Capítulo 80

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Martina

Acordei no outro dia com um barulho alto. Abri os olhos e vi que o Vitor tinha derrubado algo mas logo pegou.

— Desculpa te acordar, amor — disse com um celular na mão — Levantei e seu celular caiu.

— Tudo bem — bocejei — Que horas são?

— São... — ele ia falar a hora mas mudou a feição rapidamente — Martina que porra o Matheus tá te mandando mensagem? — me olhou com o celular na mão e eu sentei na cama rapidamente.

— Vitor — falei indo pegar meu celular mas ele se esquivou — Por favor...

— "Desculpa não ter atendido, quer conversar agora?" — falou lendo do meu celular e eu sai da cama pra pegar da mão dele.

— Vitor! — arranquei de sua mão e ele cruzou os braços me encarando — Caralho mano, deixa de ser louco. E não vem querer surtar.

— Martina porque cê não me disse nada? Não gosto que me escondam as coisas — falou irritado e eu suspirei.

— Puta merda, não é nada demais! E não preciso te informar de tudo que eu faço na minha vida, né? Você não tem nada que ver com isso. — ele riu sem humor.

— Eu não tenho nada que ver com isso? Esse cara te fez de otaria e eu tava lá pra você, sempre tento te defender dessas coisas e quero só o seu bem, e você diz que eu não tenho nada que ver? — deu uns passos pra trás passando a mão na barba — Então liga pra ele, conversem e criem um vínculo de novo. Mas se ele te enganar mais uma vez eu que não vou ajudar.

— Que mané criar vínculo Vitor, para de viajar! Podia ser algo importante e eu queria saber sim. Se fosse você também ia querer, ainda mais sabendo que temos a mesma vó e que por causa do problema que ela tem pode estar morta e eu não sei — falei brava e ele relaxou o rosto ainda me olhando — Esse seu ciúme, seus surtos, estragam tudo Vitor. Sempre isso. E por mais que eu te ame pra caralho isso cansa, e me irrita profundamente. Se você ainda quer me ter como sua namorada trabalhe com isso! — acabei cuspindo as palavras na sua cara e dei as costas indo trocar de roupa.

— Porra, Martina — falou ainda parado enquanto tirava sua camisa e botava minhas roupas. Não falei nada e ficou um silêncio ruim — Ce sabe que eu me preocupo e sou desse jeito. Sei que é ruim e você não é a primeira que reclama, mas é difícil pô.

Continuei calada terminando de me vestir e assim que peguei meu celular sai andando até a porta. Percebi que ele nem veio atrás e eu voltei pra casa.

— Puts o que rolou? — Maju tava no sofá tomando algo na xícara e pelo jeito escutou tudo.

Eu estava derrotada e precisava de um banho. Sete e meia da manhã e eu já passando raiva.

— Surtos do Vitor — falei indo lá pra dentro.

— Por que não deu um chá? — ela disse me fazendo dar uma risadinha e fui pro meu quarto. Tomei um banho e me arrumei, fiquei na minha cama um pouco pra ver o celular e entraria mais tarde na aula.

✉️
Matheus: Tina, tá acordada? (02:10)
Matheus: Desculpa não ter atendido, quer conversar agora?
Martina: Oi (08:09)
Martina: Não devia ter ligado
Martina: Diz logo o que tem pra falar
Matheus: Na hora do almoço eu te procuro
Martina: Porra Matheus
Matheus: Pessoalmente Tina, isso que eu peço
Martina: Se você estiver me fazendo de idiota...
Matheus: Não tô caralho
Matheus: Confia
Martina: Quer mesmo falar sobre confiar?
Matheus: Meio dia
Martina: 👍🏻

Sai de casa pra ir pra aula mas antes passei na cafeteria pegar um pastel porque estava morta de fome.

— Oi! — escutei uma voz feminina do meu lado e olhei meio assustada — Cê lembra de mim?

— Oi — dei um sorriso simpático vendo ser a menina que eu dei uma força no banheiro do bar aquela vez — Lembro sim. Duda né?

— Isso — se aproximou de mim — Que coincidência a gente se encontrar aqui — deu uma mordida na nega maluca.

— Pois é, mas logo tenho que ir pra aula — comecei a comer meu pastel e tomei uns goles de chocolate quente.

— Você é da Unip? — perguntou e eu concordei enquanto comia —Tambem vou entrar daqui a pouco, podemos ir juntas.

— Sim sim, pode ser — falei já pegando o dinheiro da minha mochila, estava achando isso meio estranho.

Fomos pagar o lanche e logo saímos em direção a faculdade. Conversamos sobre umas coisas aleatórias e ela era bem doidinha. Nos dividimos já que nossas salas ficavam de lados opostos e ela logo sumiu da minha vista, até seria bom eu fazer mais amizades, meu círculo de amigos parece até que tava diminuindo.

Eu estava na aula mas estava com a cabeça longe, não havia mais falado com o Vitor e nem me preocupei em ver o celular. Quando eu acho que minha vida tá mil maravilhas tudo desanda.

Deu meio dia e pouquinho e eu desci pra encontrar o Matheus, não estava com um sentimento bom e com certeza não era a coisa certa. Quando sai avistei o Matheus de um lado encostado na parede, mas quando olhei pro outro vi de longe o Vitor vindo.
Que ódio...

Fingi que não vi o Vitor e fui rapidamente até o Matheus, o puxando pra um canto que não era muito visto.

— Fala — disse apressada e estávamos bem pertos um do outro, meu coração chegava a estar acelerado.

— A vó, Tina — desviou o olhar pra baixo e eu sabia que era isso — Faz umas semanas que ela faleceu — senti uma dor forte no peito e ele logo ergueu a cabeça fazendo eu ver seus olhos marejados.

— Sinto muito, Matheus — falei sentindo um buraco enorme no coração e logo passou um filme na minha cabeça dos meus momentos com ela. Senti meus olhos queimarem mas não cheguei a chorar  — Vai ser difícil superar, ela era tão boa...

— Ela era — se encostou na parede e voltou a olhar pra baixo — Desculpa ter feito tudo isso pra você vir aqui, mas eu tinha que falar pessoalmente.

— Relaxa, eu entendo — o olhei enquanto o sol batia em meu rosto e ele me olhou de novo, dessa vez mais fundo.

— Me desculpa por tudo que eu te fiz, Martina — sabia que ele ia começar — Você e a vó eram as melhores coisas que eu tinha e eu perdi as duas. E não precisa falar nada, nem me perdoar, fui um filho da puta e só quero que você seja feliz. Com ou sem eu na sua vida — senti verdade no seu olhar e apenas concordei com a cabeça dando um pequeno sorrisinho.

Sai andando e esqueci completamente que o Vitor estava indo ali me esperar, então assim que sai daquele cantinho ele me avistou e avistou o Matheus saindo atrás de mim. Fudeu bonito.

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