🌈 Música do capítulo: Wonderwall - Oasis
— Deixa eu ver se entendi... — o velho coçou os olhinhos cheios de uma sujeira amarelada. Apesar da garota estar com os nervos à flor da pele, não queria demonstrar isso logo após contar "tudo" para seu pai. — Minha bebê está trabalhando, e morando ao mesmo tempo, com um grupo de Kpop, um estilo musical que nunca ouvi falar em toda a minha vida, em Seul esse tempo todo?
— Eu não planejei, só... aconteceu.
— Por que não me contou antes?
— Fiquei com medo do senhor desaprovar.
— O problema não é você seguir outra carreira. Até porque o que desejei pra você é que pudesse se sustentar sozinha, e você conseguiu, por isso me orgulho. — Ele se endireita na maca e dessa vez fala com os olhos arregalados. — O problema é que você está longe de mim e morando com sete garotos mais velhos! Como acha que fico com isso, S/n?
O raciocínio rápido de S/n foi herdado daquele senhor imortal. Jaime desconfiou na hora sobre a questão dos pouquíssimos resultados possíveis de um experimento onde são confinados sete homens e uma mulher, talvez porque o próprio é um homem vivido. Certamente, afável é o de menos no relacionamento que cada um possivelmente criaria com ela. Entretanto estava falando de S/n/c, a sua garota de ouro! Ela, dentre todas, saberia exatamente como se comportar ao redor de seus chefes. O medo é: E eles? E esses tais coreanos com sobrenomes antes dos nomes? A cultura revirada do avesso dá direito às mulheres, ou são como muçulmanos? Jaime e orientais são dois patos que não se bicam.
— Mas papai, eles são muito gentis, educados e...
— E continuam sendo homens, S/n! — Não conseguindo evitar ter em mente que sua filha estava cercada de gente que ele não conhecia deixava-o em alerta. Todo pai tem medo de sua filhinha ser alvo de algum desgraçado que só quer se aproveitar de uma jovem inocente e arrancar seu futuro promissor. E S/n sabia disso pela mentalidade similar. Se ela tivesse uma filha, sentiria um desconforto gigantesco de vê-la ir para outro país morar com caras cujos nomes mais lhe pareciam um trava-língua.
— Pai, minha relação com eles é puramente profissional e nesse tempinho criamos um vínculo muito forte. Eles são como uma família pra mim e vice-versa. — S/n quase engasgou com sua fala. Se nem ela mesma acreditava, quem dirá Jaime. — Você confia em mim, não é? — Ele dá um sorriso amargo de canto de boca. — Pois então não precisa se preocupar.
Ele a avaliou por um tempo, fazendo um gesto de mãos em seguida. S/n se aproximou, aguçando a audição, pronta para ouvir um segredo que ele lhe contaria.
— Você, minha filha, é meu presente de Deus! Se alguém ferir você de qualquer maneira, essa pessoa vai pagar, porque não irei deixar nada barato! — Sua respiração saiu como um sopro forte na orelha dela, talvez por ainda ter resquícios de má readaptação agora que está sem os equipamentos. — Por favor, filha, não caia nos encantos da fama e da fortuna. Essas estrelas da música têm posses que as permitem escolher qualquer coisa que queiram adquirir apenas apontando o dedo e enxergam as relações como um passatempo, raramente permanecendo e assumindo alguém de fato. Um cantor ter uma namorada comum é o fim de seu império, logo você sairá com o coração partido, escreva o que eu digo.
— Por acaso você ouviu o que eu te disse, pai? Sou intérprete dessa boyband. Só isso! Tenho o meu próprio quarto naquela casa compartilhada e eles não falam comigo a não ser sobre o trabalho. Estou bem longe desse tipo de afeição com eles, isso sim deve ser escrito. Não há razão para preocupação! — Mentiras, mentiras e mentiras.
— Não me peça para não me preocupar, pois esse é meu primeiro dever como pai. Sempre estarei de olho em você, mesmo estando longe, e sempre confiarei em você, já que conquistou minha confiança durante todos esses anos. Então, eu só quero que você viva a sua vida do jeito que você quer vivê-la, mas se lembre, há linhas que não podem ser cruzadas.
— Eu sei, pai — a brancura do ar introvertido prensado antes de escapulir de seus pulmões tornou sua fala um marco ilusório.
— Sei que você sabe. Te criei e sei sua capacidade de inteligência. Mesmo assim, tenho que reforçar algumas ideias como pai, entende?
— Sim.
Apesar de não ter sido a intenção, aquelas palavras vieram com força e se chocaram contra a garota como um empurrão no peito. Era horrível, foi uma dureza engolir as convicções do pai sobre gente rica e seu jeito inescrupuloso de tratar a plebe. Aquilo desceu feito sal grosso, cada pedra equivalia a uma palavra negativa. E, mesmo que não quisesse, não pôde evitar de colocar a culpa toda em cima de si. Imagina se seu pobre pai soubesse das coisas que fez em menos de um mês, coisas que garotas geralmente só fazem depois do casamento. Jaime nunca poderá descobrir das suas depravações realizadas com tanta devoção e submissão. Seria ele capaz de deserdá-la? S/n odiaria chegar nesse ponto.
Como que para dar um basta nos achismos certeiros do pai e evitar que eles a encurralássem e a fizessem confessar seus pecados íntimos, a porta do quarto de repouso deslizou e entraram enfermeiros com equipamentos que serviriam para outra bateria de exames.
Assim os dias foram passando, longos e solitários. — Com quem se acostumou em ser jogada de lá pra cá numa disputa incessante de atenção e carinho, voltar tarde da noite e deitar na sua cama de casal sozinha depois de passar o dia sendo acompanhante do pai na fisioterapia fazia um enorme vazio surgir ao seu lado do colchão. Com o peso na consciência, S/n sabia que dar apoio ao pai e estar ao lado dele era o mínimo a se fazer, deixando as faltas que sentia serem preenchidas gradualmente por receitas de bulas de remédios e posições de pilates para membros inferiores.
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❝𝐂𝐨𝐥𝐨𝐫𝐬 ❼ ❞
Fanfiction[LONGFIC] Quantas vezes é possível se apaixonar? E quantas paixões fazem uma vida? Para a brasileira S/n, a resposta seria o número cabalístico 7. Ela conheceu os coreanos mais avassaladores do universo por conta de um erro. Não demorou para que el...