Capítulo 2

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MARTINA

Deixei que a Maju descansasse no sofá e fui trocar de roupa. Coloquei uma regata e um short mais solto, depois fui pra cozinha tomar um copo de água e o interfone começou a tocar.

- Alô? - falei.

- Alô, boa tarde. Tenho uma encomenda aqui pro apartamento 602 - falou e eu franzi a testa - Um moço deixou aqui comigo e disse que precisava ir pois tinha compromisso, ele só deu o número do apartamento e largou o pacote.

- Ué, eu não encomendei nada - falei - Vou descer pra ver, só um minuto.

Desliguei e fui colocar um chinelo. Nem mexi com a Maju e desci enquanto pensava no que poderia ser.

- Oi, seu Tobias - falei me aproximando do balcão que ele tava.

- Oi, Martina, não faço a minima ideia do que seja - falou e me deu o pacote.

- Nem eu - falei começando a abrir ali mesmo e assim que eu abri tinha uma fita colada do lado de dentro com um nome - Seu Tobias, quem é Vitor Dantas?

- Ah! - ele disse parecendo conhecer bem - Essa encomenda é pro Vitor. Ele é do apartamento 601, do seu lado.

- Ih, errou legal o apartamento - falei dando uma risada.

- Você se importa de levar pra ele? - perguntou.

- Me importo não, pode deixar - falei dando um sorrisinho e voltando pro apê.

Enquanto eu subia comecei a pensar como esse Vitor era, não vi nenhum vizinho meu ainda a não ser uma mulher mais velha. Assim que eu cheguei no andar fui em frente a porta do 601 e bati, mas nada, bati mais uma vez, e mais uma, até escutar a voz de alguém.

- Será que é o Biel? - uma voz feminina falou e eu ecutei passos se aproximando, e assim que a porta abriu vi uma menina com uma camiseta grande no corpo e um shortinho.

- Oi? Te conheço? - ela disse meio ofegante e as palavras tinham fugido da minha boca, ainda mais quando eu vi o cara que me encarou mais cedo logo atrás dela.

- Oi, esse pacote é pra um tal de Vitor, me entregaram errado - falei.

- Vida é pra você - ela olhou pra trás dizendo a ele e logo deu as costas sem ao menos pegar a merda do pacote. Pra que né?

- Opa - ele apareceu sem camisa e não pareceu nada surpreso ao ver que eu era a menina que ele comeu com os olhos antes - Isso é meu?

- É - dei pra ele que pegou e deu as costas largando numa mesinha dali e abrindo enquanto a porta continuava aberta e eu ficava parada ali igual uma pateta.

- Que? - ele disse percebendo minha presença ali - Quer entrar pra tomar um chá? — debochou na cara dura.

- Ai, mereço - falei rolando os olhos e dando uma risada sem humor - Tava esperando um "obrigado" pelo menos, mas educação não se encontra presente aqui - falei enquanto me afastava e ele deu uma risada vindo até mim e encostando o braço no batente da porta.

- Valeu - falou me olhando fixamente enquanto eu saia sem paciência indo em direção a minha porta - Pera aí, ô. Você que é a vizinha nova po? Do 602? - perguntou.

- Não tá vendo? - apontei pra placa da porta e entrei em casa. Eu não esperava ter que afiar a minha língua pra alguém tão cedo nesse prédio, mas já percebi que esse meu vizinho é o problema em pessoa.

- Aonde você tava? - a Maju perguntou sentada no sofá coçando os olhos.

- Me entegaram um negócio errado e eu fui dar pro nosso vizinho do 601. Simpatia em pessoa! - falei irônica e ela riu.

- Já assim, Martina? - falou levantando.

- Fazer o que se tem gente que não colabora pro meu bom humor permanecer intacto - falei jogando o cabelo pra um lado e pegando meu celular.

- Cê não é fácil também né minha linda - ela disse me fazendo rir.

Olhei a hora e já eram 19h, a Leticia iria vir daqui a pouco então resolvi nem comer nada por causa da janta que ela iria trazer.

Me joguei no sofá e coloquei no netflix pra continuar good girls da onde eu tinha parado, e a Maju já aproveitou pra assistir comigo.

Um tempo depois a campainha tocou e eu despertei num susto porque eu e a Maju acabamos pegando no sono de novo, mas a coitadinha tava tão cansada que nem se mexeu. Olhei no celular e eram 19h40, então só podia ser a Leticia.

- Ai, Deus - falei e suspirei após ver o tal do Vitor parado em frente a minha porta - O que você quer, simpatia? - ele riu.

- Quero muita coisa gata, mas no momento só me desculpar por ter te recepcionado daquela forma - ele disse mas eu não estava afim de papo e só queria comer logo. E eu com fome sou pior que o diabo.

- Hm, tá beleza - falei e fui encostando a porta mas ele colocou o pé.

- Ô, eu tô numa boa aqui po - falou - Dá uma segurada.

- Mas não precisava disso ué, não sei nem porque veio - falei com o braço apoiado na porta.

- Beleza então - falou mas não saiu - Já que tu sabe meu nome, posso saber o seu?

- Martina! - uma voz meiga veio de trás dele e a Leticia surgiu com sacolas de comida e uma bolsa no ombro - Quem é o seu amigo?

- Vitor, prazer - ele cumprimentou ela e eu bufei.

- Não é meu amigo - falei - É meu vizinho mal educado.

- Eu mal educado? - ele disse rindo sem humor - Ô... Martina - deu ênfase no meu nome - Cê não me conhece beleza? Vim aqui numa boa me desculpar pra conseguir viver bem contigo, mas cê mete as patas em mim todo minuto porra - ele disse olhando pra mim indignado e pra Leticia que riu.

- Martina é assim, basta saber lidar - falou passando do meu lado - Quer jantar com a gente, Vitor? - ela perguntou e eu arregalei os olhos.

- Obrigado pelo convite, mas vou dar uma saída - ele disse olhando pra ela e depois pra mim - Foi um desprazer te conhecer, Martina - ele disse dando as costas e eu fechei a porta com um pouco mais de força.

- Porra, Martina - a Leticia disse - Ele todo querido e você metendo coice no cara, pelo amor de Deus.

- Aí, Leticia - falei indo pra cozinha com ela - Você viu o jeito que ele falou comigo depois? Do desprazer?

- Também né minha filha. Eu faria o mesmo, ele perdeu a paciência - disse - Tava tentando ser legal e você enchendo o cara de coisa, aí não dá.

- Ah, foda-se, eu só quero comer - falei sentando na mesa com uma cara péssima, o dia de hoje foi bem cansativo e ainda vem esse Vitor pro meu lado.

- Maria Júlia, vem comer - a Leticia gritou parecendo uma mãe e ela demorou mas veio com a cara toda amassada - Cê acredita que a Martina esculachou o gato daqui do lado? Deu mó pena dele.

- De novo, maluca? - a Maju disse sentando com a gente e eu ri.

- Af, eu não tenho culpa - falei sorrindo sem mostrar os dentes enquanto me servia. Me arrumei na mesa e peguei meu celular desbloqueando o mesmo.

Mensagem (1) ✉

Mãe: Tina, como está aí?
Eu: Oi mãe, tá tudo certo, já arrumamos o apartamento
Eu: Agora tô jantando com a Maju e a Leti
Mãe: Que bom, filha. Manda um beijo pra elas.
Eu: Elas te mandaram outro
Mãe: Te amo, bebê
Eu: Te amo

Mensagem (2) ✉

Teus: Oi Tina, tá bem?
Eu: Tô sim, e você?
Teus: Também, o que vai fazer amanhã?
Eu: Teus, o que a Maju te disse?
Eu: Sério, me diz
Teus: Po Tina, ela só disse que eu tava deixando vocês por último e os caramba, só me alertou, vou tentar mudar isso
Eu: Você não precisa mudar, só muda se for pra você e não pros outros
Eu: Por mim tá tranquilo, ok? Não se abala
Teus: Tá bom, te vejo quando?
Eu: Segunda
Teus: Ihhh, então tá
Eu: Ih o quê? Eu tô afim de ficar com a Maju no nosso cantinho amanhã, segunda a gente se vê bb
Teus: Bele
Eu: Ai Matheus, sério isso?

Bloqueei meu celular pra não me estressar mais e terminei de comer depois de uns minutos, indo lavar a louça.

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