Capítulo 39

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VITOR

Sai do trabalho no fim dá tarde e tentei manter toda tranquilidade do mundo enquanto respondia as perguntas do meu pai sobre a Milena e a minha mãe. Se eu envolvesse ele iria ser pior. Cheguei em casa e fui direto tomar um banho pra relaxar, sai do box, coloquei um samba canção preto e fiquei sem camisa mesmo, escovei os dentes, passei desodorante e me atirei na cama. Eu tava mexendo no Insta até uma notificação da Milena aparecer, e eu tava torcendo pra não ser o que eu tava pensando.

Mensagem 💌
Milena: Vitor
Vitor: Oi Mi, o que aconteceu?
Milena: A mãe tá dizendo que eu tenho que passar uns dias aí com você, só que ela não me diz o porque
Milena: Ela tá estranha
Vitor: Vou aí te buscar, me espera pronta
Milena: Você sabe o que aconteceu?
Vitor: Só se arruma que eu tô indo
Milena: Tá...
💌

Levantei rápido e vesti uma blusa qualquer, coloquei uma calça jeans e calcei meu tênis. Passei meu perfume, ajeitei meu cabelo de qualquer jeito e peguei a chave indo às pressas pro elevador. Assim que ele abriu eu vi a Martina com a Maju e as duas que estavam rindo pararam assim que me viram.

- Vitor? Tá tudo bem? - a Tina perguntou saindo e eu entrei.

- Tá sim, só vou dar uma saída - falei deixando meu nervosismo visível e elas ficaram me olhando estranho até a porta do elevador fechar.

Fui pro estacionamento e destravei meu carro entrando no mesmo. Dirigi rápido até a casa da minha mãe enquanto meus pensamentos voavam. Assim que eu cheguei parei com o carro ali na frente e encarei bem aquela casa antes de entrar.

Apertei a campainha e quem abriu foi a Milena, que tava com uma expressão confusa no rosto.

- Oi, Vitor - minha mãe disse vindo lá de dentro.

- Mi, vai pro carro - falei passando a mão no seu ombro.

- Por que?

- Milena, vai - falei firme e ela bufou enquanto saia andando.

- Filho, ela pode ficar com você uns dias né? - minha mãe chegou perto de mim com os olhos meio vermelhos e a voz fraca.

- Óbvio que sim, ela pode morar lá comigo se ela quiser - falei - Mas é sério que você tá trocando seus dois filhos por um agressor filho da puta?

- Eu jamais vou trocar vocês dois, filho, vocês fazem parte de mim e sem vocês eu não sou nada - uma lágrima escorria em sua bochecha - Eu só quero a casa pra mim e pro Leandro pra eu acertar as coisas tá? Organizar tudo certinho, e pra isso a Mi não pode estar aqui. Eu juro que eu vou terminar com o Leandro, só preciso de um tempo - fiquei quieto por uns segundos enquanto encarava o chão.

- E se ele te bater de novo? E dessa vez ser mais grave? - falei.

- Ele não vai - limpou o rosto e veio mais perto de mim - Cuida da Milena, tá? Eu te amo - beijou meu rosto.

- Qualquer coisa você me liga - falei a olhando nos olhos - Eu ainda vou por esse cara atrás das grades, você vai ver.

- Pensa em você e na sua irmã por enquanto, vocês precisam se cuidar - penteou meu cabelo pra trás com a mão - Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Agora vai lá, Vitinho.

- Te amo, mãe - beijei sua testa e limpei a lágrima que rolava na sua bochecha antes de dar as costas e ir pro carro.

- Vitor, me conta o que tá acontecendo por favor - a Milena disse assim que eu sentei no banco e eu fechei os olhos tentando respirar fundo.

- Vamos tomar um açaí? - perguntei e ela me olhava com os braços cruzados.

- Não quero açaí, eu só quero saber o que tá acontecendo com a mamãe - falou e eu virei o rosto pro lado oposto dela enquanto meus olhos marejavam e meu peito apertava.

- Vamos pra casa então - suspirei e dei partida.

- Que saco - ela disse bufando e encostando a cabeça no banco - Por que eu tenho sempre que ficar de fora de tudo que acontece? Eu não sou criança.

- Você é criança sim, Milena. Fica quieta - falei passando do sinal vermelho.

- O sinal Vitor - falou e eu continuei dirigindo sem me importar - Eu tenho quase 18 anos, cara. Me conta por favor.

- Para de falar um pouco, Milena. Minha cabeça tá começando a doer.

- Para você de me tratar desse jeito, você é meu irmão, meu amigo, tem que me contar as cois...

- PARA DE FALAR - acabei gritando e passei raspando num carro que buzinou pra mim. A Milena foi um pouco pro lado e se encolheu sem falar mais nada.

- Desculpa - falou baixinho depois de um tempo com a cabeça encostada na janela e eu fui dirigindo mais devagar.

- Eu não queria ter gritado com você - falei chegando na rua do prédio.

- Eu só queria entender o que vocês tão passando, você e a mamãe estão diferentes - falou baixo - Não é por minha causa né?

- Não, pequena. Não tem nada a ver com você - abri o portão do prédio e entrei com o carro - Eu vou te contar, tá? Só espera um pouco.

- Tá.

Estacionei o carro e desci do mesmo enquanto a Milena pegava sua mochila e descia junto. Passei o braço pelos seus ombros e fomos andando juntos até o elevador. Chegamos no andar e eu abri a porta deixando ela entrar primeiro e a mesma foi andando até o meu quarto.

- Eu amo o seu quarto - ela deitou na cama com a mochila do lado e eu deitei do seu lado, apoiei a cabeça na mão e tirei os cabelos dela do rosto enquanto ela ficava de costas pra mim - Me conta? - me olhou.

- Conto.

Eu me ajeitei com ela na cama e comecei a falar. Ela tinha razão, não é mais bebê, não é mais criança e eu não iria esconder mais nada dela, ela também tem que saber das coisas e eu entendi isso de uma vez por todas.

- O Leandro? Bateu na mamãe? E quebrou um vaso na sua cabeça? - ela perguntou incrédula sentada de frente pra mim e eu concordei com a cabeça - Não... - colocou a mão na boca e seus olhos se encheram de lágrimas rapidamente.

- Eu não vou te deixar de fora de mais nada - segurei sua outra mão e apertei forte.

- E se ele fizer alguma coisa agora? Por que ela tá sozinha com ele? - falou com a voz embargada deixando as lágrimas descerem - Isso não pode estar acontecendo, Vitor - ela começou a chorar ainda mais e eu não suportava ver minha irmãzinha assim.

- Vem cá - puxei sua cabeça e deitei a mesma no meu peito, ela grudou seu corpo no meu e afundou o rosto no meu pescoço, continuando a chorar. Envolvi meus braços no seu corpo e a abracei forte, permitindo-me chorar também.

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