Capítulo 4

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- Foi impossível não reparar nessas tattos aí - ele disse perto do meu ouvido e confesso que fiquei um pouco arrepiada - Achei foda. Fez aonde?

- No Escobar, sabe? - falei e ele fez uma cara de quem sabia.

- Po, irmão de um parceiro que tá sempre com a gente. Daqui a pouco o Tiago chega - ele disse passando o dedo de leve no meu braço.

- Tem alguma? - falei alto pra ele ouvir - Ou o Biel tem o corpo limpinho? - falei fazendo ele rir.

- Tu acha mesmo, Martina? - falou erguendo a blusa e eu vi a lateral do seu abdômen com tatuagens grandes e bonitas, sem contar umas que havia no braço também - Sou fissurado, curto muito.

- Percebi - falei secando minha garrafa.

- Você mora com as duas meninas? - ele perguntou e eu peguei o copo da mão dele roubando um pouco.

- Só com a Maju - falei e ele riu de mim bebendo da vodka dele. O que eu estava fazendo? Também não sei.

- Bêbada de carteirinha que fala, né? - ele disse olhando pra mim com um sorriso.

- Falo nada - eu disse enquanto ria e meu celular vibrou no bolso.

Assim que eu li a mensagem que havia chegado meu sorriso se desfez na hora.

Mensagem ✉

Teus: Tina, você pode vir aqui em casa? Tô preocupado com a vó
Eu: O que aconteceu??
Teus: Ela tá piorando
Teus: E agora se fechou no quarto, não quer tomar os remédios que ela precisa
Teus: E você sabe que ela ama você e faz tudo que você diz, né
Eu: Tô indo Teus, ela é como uma vó pra mim
Teus: Te espero
Eu: Ok, daqui a pouco chego
Teus: Beleza

- O que tá pegando? - o Gabriel disse e eu bloqueei o celular.

- A vó de um amigo meu tá passando mal, vou ter que ir lá - falei colocando o cabelo atrás da orelha e arrumando as coisas na bolsa.

- Quer que eu te deixe lá? - ele perguntou.

- Não precisa Biel, sério. Aproveita aí - falei levantando e ele levantou junto.

- Para Martina, eu te levo - ele disse pegando minha mão e andando na minha frente e eu acabei cedendo - Não vai falar pras tuas amigas?

- Melhor não, deixa que elas se divirtam - falei passando pelas pessoas com ele até chegar no carro.

- Porra, foi o Vitor que trouxe a gente - ele disse coçando a cabeça e pegando o celular - Vou chamar ele.

- Não precisa Biel, já falei - eu disse parando de frente pra ele.

- Shh - falou olhando pro celular e fazendo eu rir fraco - Ele tá vindo - assenti.

- Por que cê não foi com a cara do Vitor? - ele perguntou.

- Ah, sei la... foi seco comigo - falei e ele riu.

- E aí, qual foi? - o Vitor apareceu com a chave na mão.

- A Martina precisa ir ver uma pessoa que tá mal, posso levar ela no seu carro? - ele perguntou pro Vitor que olhou bem pra minha cara como se enxergasse o meu interior e depois pro Biel.

- Claro - deu a chave pra ele - Depois vocês voltam, né?

- Eu não sei se eu vou voltar, mas o Biel só me deixa lá e vem - falei.

- Tá beleza, até depois - falou e deu as costas.

A gente entrou no carro e eu passei o endereço pro Biel, que arrancou o carro dali em segundos. Durante o caminho eu tava tão nervosa que mal falei com ele.

- Obrigada pela carona, Biel - dei um beijo no rosto dele e abri a porta.

- Quer mesmo que eu vá? Posso te esperar - ele disse e eu nem pensei duas vezes.

- Vai, nego. Vou ficar bem - falei dando um sorrisinho de confirmação e ele retribuiu.

Eu desci e fechei a porta, indo rápido até a porta e apertando a campainha. Acenei pro Gabriel e fiz um "vai" com a mão pra ele ir de uma vez.

- Tina - a voz do Matheus soou fraca assim que ele abriu a porta e eu entrei fechando a mesma e abraçando ele forte. Fechei os olhos e um silêncio profundo se instalou, a única coisa que eu ouvia era a respiração tensa dele - Ela tá no quarto ainda? - falei saindo do abraço.

- Tá - falou - Não quer tomar os remédios que são a vida dela, só quer dormir achando que vai adiantar.

- Dona Silvia não é fácil - falei andando até a cozinha porque eu conhecia bem a casa. Enchi um copo de água e pedi o remédio pro Matheus, que foi até o quarto dele buscar.

- Tá tudo aqui - me deu quatro pílulas e eu suspirei indo até o quarto da vó - Boa sorte com a criança.

- Fica quieto - falei rindo e bati na porta, entrando em seguida - Vó? É a Martina.

- Oi, Tina - ela disse deitada com a coberta até o pescoço e o abajur iluminando - Faz tempo que eu não te vejo, minha filha. Como você tá linda.

- Digo o mesmo - ri - Vó, você tem que tomar esses remédios - falei sentando na ponta da cama e ela gemeu parecendo um bebê.

- Não preciso, meu amor. Eu não gosto, nem adianta tentar - falou olhando pra mim e eu bufei - Isso só me prejudica.

- A senhora já tem oitenta anos, vó, não pode agir como uma criança mimada - falei - É pro seu bem. Você sabe que sem isso seu bem estar vai por água baixo.

- Não aguento mais vocês dois - ela sentou na cama devagar e estendeu a mão pra eu largar os remédios e a outra pra pegar o copo. Eu sorri vendo ela tomar tudo e eu fiquei bem mais aliviada.

- Caiu o braço por acaso, dona? - falei indo beijar sua testa e ela deu uma risadinha.

- Sua bobinha - falou - Você é uma luz na nossa vida, sabia? Minha netinha.

- E você é a minha vózinha - passei a mão no seu cabelo ralo e apaguei a luz do abajur, deixando ela dormir.

Sai do quarto e o Matheus tava no sofá com um tecido no colo.

- Feito - falei e ele levantou.

- Peguei pra você - me deu o moletom - Achei que cê tivesse com frio, tá toda pelada.

- Obrigada amor - falei colocando o mesmo que tinha o perfume bom dele e tirando meu salto.

- Aonde você tava? - ele perguntou de braço cruzado e eu ri nasal.

- Numa festa, Matheus. Mas foca aqui, foca na sua vó - falei e ele sentou no sofá sem falar nada, sentei do lado dele e peguei sua mão. Tava visível que o olhar dele tava triste.

- Tina - ele disse respirando fundo e eu olhei pra ele - A Vó lembrou de você?

- Sim, ué - falei - Por que?

- Hoje quando eu te deixei no apê e voltei pra casa, ela perguntou quem eu era - ele disse e aquilo fez com que meu semblante mudasse pra pior.

- Matheus... - as palavras se perderam e nada mais saiu da minha boca.

- Ela tá muito pior, Martina - falou com os olhos marejados - E teimosa do jeito que é, não quis ir comigo em um médico pra ver realmente o que ela tem.

Ele não precisou falar mais nada, eu puxei sua cabeça pro meu colo e acariciei seu cabelo deixando que ele botasse tudo pra fora, fiquei fazendo carinho nele e ele acabou adormecendo no meu colo. Eu tava com muito sono também então encostei a minha cabeça na dele e fechei os olhos.

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