🌈Primeira Pincelada

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🌈Música do capítulo: Lights Up - Harry Styles

O Sol formava uma mistura única de luz e sombra no topo de uma imensa árvore. Os raios se dissipavam pelo verde. Ela queria fotografar esse fenômeno para nunca mais esquecê-lo. Os espaços entre as folhas estavam cobertos por feixes paralelos e que, de repente, começaram a emitir um som conhecido. A melodia ficava cada vez mais alta à proporção que aumentava a claridade dos feixes. Em instantes, a claridade e o som ficam tão altos que a despertam.
Seu pai está em pé tentando desativar o despertador.
— Minha filha, o seu despertador está tocando sem parar a uns quinze minutos! Como se desliga essa coisa?
— Meu Deus! Quinze minutos você disse? Estava num sono muito pesado que nem ouvi!
Tecnicamente ouviu, porém, por ser uma música bem calma, não foi capaz de a acordar.
— É melhor se apressar, S/n. A entrevista é algo muito importante para...
— Eu sei, eu sei! Obrigada por se preocupar, papai! — Levanta se descobrindo e dando um beijo rápido na bochecha de Jaime. — Vou tomar banho! Pode ir preparando o café, por favor?
— Claro, querida!
É mesmo um desastre de ser humano. Esse é, simplesmente, um dia decisivo para o futuro dela e, mesmo assim, consegue se atrasar. Às vezes parece que o universo está contra S/n.
Tomou um banho tão rápido que não daria para escutar nem 3 minutos de música — essa é uma maneira de contagem de tempo que ela meio que inventou. — Colocou a roupa que tinha separado ontem de noite: um salto baixo, um jeans claro, uma regata vermelha e um blazer cinza.
Finalmente podia descer as escadas e, como esperava, estava tudo prontinho: um café Nespresso meio amargo na sua xícara vermelha favorita e duas torradas lado a lado com um corte horizontal perfeito.
— Sabia que você é meu verdadeiro herói? — ela abre um sorriso.
— Faço de tudo para que meu amorzinho tenha uma ótima vida!
— Te amo, pai! Estou indo! — Bebe rápido o café enquanto o abraça. Enrola as fatias de pão em um guardanapo para comer no caminho e sai correndo.
Sasha, sua melhor amiga, a esperava do lado de fora da casa com todos os vidros do seu Corsa velho abertos. Parecia que tinha acabado de correr uma maratona e ganhado a medalha de bronze, ou seja, seria intitulada como perdedora dos ganhadores.
— Mulher, pensei que tinha desistido! Ia te ligar agorinha mesmo. Tô aqui derretendo de calor e você enrolando.
— Desculpa, Sasha. — Puxa a porta e entra no carro. — Não consertou até hoje esse ar-condicionado?
— Esses dias tenho ficado sem tempo tendo que buscar uma certa pessoa, sabe?
— Tá bom, tá bom. Já entendi. Mas, se quiser culpar alguém, culpe o despertador! — Sasha revira os olhos. — Você me perdoa por ser a razão de todos os seus problemas?
— S/n, não posso perder mais nem um segundo. Estou atrasada para uma entrega e ela pode perder uma chance de ouro se não chegar lá a tempo!
— Você sabe que você é que é ouro, não é?
— Calada!
Caíram na gargalhada.
Ela e Sasha se conheceram no jardim de infância. A professora tinha pedido um típico desenho da família e um garotinho pegou o lápis que S/n tinha separado para colorir um dos vestidos de triângulo que desenhou. Ele não queria devolver de jeito nenhum. Ainda bem que Sasha sempre foi de tomar iniciativas. Ela escondeu o desenho do menino e, enquanto ele procurava, pegou o bendito lápis de volta. S/n nunca esqueceu do sorriso de Sasha daquele dia, era sincero e generoso. São inseparáveis desde então.
Chegaram na entrevista. Tinha se inscrito para fazer um curso de seis meses na Coreia do Sul e, se desse tudo certo, se estabeleceria lá e seria a representante da embaixada do Brasil em Seul, ou pelo menos ocuparia algum cargo desse nível. Quando criança, queria viajar pelo mundo. Na adolescência, começou a pesquisar sobre diplomacia. Hoje fala português, inglês e coreano. As pessoas geralmente pensam: "Por que perder tempo estudando uma língua como coreano? É algo tão difícil e inútil. Se fosse mandarim serviria pra alguma coisa"... e é aí que se enganam. Essa foi sua grande vantagem, pois pouquíssimos brasileiros são fluentes em coreano e, por isso, tinha grandes chances de ter o emprego que sempre quis.
— Boa sorte, mulher.
— Obrigada por tudo, mulher.
Desceu olhando para as horas no meu celular. Não sabia como e nem queria saber, mas por um milagre está sobrando dois minutos para o início da entrevista.
O prédio da companhia a fez imaginar a regravação de King Kong, era imenso e ia se afinando conforme chegava ao topo. Perfeito para um gorila gigante escalar com a mocinha na mão e lutar contra aviões do exército. Ela é fã de filmes clássicos, daí, sempre que possível, tenta encaixar esses mundos imaginários no nosso mundo entediante.
Entrou se direcionando à mesa central onde havia uma secretária que, embora fosse jovem, diria que sua energia é de uma senhora de mais de 84 anos. A secretária sequer levantou a cabeça para ver o que a jovenzinha queria, apenas disse para pegar o elevador e descer no vigésimo segundo andar que alguém estaria a esperando na primeira porta à esquerda. Bom, muitas pessoas devem ter perguntado para ela a mesma coisa que iria perguntar, então lá foi ela ao décimo segundo andar sem questionamentos.

❝𝐂𝐨𝐥𝐨𝐫𝐬 ❼ ❞Onde histórias criam vida. Descubra agora