❝𝐂𝐨𝐥𝐨𝐫𝐬 ❼ ❞

🌈Bela Adormecida

🌈 Música do capítulo: Fix You - Coldplay

Taehyung Pov

    O mundo tornou-se mudo. Cada batimento cardíaco naquele quartinho apertado havia se silenciado. Aproveitei minha localização e virei S/n de barriga pra cima. Apagada. Fiz carícias no seu rosto, ela nem resmungou. Peguei seus ombros e chacoalhei devagar, nem "tchum". Em último caso ergui seu braço e soltei. Ele caiu, mostrando o seu estado de completa malemolência. Ela... ela parecia... dopada?
    — S/n. Princesa. Princesa, acorda. Acorda, S/n — chamei por ela, suas pálpebras mantiveram-se fechadas que nem de um cadáver.
    Uma espada atravessou minha garganta naquela hora. Ardia, e como ardia. Som nenhum eu conseguia emitir. S/n estava na minha frente e não me respondia. Ela estava apagada mesmo, de uma forma não natural. — Será que ela está passando mal? É tipo um coma que nem o de seu pai? Mas por que razão ela entraria em coma do nada? — Minha cabeça estava esquisita, pensava em muita coisa, muita besteira de ficção. Nada mais fazia sentido. Eu... Eu não estou bem.
    Recebi um aperto no ombro e soube que era Namjoon. Ele falou algo para mim, mas minha audição também se fora, impossibilitando-me de ouvir até o barulho do ar-condicionado ligado em 18ºC. Se não fosse esse fato lógico, acharia que havia alguma presença fantasmagórica no quarto, algo tão maligno que sugou as energias de S/n.
    Não precisei ser afastado. Dei alguns passos para trás por conta própria, tomando distância e travando cada ligamento meu. É um sonho, é um sonho horrível, um pesadelo. É isso. É só coisa da minha cabeça. Nenhum conto dos irmãos Grimm me convencerá de que estou passando pelo que estou passando. S/n não pode ser a Bela Adormecida.
    Jimin desabou, o rosto devastado. Yoongi havia morrido em pé, os olhos cinza feito a maior das tempestades. Os outros tentavam a acordar de inúmeras maneiras. Nossa chegada virou um caos. Parecia que o próprio Lúcifer tinha planejado aquela punição para nós. A dívida sendo paga de um pecado imperdoável.
    Não posso me deixar ser tão abalado. Eu não posso ceder. S/n estava respirando, estava bem. — Que loucura! Estava tudo perfeito a minutos atrás! O que foi que rolou aqui? — Com esse propósito, percorri o olhar por todo o pequeno perímetro. Há algo de muito errado nessa história e eu vou descobrir o que é.
    Minha princesa tinha começado a arrumar as malas, havia deixado um rastro de roupas que saia de sua mochila, passava pelo chão e parava na cama. S/n estava deitada sobre a roupa que havia chegado, a que está agora ela deve ter acabado de vestir. Ela ficou com tanto sono que só deu tempo de deitar e logo em seguida "vapo", adormeceu? Dois copos. Dois copos térmicos pairavam na pequena prateleira do lado da cama. Mais perto, vejo que um está sem tampa e completamente vazio. Seguro o outro fechado, concluindo que ela nem sequer experimentou por estar cheio.
    — Jung Hoseok, do começo — dito, os outros nem percebem minha atitude um tanto fria para com tudo aquilo.
    Eu mesmo não entendia minha cabeça. O meu normal seria ficar quieto e sem reação, apenas esperando para que tudo se ajeitasse; porém me senti responsável por solucionar o mistério. Talvez seja por causa dela. S/n era a vítima e eu não me perdoaria se deixasse o culpado sair impune. Meus amigos agora já haviam desistido de tentar despertá-la. Namjoon e Jin falavam algo pra ela baixinho, provavelmente dizendo que estava tudo bem, mesmo ela não podendo escutar "grandes nada" do positivismo coletivo.
    — E-eu e o Jungkook f-fomos lá embaixo e quando voltamos...
    — Vocês foram fazer o que lá? — interrompi. Hoseok continuou depois de engolir em seco algumas vezes.
    — F-fomos buscar cappuccino para S/n. E-ela pediu e eu achei que...
    — Achou que era uma boa deixar ela aqui sozinha? — Yoongi quase rosnou, impassível. O baixinho cruzou os braços e permaneceu invicto, exigindo uma explicação razoável para a indulgência de Hoseok. — Você é retardado por acaso? Por que não avisou pra gente? Somos sete! Alguém podia ter feito companhia a ela!
    — A-achei que ela estaria segura! Na verdade, nem imaginei que algo do tipo aconteceria. Poxa, só quis agradá-la! Qual é a sua? Por que me atacar assim? — rebateu Hoseok com lágrimas nos olhos.
    — Qual é a minha? É óbvio que eu ficaria o tempo todo com ela. — Agora os olhos de Yoongi estão vermelhos sangue. — Sabe o que eu acho! Que você não é homem suficiente! Não aguenta ficar perto de garotas porque, se elas te avançarem, você recua que nem o fracote que é! Deve ter sido por isso que sua primeira namoradinha te traiu.
    — Isso foi baixo até pra você Yoongi. Não é culpa dele — tentei apaziguar, mesmo estando completamente perdido naquela discussão. Yoongi tem a tendência de conectar assuntos nada a ver só pra ter razão, ou melhor, desconta sua ira no mais próximo.
    Hoseok tomou o ar que não conseguia, recompondo-se e se aproximando de Yoongi, o qual permanecia acusando-o, demonstrando isso com todo o seu corpo. Eles se estranham que nem gatos de rua, rosnando quietos um pro outro na calada da noite. Eu sabia que aquilo sairia dos trilhos a qualquer momento e, antes que pudesse entrar no meio, houve um estalo abafado. Hoseok apertava o punho que utilizou para desferir um único soco na lateral do queixo de Yoongi. O atingido permaneceu abaixado, recuperando-se da violência provocada por ele mesmo.
    — Você não é especial! Não é o sabichão que pensa que é! Não é o juiz supremo! Não é o homem da vida dela! Não é nada!
    Nunca vimos esse lado de Hoseok. Ele parecia estar farto das acusações e jeito ríspido de Suga a bastante tempo para finalmente cuspir tudo daquela forma. Não tivemos tempo de dizer nada a respeito, pois, logo após aquele evento traumático, ouvimos dois toques na porta. Eu mesmo olhei pelo olho mágico e destranquei, arfando de alívio. Jungkook estava todo molhado e respirando pesado. Puxei-o para dentro, já o entupindo de perguntas. Não tínhamos tempo a perder. Já havíamos descontado um no outro, esquecendo do foco principal: S/n.
    — O que aconteceu com você? Que cheiro é esse? — Tampei o nariz enquanto falava com ele. O cheiro era o mesmo do de um bueiro a céu aberto.
    — Eu não consegui... não consegui pegar ele.
    — Ele? Ele quem? — Jungkook não falava coisa com coisa.
    — O cara de preto. Ele... ele tentou invadir esse quarto.
    — Invadir? Alguém tentou entrar aqui? — Jin estava deitado ao lado de S/n, zelando pelo corpinho apagado.
    — Será que são os 사생 (sasaeng=fã obcecado)? Não! De novo não! — Jimin se coçava e abraçava os joelhos, completamente tomado pela paranoia.
    O desespero havia tomado conta de todos, menos de mim. É fato que sofremos na mão de fãs malucos e nos privamos de muita coisa, mas isso? Isso foi longe demais? Seria possível um army tentar atacar nossa preciosa S/n?
    — Se alguém tentou invadir o quarto, então explicaria esse cartão — tirei do bolso o cartão que encontrei na entrada, mostrando a todos que aquela loucura realmente estava acontecendo.
    — Besteira! Vocês estão todos juntos nessa palhaçada! Eu não acredito — esbaforiu Yoongi com a mão no queixo. Este, sem dúvida, é cético e será assim até na próxima reencarnação.
    — Yoongi! Ela não acorda! Você não tá vendo? Acha que o quê? Que isso é algum tipo de complô macabro para te fazer ter um ataque do coração? — Hoseok gritou a todos pulmões.
    — Quem não acorda?
    Saímos do caminho, dando ao membro mais novo a pior visão que qualquer homem poderia ter. O maknae sorriu afetadamente, chegando a rir de nervoso. Depois sua feição tornou-se sombria à medida que se aproximava de S/n. Jungkook sentou na cama, pegou uma das mãos da donzela e a apoiou na sua coxa, dizendo comovido:
    — Alguém... sabe explicar o porquê... disso? Quem... quem teria coragem de fazer algo assim?
    — Eu tenho uma teoria — disse um tanto inseguro, mas prossegui por conta daquela esperança depositada nos meus ombros. — Eu não acho que era um sasaeng.
    — E como o Sherlock chegou a essa conclusão? — Jungkook perguntou com um tom frustrado.
    — Primeiro, você disse que teve que perseguir ele, não é? Mas o objetivo dos stalkers não é chegar o mais perto possível dos idols? Hoseok, você disse que vocês dois desceram para pegar cappuccino para a S/n, não disse?
    — Sim, mas...
    — Mas desde que conheço vocês por gente, eu sei que detestam cafeína.
    — E daí? — JK está cada vez mais impaciente.
    — Daí que vocês só pegariam um único café, só que tem dois ali — apontei, os olhares acompanhando meu gesto.
    — Entendi! S/n se cansou de esperar e foi atrás de um sozinha! — Jin deduziu esperançoso.
    — O quê? Não! Não é isso, Jin. — Jin se encolheu, ainda mais chateado. Namjoon virou pra mim. — Então você acha que alguém deu aquilo pra ela?
    — Precisamente.
    — Será que foi aquele cara? Ele colocou algo na bebida pra S/n apagar? — Jimin voltou a raciocinar. Afirmei levemente com a cabeça. — Mais que CARALHOS! Ela... A S/n foi drogada?
    — A sua teoria faz sentido... A única peça desse quebra-cabeça que não se encaixa é, por que ela? Aliás, não... Como ele entregou a bebida? Eles se conheciam? Quem era aquele sujeito? — Namjoon quebrava a cabeça para compreender as coisas.
    — O cara deve ter sido filmado — de repente Yoongi se pronunciou, surpreendendo a todos. — Há câmeras de segurança no hotel inteiro.
    — Ele ele ainda pode estar aqui! Pode estar dentro do hotel! Eu não vi pra onde ele foi quando caí. — Jeon ajeita a gola da blusa como se o estivesse sufocando.
    — Você pirou, Jungkook? E se ele estivesse armado? Você não devia ter feito isso! A vida não reinicia que nem um vídeo-game! Não podia ter seguido ele! — o líder se exalta, quase matando o imprudente do Jungkook com as próprias mãos.
    — Eu não sou idiota! Sabia o que estava fazendo!
    — Namjoon está certo! Você podia ter sido morto! MORTO! Você escutou? A gente não conhece o cara e nem sabe o que ele queria ou o que era capaz de fazer! — Jimin se alia a Namjoon e ambos não passavam de pais caretas preocupados com o Dennis pimentinha.
    — Temos que avisar a alguém sobre essa tentativa de... de invasão — digo mais lúcido do que realmente estava. — Vocês têm que ficar calmos e parar de brigar por qualquer besteira pelo menos por enquanto. A gente não sabe o que ele deu a S/n. Não sabemos de nada e, se começarmos a discutir, nada será resolvido!
    — O que é que a gente faz, então? — o loiro aflito gostaria de saber e eu tinha um plano.