacerbado esse fim passaria pela minha cabeça. Mas como Pandora disse uma vez: "Esse foi sem dúvidas o final menos trágico dessa história". Quando ouvi isso, não acreditei que poderia ser verdade, porém era, agora consigo enxergar claramente.

Os finais sempre costumam ser dolorosos, não importa o quanto o meio tenha te feito sangrar - de maneira metafórica, óbvio. A verdade é que eles sempre trazem consigo o luto, como se algo realmente tivesse morrido dentro de você, mas lá no fundo você sente que essa sensação é temporária. As memórias por outro lado, não são, elas vão estar ali te acompanhando até o seu último suspiro.

Celine e eu somos só mais duas pessoas nesse mundo que não puderam ficar juntas. O amor não é tudo. O amor não faz ninguém ficar. O amor não pode ser obsessão. O amor não se esconde. O amor não é capaz de sustentar relações.

Nós precisávamos dar um fim para que pudéssemos começar novos capítulos.

-Bom, - falei dando um passo à frente com as duas mãos dentro dos bolsos fundos da minha calça bege de alfaiataria, carregando um sorriso largo entre os lábios - é um imenso prazer estar aqui. Tóquio era a cidade favorita do meu pai, então é muito nostálgico estar aqui... - Uma feição pensativa sobressaiu em minha face. -Quando me contataram para expor uma nova coleção de minha autoria aqui, eu não fazia ideia sobre o que iria se tratar - dei uma risada leve acompanhada por semblantes atenciosos dos que ali estavam. -Quem trabalha com arte sabe como é, não é você quem escolhe suas temáticas, é como se o pincél falasse por você em. Enfim - interrompi minha fala bebericando um pouco d'água -, hoje preparamos - segurei uma das mãos de Pandora -duas diferentes partes dessa exposição. Daquele lado - apontei para a direita -nomeamos aquela série de quadros de "Impressão", sendo ela uma mistura dos meus trabalhos com os da minha aluna e estagiária, Pandora Garibotti - a fitei com um sorriso amável, escutando alguns aplausos em seguida. -Já do lado esquerdo, temos obras somente minhas. O nome dessa coleção por enquanto será uma segredo, mais tarde vocês irão entender por si só como devem chamá-la - uma expressão de mistério dominou minha face.

-Eu e a Sra. Tellei esperamos que todos gostem e apreciem o nosso trabalho - Pandora disse com semblante gentil entre os lábios, gesticulando bastante com as mãos.

-Depois vamos abrir uma sessão de perguntas para que vocês possam se sentir mais conectados com nós duas - complementei vendo alguns grupos de pessoas se dividindo pela galeria em direção aos cantos onde as obras estavam.

-Ufa! - Pandora suspirou aliviada deixando seus ombros caírem um pouco -Não pensei que teriam muitas pessoas - ela sussurrou.

-Os ingressos esgotaram rápido - expliquei no mesmo tom de voz que ela.

-O que você acha Aurora? De nós duas darmos um passeio pela galeria? Nós trabalhamos tanto nesses últimos meses que nem deu tempo de admirarmos com tempo o trabalho uma da outra - Pandora sugeriu fitando os nossos arredores sobre aquele tablado.

-Claro, por que não? - Aceitei, acenando com a cabeça.

Descemos pelos poucos degraus ao lado de onde estávamos, indo em direção ao lado direito, ultrapassando algumas pessoas que apreciavam as telas em silêncio, com olhares de fascínio.

A primeira pintura era de Pandora, havia muitas técnicas aplicadas ali. Era uma paisagem densa de detalhes com cores sombrias, mostrando um barquinho e as profundezas do mar cheio de animais marinhos horrendos brigando entre si disputando a superfície.

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