🌈Gênio domável (Suga)

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🌈 Betado por: @_Misteryous
🌈 Música do capítulo: Because Of You — Ne-Yo

    Ela apertava as pernas a cada degrau que subiam. Sabia que era normal sentir uma dor, mas pensou que o incômodo passaria pouco tempo depois. Namjoon realmente estava fora de si. Ainda bem que Suga estava na frente dela guiando o caminho, se ele visse o pinguim atrás dele com certeza seria motivo de deboche.
Só tinha ido a poucos lugares na casa, então estranhou o corredor, estreito e largo ao mesmo tempo, que ligava de um lado ao outro a área dos mais velhos e a área dos mais novos. Parecia não ter fim e tinha quase certeza de que brotara portas de ontem para hoje.
— Essas portas extras são nossos estúdios. Esse último aqui é o meu, o maior e mais interessante — leu sua mente.
— Pensei que os estúdios fossem lá embaixo.
— Metade fica aqui em cima, metade lá embaixo.
— Entendi.
— Antes de você entrar tem que saber que eu valorizo cada coisinha que enfeita esse meu paraíso particular. Então, não trisca em nada, mocinha.
— Juro solenemente não tocar em nada que pertence ao tio Min Yoongi.
— Tio? Tá bom. Nada de te chamar de mocinha. Eu não costumo seguir ordem dos outros, mas se você for me chamar de algo que pareça que sou uns cinquenta anos mais velho, eu prefiro não me arriscar. Aliás, você tem algum problema com nossa diferença de idade?
— Em relação a que?
— A nada não... Esquece.
O que ele quis dizer? Ela vai ficar inculcada com isso agora.
Estava certo sobre o tamanho do quarto, era gigante, mas por conta dos mil equipamentos encaixados minuciosamente as dimensões diminuíram drasticamente. Depois de atravessar o portal para outra dimensão, encontrava-se na terra futurística. Computadores, não, telões de última geração cobriam uma das quatro paredes. Na esquerda havia um teclado e prateleiras de bonecos de ação, do lado da porta um sofá, e na direita uma escrivaninha coberta por papéis de letras manuscritas, algumas amassadas.
— É aqui onde a magia acontece — anuncia sem ânimo algum.
— Bonecos? Não consigo imaginar um cara sério como você levantando as articulações deles e fingindo uma batalha épica.
— Nem eu. São de coleção, não foram feitos pra brincar.
— Continuam sendo bonecos — arrematou. Ele solta o ar já sem paciência.
— Até parece que não tem uma prateleira na sua casa cheia de quinquilharias que só significam algo pra você.
E mais uma bola é rebatida, saindo pra fora do estádio. Ele seria um ótimo advogado, tendo uma resposta sucinta para cada argumento do ataque. Yoongi não leva desaforo pra casa.
— Aposto que você passa muito tempo aqui — disse ela tentando mudar o foco e abrindo uma caixa de pizza de aproximadamente uma semana atrás, o cheiro forte invadindo suas narinas.
Latas de coca-cola abertas e vazias ocupam metade do chão. Como ele pode ser magro daquele jeito comendo e bebendo tanta porcaria? Invejou os genes asiáticos. Camisetas suadas cobrem o encosto do sofá. Aquilo ali é a verdadeira caverna do Batman! Yoongi não é lá o cara mais higiênico do mundo. Quem era ela pra reclamar? Seu quarto também não é lá essas coisas.
— Disse para não encostar em nada. — Ele se aproxima e faz sua mão se fechar na dela em cima da caixa de pizza, afrouxando a pegada gradativamente. Ela engole em seco. — Não tive tempo de organizar nada por conta dos compromissos dessa semana. Juro que não sou desorganizado assim. — Ela não acreditou num pingo do que foi dito. — Tive uma ideia! De agora em diante, você, S/n, é responsável por limpar meu santuário.
Como é que é? Ele não pediu isso... Que folgado! Defendeu ela uma vez dizendo que não era diarista nem nada e agora quer que seja? Ela só não vai dizer nada porque, infelizmente, dessa vez ela leu o contrato: "é como se você fosse uma faz tudo para os garotos". Isso inclui qualquer tarefa que peçam para ela realizar.
— Sim, senhor.
— Credo! Eu falei de zoeira, que tipo de cretino acha que sou?
— Um senhor cretino?
— Aish, você sabe como me irritar. Nem sou tão mais velho! Fico calado na maior parte do tempo e por isso deve me achar um cara chato, ou sei lá, mas a questão é que não estou acostumado com outras pessoas além dos meus amigos. — Ela sorriu fraco e rolou os olhos pra ele. Foi um erro ser atrevida daquela maneira, afinal nem o conhece direito para assumir tal postura e dito e feito: — Não me olhe assim! Você é MINHA staff!!! 맞아요 (majayo=entendeu)!?
Sua fala sai um tanto raivosa, fazendo ela estremecer e dar um passo para trás em defesa, o olhar afiado dele a espetando.
Min Yoongi abaixa os ombros e se recompõe. A cara está mais pálida do que nunca e ele parece totalmente sem graça da forma como gritou com ela.
— Me perdoa. Minha habilidade de expressar sentimentos se reduz às letras dos meus raps. — Ele respira fundo e continua. — Você é minha staff e eu gosto disso, do respeito por mim que esse título dá, ou deveria dar; a questão é que eu não quero ser só um chefe mandão pra você.
— Fácil! É só não agir feito um!
Esbraveja corajosamente, embora continue com algumas partes do corpo tremendo com o eco do timbre forte. Esperava outro grito, um mais alto e gutural do que o anterior, todavia este nunca veio. Suga parecia sentir um gosto amargo na boca.
— Só... me deixa terminar, está bem?
Calou-se perante a lamentação do homem à sua frente. Ele observava atentamente cada movimento da garota, os pulmões enchendo e esvaziando. Faz uma pinça com o dedo indicador e o polegar, colocando-os entre as sobrancelhas e depois abrindo, penteando-as. Um sinal de que está incomodado e angustiado.
— Quero que você me respeite por me admirar como pessoa, não por obrigação.
— Yoongi... Por que não disse isso antes? Eu já te admiro! — Ele mostra suas gengivas.
— Eu nunca fiquei tão intrigado com uma staff antes. Nunca quis saber sobre a vida pessoal de ninguém, mas, S/n, você tem algo dentro de você que eu... que eu quero conhecer.
Como ficou sem palavras, o abraçou. Sua cabeça apertada contra o peito do mais velho ouvia a respiração se esvaindo. Os mais quietos guardam muitas coisas dentro de si e quando as colocam para fora, saem ideias em forma de poesia. Yoongi era a prova viva dessa sua teoria. Os garotos que costumam ficar "na deles" são os mais bonzinhos e atenciosos, pois conseguem enxergar além da superfície.
As mãos cheias de veias separam os fios longos de cabelo, passando entre eles várias e várias vezes, causando um arrepio seguido do outro. É uma sensação de segurança, como se pudesse contar tudo a ele e visse versa. Essa é uma sensação que imaginava sentir com qualquer um menos com ele, o quieto que não compartilha nada. Quem diria que o disfarce de menino "dark das trevas" seria retirado tão facilmente por S/n.
— Sabia que eu te acho muito fofa? — diz a olhando de cima à baixo, intrigado.
— E sabia que você consegue ser muito fofo também quando quer?
Riram, separando-se do melhor abraço que tiveram em muito tempo.
— É sério! Você é muito fofinha!
— Tá bom, já chega. Eu não sou um bichinho.
Sua risada de garotinho sapeca aparece quando tenta ser irônico dizendo algo como: "óbvio que não", bem baixinho. Gostava de vê-lo assim, sorridente.
Depois Min Yoongi sentou em sua cadeira estilo gamer e começou a mexer em dois teclados diferentes ao mesmo tempo — ela, como tinha delay, não era capaz nem de mexer em um —, levando apenas um instante para acessar o e-mail da garota.
— Como você entrou no meu e-mail? Yoongi, você é hacker?
— Aprendi algumas coisas no curso que fiz de editar e mexer em vídeos, mas não, não chego a ser hacker.
— Sabia que esse pode ser um talento adormecido dentro de você? — faz um gesto característico de quem dorme.
— Nossa, S/n. Estou gargalhando por dentro. — Riu de seu comentário debochado. — Vou fingir que não ouvi isso.
— Tá, tá bom. Mas, e aí? Como você descobriu minha senha? Eu não tinha falado, tinha?
— Digamos que eu fiz algumas pesquisas no Google sobre minha misteriosa professora de inglês e, antes que você me chame de louco, foi tudo por questões de segurança. Sabe quantos 사생 (sasaeng=fãs obcecados) costumavam me ligar por dia? Tive que mudar de número algumas vezes.
— Que pesadelo!
— Invasão de privacidade virou rotina... Enfim, já acostumei. Sobre a senha, essa tal mocinha, por sorte, ama muito a mãe dela.
— Amava...
— Não faça isso — sua cadeira gira e seus olhos vidram nela —, não precisa reviver essa história de novo. Eu já li as reportagens que saíram no jornal sobre ela enquanto te pesquisava e, eu sinto muito que você tenha que passar por isso.
A última parte ele fala pra dentro para que ela não escute: "tão nova". Ela gesticulou um "tudo bem".
S/n gostou da atitude. Falar sobre a perda não é bom pra ela. Pode se manter firme em frente as pessoas, mas por dentro está sendo destruída a ponto de achar que apenas serve para contar essa história triste. Suga a poupou de mais um sofrimento. Talvez ele entenda essa dor por já ter passado por ela. Perguntar seria o mesmo que atirar no peito do anti-herói que acaba de salva-lá. Eles costumam guardar dentro de si um passado sombrio e aprendem a superar essa dor ajudando outros na mesma situação.

❝𝐂𝐨𝐥𝐨𝐫𝐬 ❼ ❞Onde histórias criam vida. Descubra agora