Capítulo 1 - A rapariga misteriosa

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08h00, Casa...

Acordei com o meu despertador a tocar aos berros.

– Cala-te! – Berrei enquanto tapava a cabeça com a almofada. Obviamente, ele não me obedeceu...

Depois de dez minutos a convercer-me a mim próprio a levartar-me, saí da cama e fui tomar um duche. Antes de entrar na água, olhei para o telemóvel. Quatro mensagens não lidas da Maya. Já tinha começado?

Ah, esqueci-me de me apresentar. O meu nome é Lucas, e tenho dezasseis anos. Sou um estudante como qualquer outro, e vivo com a minha mãe, o meu pai e a minha irmã.

"E quem é a Maya?", perguntam vocês.

A Maya era a minha melhor amiga, e este ano eu e ela tínhamos mudado de escola. Estávamos na mesma turma.

Depois de tomar banho, vestir o uniforme da escola e tomar o pequeno-almoço, saí de casa enquanto tratava de responder às mensagens da Maya.

Estava concentrado no texto que estava a escrever, quando uma rapariga de cabelos castanhos compridos passou à minha frente, dando-me com os cabelos na cara. Pensei em reclamar com ela, mas ela parecia não se ter apercebido de que me tinha dado com os cabelos.

"Tem o mesmo uniforme que eu.", pensei ao olhar bem para ela.

Estava decidido a ir falar com ela, mas alguém me agarrou por trás e me abraçou.

– Lucas! – Ouvi uma voz familiar festejar.

– Ah, Maya. – Sorri-lhe.

Como já tinha dito, a Maya tinha mudado de escola por eu também ter mudado, o que sinceramente não sabia se era bom...

Eu gosto muito da Maya, e ela também gosta muito de mim, mas acho que ela estava a confundir as coisas. Acho que ela estava a gostar de mim de uma outra forma... Bem, mas isso agora não importa.

– Então, como foram as tuas férias? – Perguntou ela animadamente.

– Boas! Fui passá-las a Osaka. E as tuas? – Perguntei com um sorriso.

– Maravilhosas! Demais! Fui para França durante o primeiro mês das férias, e depois no segundo mês fui para Londres. Foi espetacular! – Guinchou ela.

A família da Maya era uma das mais ricas de todo o Japão (já agora, ela é francesa), e por isso as férias dela eram sempre em grande. Mas aposto que não eram mais animadas do que as minhas!

Depois de conversar-mos pelo caminho, chegamos à escola.

Era grande. Mesmo muito grande. As árvores eram grandes, os muros e portões eram grandes, os bancos de jardim eram grandes, os edifícios eram grandes, mas os alunos eram mais ou menos iguais a nós: calmos e descontraídos. Pelo menos a grande maioria era assim.

Entrei na grande escola e vi ao longe a mesma rapariga com quem me tinha cruzado ao sair de casa. Estava sozinha outra vez? Se calhar também era nova na escola, mas pude reparar que ela andava como se conhecesse bem o sítio.

Observei-a durante algum tempo, e a certa altura ela foi ter com um rapaz de cabelo rapado, de estatura média, e que andava no sentido oposto ao da rapariga.

Ao cruzarem-se, ambos trocaram um "dá cá mais cinco" sem dizerem uma palavra. Apenas sorriram sem sequer olharem um para o outro, o que foi estranho.

A rapariga continuou o seu caminho, deixando o rapaz para trás enquanto se dirigia a uma rapariga encostada a uma árvore. Assim que se aproximaram, uma folha caiu da mesma árvore e pousou na mão da rapariga que eu andava a seguir com o olhar. A que me tinha dado com os cabelos na cara.

Assim que a folha pousou na sua mão, foi apertada pela mesma com força, o que foi sinistro. Tinha vindo para um manicómio sem saber?

Quero dizer: quem é que aperta uma folha daquela maneira? Era como se estivesse chateada com o raio da folha!

Depois de alguns segundos com a mão fechada, a rapariga voltou a abrí-la e a folha estava... Em pó?

A folha estava literalmente desfeita, e os seus restinhos voavam da palma da mão daquela rapariga assustadora.

– Ah, estás aqui! Fiquei sem te ver. – Ouvi a Maya dizer.

– Hmm, desculpa. Distraí-me. – Tentei disfarçar. Afinal, a Maya era muito ciumenta, e se desconfiasse que eu estava a olhar para uma rapariga... Eu era um homem morto.

O toque da campainha foi ouvido por toda a escola e todos os alunos entraram no edifício. Procuramos pela sala doze, onde teríamos aula, e assim que a encontramos apresentámo-nos à turma.

Sentei-me no meu lugar, e imaginem só quem é que estava na carteira ao lado da minha? A rapariga que tinha destruído a folha e que tinha trocado um "dá cá mais cinco" com o careca (o rapaz não era careca, mas era mais fácil referir-me a ele desta forma).

Por acaso, esses dois alunos com quem a rapariga se tinha cruzado também eram da nossa turma. Depois, no intervalo, iria descobrir os nomes deles.

– Bom dia. – Dirigi-me à rapariga misteriosa. Ela olhou para mim e observou-me atentamente, e depois de alguns segundos assim virou-se para a frente outra vez.

Ela ignorou-me? Ela tinha mesmo acabado de me ignorar? Grande convencida... Tinha arriscado a minha vida para falar com ela? Sim, porque eu corria sérios riscos de vida ao falar com outras raparigas na presença da Maya...

Depois da aula acabar, disse à Maya que ia ao quarto de banho e aproveitei o raro momento em que estava sozinho para descobrir mais sobre aqueles três alunos.

Aproximei-me das listas de turma e encontrei as fotos deles: o careca chamava-se Noah Eduard, a rapariga da árvore e que tinha o cabelo apanhado chamava-se Catherine Nobigail, e a outra rapariga do cabelo solto e castanho claro que tinha destruído a folha chamava-se Anna Sheltery.

Eram todos nomes estranhos (os apelidos), mas resolvi investigar um pouco mais.

Procurei as fichas do quadro de honra do ano passado. O quadro de honra era onde apareciam os alunos que tinham obtido as melhores classificações durante o ano anterior. Procurei atentamente a foto de algum deles e encontrei apenas a da Anna.

Ela era uma excelente aluna, tinha as nossas máximas em todas as disciplinas. Foi então que deixei cair o queixo com uma frase no canto da folha.

– Melhor aluna da escola pelo terceiro ano consecutivo?! – Dei por mim a ler em voz alta para ter a certeza de que não estava a ver mal.

– Posso saber o que tem de tão interessante a minha ficha? – Ouvi uma voz perguntar.

Deixei escapar um pequeno guincho quando vi que era a Anna, encostada à parede, de braços cruzados, com uma expressão séria e com os olhos fechados. De facto, ela era mesmo convencida... E assustadora.

– E-Eu... Queria saber um pouco mais sobre ti... Quer dizer, sobre o tipo de aluna que és. – Tentei mentir o melhor que pude.

– Fica longe de mim. – Disse ela, abrindo os olhos. Ela não parecia assustada, mas acho que ela não queria pessoas perto dela.

– Lucas? – Ouvi a Maya chamar-me.

– M-Maya! Esta é a Anna. Ela é da nossa turma. – Informei-a, nervoso. Tinha sido apanhado a falar com outra rapariga!

– Sim, eu sei... – Respondeu ela, semi-serrando os olhos. Não sei porquê, mas acho que a Maya devia acalmar os ânimos...

– Olha, preciso de te contar uma coisa... – Disse à Maya, tirando-a dali.

Depois de lhe explicar que a Anna era a melhor aluna da escola, pensei que ela fosse querer ser amiga dela, mas acho que em vez disso fiz com que a raiva que ela já tinha por aquela miúda aumentasse ainda mais...

Anna [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora