O pai de Pierre nos apresentou oficialmente se mostrando orgulhoso pela carreira que o filho havia "escolhido" traçar. O garoto surpreendeu-se ao saber que eu e Lorenzo somos colegas de trabalho, conversamos um pouco ainda do lado de fora da casa e só alguns minutos depois Pierre colocou o carro para dentro junto com a minha moto.
-Vou te apresentar para todo mundo, tenho alguns amigos que são fãs do seu trabalho. - Sr.Galaretto falou com o braço ao redor dos meus ombros contente, por enquanto eu estava meio sem graça.
Fui apresentada a cada um ali presente, alguns ainda insistiam para que quando terminasse voltasse em suas mesas para que conversássemos um pouco mais, confesso que não tenho ideia de quantas pessoas estavam ali e com quantas falei. Um tempinho mais tarde estávamos na última mesa - aparentemente -, só havia idosas sentadas fofocando de algo que quando me viram começaram a falar mal da roupa que estava vestida, permanecia li escutando com um sorriso forçado sem mostrar os dentes e Lorenzo ao meu lado tentando aliviar a situação. Sem me demorar muito ali acabei afastando-me e indo em direção a Pierre que estava arrastando minha scooter até o que parecia ser uma garagem, caminhei na sua direção com uma das mãos enfiada no bolso e outra segurando o cabelo atrás da orelha.
-Olha você aí, vejo que já conheceu metade da minha família. - Ele disse fitando-me. -Você é famosa, por acaso?
-Não muito. Sou artista. Crio telas. - Respondi aproximando-me do meu veículo.
-Pinta o quê? - Pierre parou de empurrá-la e agora estávamos mais próximos um do outro.
-Um pouco de tudo. - Iria permanecer quieta só com aquela breve resposta, mas algo em mim clamou pela verdade. - Porém, oitenta por cento dos meus quadros são sobre alguém. - Abri o compartimento traseiro da minha moto, apanhando em seguida minha bolsa e o fechando logo depois.
-Vocês artistas são assim, se apaixonam ou se decepcionam e fazem os sentimentos bons ou ruins se tornarem arte. - Pierre passou os dedos entre seus cachos castanhos e respirou fundo. -Já eu, mero mortal, quando me fodo, independente de ter terminado ou começado uma relação só encho a cara em qualquer boteco sujo por aí.
Deslizei o zíper da bolsa enquanto levantava meus ombros de maneira brusca e selava meus lábios com as sobrancelhas levantadas, enfiei minha mão lá no fundo procurando por dois belos objetos que juntos eram perfeitos, então quando finalmente encontrei minha caixinha fria de metal a apanhei e fechando a bolsa em seguida.
-Os artistas também têm vícios, o meu é beber vinho toda noite. - Falei abrindo a caixa prata, apanhando um baseado e meu isqueiro decorado.
-Beber vinho? Porra, Aurora, eu sou itáliano! Toda hora é hora de beber vinho! - Pierre retrucou dando-me um empurrão de leve enquanto gargalhava.
Cambaleei um pouco depois, mas me recompus formando um musical de risadas onde ele era a minha dupla. Prendi o cigarro entre meus dentes e o ascendi.
-Já está na hora. - Ele disse me cutucando.
-Do quê? - Indaguei confusa com a testa franzida tragando aquela massa acizentada.
-HORA DO VINHO! - Pierre gritou tão alto que as demais pessoas o escutaram berrando em seguida a mesma coisa.
"Esses italianos."
Fomos andando lado a lado até o aglomerado de pessoas que agora estavam com suas taças erguidas esperando Sr.Galaretto e sua esposa pegarem os vinhos. Algum tempo depois todos estavam com aquele líquido cor de sangue em seus recipientes, até realizaram um brinde em comemoração a volta de Pierre que teve que fazer um discurso dizendo o quão grato era a família por ser tão bem acolhido e dentre outras coisas. A gente se afastou do amontoado de gente com duas garrafas lacradas, nossas taças cheias, uma tábua de queijos e petiscos veganos que a mãe dele fez para nós - e agora eu entendo o porque Lorenzo achava que íamos nos dar bem - e um radinho que Pierre roubou de uma das mesas, o mesmo sugeriu que fossemos a um lugar que dizendo ele eu ia gostar. Ultrapassamos as cercas e fomos caminhando um pouco enquanto o sol ia enfraquecendo até uma espécie de lagoa verde esmeralda.

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ENTRE NÓS| ⚢
Любовные романыUma série de cartas destinadas ao primeiro grande amor de Aurora. Cartas de amor, angústia, ira, boas e más lembranças. Seria o amor o único elemento capaz de sustentar relações? Seria o amor uma substância atemporal e isenta de interferências caus...