Capítulo 89

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Renata

Saber que há um serzinho dentro de mim me deixava louca. Era um misto de emoções, jamais imaginei ser mãe com essa idade e ainda mais ter um filho com o Miguel. Mas querendo ou não eu tinha que estar preparada, e acho que estava.

Depois de eu anunciar foi choro e choro com o pessoal, que momento foda. Só queria ver se meu pai ainda estivesse aqui, com certeza iria me botar pra fora de casa, mais uma vez... Graças a Deus eu tenho o Cadu, que sempre salvou minha vida. Se não fosse por ele, aos 15 anos eu já nem estaria mais aqui. Era meu Porto Seguro, e falando nele aproveitei pra mandar mensagem.

💬
Renata: Perdeu a melhor janta
Renata: Tenho novidades
Cadu: Foi mal Re
Cadu: Acho que tô meio doente
Renata: Puts, quer q eu vá pra casa?
Cadu: Não precisa, me viro
Cadu: Aproveita ai
Renata: Se cuida bb
Cadu: ❤️

Ele estava muito estranho, parecia que estava perdendo o seu brilho. Mas não sabia bem o que era, se era só uma fase, ou se eu estava viajando mesmo. Vi a Maju aérea enquanto o pessoal conversava e a chamei com a mão.

— Oi amor — veio até mim.

— Meu irmão tá meio mal em casa, quer fazer uma surpresa pra ele? — tirei a chave do meu bolso e mostrei pra ela.

— Sera que é uma boa? Ele nem quer me ver.

— Você não sabe, Maria. E ele anda muito sozinho, ia gostar de companhia — ela pareceu pensar e deu um sorrisinho pegando a chave da minha mão.

— Se der errado a culpa é sua — brincou e eu ri.

— Não vai dar — beijei seu rosto rapidamente e ela saiu.

Maju

Peguei a chave com a Renata e pedi um Uber. Sim, tudo isso pra ir ver um cara que eu nem sei se quer saber de mim. Mas fodase, ia do mesmo jeito. Uber me deixou lá e assim que paguei parei em frente a casa dos Bertoldo. Nem pensei muito e fui entrando.

Quando fui destrancar o portão vi que já estava aberto então fui até a porta que estava fechada. Abri a mesma e a luz da cozinha e de algum quarto iluminava a casa, encostei a porta e comecei a andar devagar.

— Cadu? — o chamei mas não falei tão alto, não tive resposta. Passei pelo quarto da Renata e quando cheguei no outro quarto a porta estava aberta, e vi o que não queria.

Cadu estava dormindo com alguém em sua cama, com a luz da janela e dos celulares que ligavam devido as notificações consegui ver que era uma menina loira. Que maravilha.

Eu estava que nem uma assombração na porta do quarto e vi que o Cadu levantou a cabeça, tentando olhar o que estava acontecendo. Ao me ver ele levantou rápido e veio até a mim, achando que eu era um ladrão ou algo assim. No impulso eu fui pra trás com tudo e grudei na parede, e ele veio pronto pra me atacar mas parou assim que chegou perto. Parando em minha frente.

— Júlia? — falou e eu engoli seco. — Mas que porra?

— Desculpa Cadu, de verdade — falei enquanto ele passava as mãos nos olhos pra acordar — A ideia nem foi minha, não deveria ter vindo.

— É, também acho que não — falou e aquilo doeu em mim — Por que veio?

— Não é óbvio? — o olhei nos olhos — Vim te ver, soube que você tava mal.

— Grande ideia, Renata — ele disse — Valeu por ter vindo, mas tô bem. — disse e olhou pra trás pra ver se a menina ainda dormia.

— Por que tá tão grosso comigo? — perguntei e ele suspirou antes de me puxar pela mão até a sala — Você ficou comigo e sumiu.

— Agora você sente o que eu senti? — parou de frente pra mim.

— Não posso acreditar que você fez tudo isso só pra ver eu ir atrás de você.

— Eu não fiz nada, Maria Júlia. Para de achar que tudo gira em torno de você, porra — passou a mão na cabeça e eu engoli seco — Se eu fiquei com você foi porque eu quis, beleza? Passei um tempinho fora e já voltei, não tinha te prometido nada pelo o que eu saiba. E tô solteiro, né? — e minha cara foi no chão.

— Eu só queria te ver, seu idiota — falei me sentindo triste e ele percebeu — Pode voltar pra sua loira, vou embora.

— Eu não quis ser grosso desse jeito.

— Mas foi. Devia ter entendido que aquele beijo foi o último, vou seguir minha vida e é isso — dei as costas e ele não falou mais nada.

Não sabia o que eu realmente estava sentido. Ego abalado, coração apertado ou só uma decepção? A culpa também era minha, de certo modo. Então fodase, gastei em Uber pra nada e iria voltar a pé de madrugada pra casa do Miguel. Grande dia.

Depois de uns minutos caminhando eu cheguei e quando entrei a Renata me viu, e fez uma cara triste, balançando a cabeça negativamente. Eu fiz o mesmo e fui pra cozinha tomar alguma coisa.

— Tava aonde mulher? — Tina que estava na cozinha perguntou.

— Fazendo merda, nada fora do normal — me servi um copo de água e bebi.

— Ih, conta isso aí — se encostou na parede ao meu lado.

— Chutada pelo Cadu, amou? — ela fez uma cara surpresa e suspirou.

— Ai Maria, vocês são complicados — falou — Ele ta deixando de ser trouxa e você tá virando.

— Obrigada, fico feliz — riu e me deu um abraço se lado.

— Um dia vocês se resolvem, vai saber o que ainda vai acontecer.

— Nada, não vai acontecer nada — larguei o copo na pia.

— Então tá — falou com um sorrisinho debochado no rosto e eu a dei um empurrãozinho antes de voltar pra sala.

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