🌈Brincadeira Molhada

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    🌈 Música do capítulo: Let's Fall in Love for the Night - FINNEAS

Ela viu a cor que se forma quando se mistura todas as outras. Sua mente despertou antes do corpo e teve dificuldade de se mexer. Abriu os olhos e lá estava ela no seu quarto. A cabeça latejava como nunca, tendo vontade de arrancá-la fora. Já de pé, foi ao espelho do banheiro. Se alguém a visse levantando da cama essa manhã, diria que voltou dos mortos. Estava pálida, com olheiras enormes e, ao tentar ligar a torneira, parecia que o braço era martelado. Havia marcas meio esverdeadas dos dois lados na mesma altura.     
    Estava vestindo blusa e calça que não a pertenciam. Quem emprestou? Quando pegou emprestado? Lembrou que possuía celular e saiu vasculhando o quarto à procura dele, o qual não encontrou em lugar algum. Onde poderia estar?
    Nesse momento, notou que não era capaz de se lembrar de grande parte do dia anterior. Tentou recapitular passo a passo. Foram ensaiar uma coreografia, depois vieram direto pra casa e no final do dia houve uma comemoração — comemoração de quê? — de uma nova indicação ao grammy, daí — pensa, garota! — os meninos abriram um champanhe. Suga disse pra não tomar, mas teimou e foi aí que a memória começou a falhar.
    Batidas na porta a assustam. Com toda a sua agilidade, ou seja, inexistente, voltou pra cama e fingiu que ainda estava dormindo. Escutou alguns passos e barulhos de cerâmica. Algo macio encosta na sua bochecha e alguém segura seu cabelo.
    — Sei que está acordada. Trouxe um chá especial pra você.
    Abriu um olho de cada vez. Tae está ajoelhado do lado da cama, cheirando uma mecha de seu cabelo. Do lado está apoiada uma bandeja metálica com um pequeno conjunto de bully tradicional. Recebeu ajuda para se erguer. Ele entrega uma xícara cheia e volta a ficar de joelhos.
    — É chá verde. Vai acalmar seu estômago e aliviar a dor de cabeça. — S/n levou à boca, mas a mão dele a para antes mesmo de encostar. — Toma cuidado! Tá muito quente.
    Colocou a xícara de volta na bandeja e pediu para ele se sentar junto a si. Taehyung está muito estranho. Seu tique na boca voltou, juntamente com a tremedeira das mãos, as quais colocam os cabelos da garota atrás das orelhas. Ele se concentra nas olheiras dela.
    — Por que não diz nada? — ele pergunta receoso.
    — Talvez porque eu não saiba o que dizer. — Esticou os braços pra ele ver as marcas. Seus olhos escurecem tanto, a ponto de não conseguir ver mais sua pupila. Ele está mais devastado que ela. — Sabe como consegui elas?
    — Posso ter uma ideia... — S/n pediu com o olhar para que continuasse, mas ele respondeu com uma pergunta: — Não se lembra de ontem?
    — Não — sibilou simplesmente.
    — De nada mesmo?
    Balançou a cabeça e viu que ele apertou os olhos e mordeu o lábio. Isso é um choro? Ela o viu chorar ontem, disso se lembrava. Tae admitiu o que tanto temia, que não só ele como também todos os outros meninos gostam muito dela. Ela então a abraça num impulso.
    — Eu estou com uma lacuna na memória — a intérprete sussurrou, agarrando a camiseta dele tentando não chorar. — O que foi que aconteceu?
    — Primeiro eu quero que se lembre disso.
    Tae a dá um beijo apaixonado. Ele usou a técnica sem pressa de vários selinhos pequenos.
    Um fragmento de memória volta. Ela e ele no box do banheiro se beijando. Eu fiz perversões bêbada?, ela se indignou. Foi isso que aconteceu? Quem sou eu? Isso é deprimente.
    — Isso te fez lembrar de algo? — S/n ficou em silêncio. — E-eu estou envergonhado pelo o que te fiz fazer. Você não estava no seu estado normal e eu...
    — Acabou se aproveitando de mim.
    Foi o mesmo que ver a alma do garoto sair do corpo.
    — Tem toda a razão do mundo pra nunca mais querer me ver. O que fiz foi imperdoável. Eu sei disso. Espero que você algum dia volte a me olhar diretamente nos olhos. — Ele dá um suspiro longo e se levanta. — Vou te deixar em paz. Você acabou desmaiando com a junção dos fatores. — Ter feito um boquete enquanto estava bêbada? Dizer é ainda mais ridículo. — E agora precisa descansar.
    Quando ele começa a se levantar ela realmente não consegue olhar na sua cara. Desejava que o envolvimento amoroso acontecesse, mas a forma como aconteceu... Não foi culpa dele. Ambos estavam longe de estarem sãos naquela noite. É uma pena ter sido assim.
    Antes dele sair da cama, pegou seu pulso, fazendo-o se sentar de novo.
    — Nós dois somos culpados, o que faz ninguém ser culpado de nada, não é? — filosofou, os olhos dele nos dela. — O que aconteceu entre nós, fica entre nós, e vamos superar juntos. Eu errei quando entrei no seu quarto sem sua permissão e acabei vendo um momento íntimo seu. Aquilo me fez agir por um frenesi que desconheço.
    Dão as mãos.
    — Fico feliz que não tenha levado pro lado ruim da coisa.
    — Olha, eu não tô cem por cento contente, então não presuma nada ainda.
    — Tipo dizer que você gostou? — Deu um tapa no braço dele, que reclama de dor. — Eu não vou mentir e dizer que me arrependi, porque eu fantasiei ver você fazendo aquilo comigo algumas vezes.
    — Tae!
    — O que foi? É verdade, ué! Sou homem e nossa mente é diferente da de vocês mulheres... garotinhas. Você não entenderia. Prefere que eu minta pra você?
    — Não, só podia ser mais, sei lá, delicado.
    — Mas aí eu não seria verdadeiro.
    Outra vez ouviram batidas na porta e se afastaram. Quem entra é outro zumbi, conhecido também como Kim Namjoon. Ele os entreolha, mostrando que está carregando algo rosa nas mãos. Aproximou-se e deixou o pertence no criado.
     — Esqueci de te devolver ontem — diz aquele que acabou de chegar, virando de costas e já se retirando. — Estamos lá embaixo esperando vocês.
    S/n viu o objeto e interrogações pairam sob sua cabeça. O que RM fazia com seu celular? Ligando a tela, notou que o vidro estava quebrado; tirando a capinha, viu mais prejuízo. Só pode ter sido uma queda pro estrago ter atravessado a película. Sentiu uma fisgada forte na cabeça e se lembrou de algo que gostaria que permanecesse no esquecimento.
    — Foi ele... Ele machucou meus braços depois da discussão com Jungkook.
    — Disse que seria verdadeiro com você, princesa, mas como eu queria mentir nesse momento.
    S/n encarou os esverdeados nos braços. Há uma neblina densa bloqueando os pensamentos positivos. Namjoon foi o primeiro a começar tudo isso e o que mais a machucou até então, tanto fisicamente como mentalmente. Parecia que ele só queria a ter. Queria que ela fosse sua propriedade e que o obedecesse. Como ela teria certeza de que estaria segura perto dele depois daquilo? Quis chorar de novo.
    — Será que você pode me dar licença, Tae? Quero trocar de roupa.
    — Não precisa pedir duas vezes.
    Ele sente que a garota necessitava de mais carinho e a abraça, dizendo baixinho no seu ouvido que tudo será resolvido.
    Sozinha novamente, teve a impressão de que o céu caía nos meus ombros e tentava segurá-lo igual Atlas. O problema é que não era uma Deusa Grega e se deixou ser esmagada. O início de uma crise de tristeza surge e só não progride porque uma notificação chegou em seu celular, que funcionava por algum milagre.

❝𝐂𝐨𝐥𝐨𝐫𝐬 ❼ ❞Onde histórias criam vida. Descubra agora