Capítulo 18 - Aconteceu

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Caixa do Shadow, 10h30...

Recuperei a consciência depois da minha luta contra o Harry e a Catherine puxava-me para me encostar a uma rocha.

– Ele já acordou! – A Petra apareceu à minha frente e sorriu-me.

– Sentes-te bem? Nunca pensei que acordasses tão cedo. – A Catherine sentou-se à minha beira. Do meu outro lado estava o Noah, com bastantes feridas e desmaiado.

– Onde é que está a Anna? – Ignorei a pergunta da Catherine, acerca do meu estado.

– Falhei na minha missão... – A Petra deixou escapar uma cara triste.

– Como assim? – Olhei para a pequena fada.

– O lado demoníaco da Anna... – Ela olhou para o chão e de seguida para mim.

– Despertou. – Ela encolheu-se na areia da praia.

– O quê? – Procurei pelo areal e encontrei uma rapariga de costas para nós.

– Espera aí. O que é aquilo? – Apontei para as costas da Anna.

A rapariga tinha uma espécie de cauda de gato, negra, que saía por baixo do seu vestido e que tinha um laço negro na ponta, juntamente com um sino (daqueles guizos redondos que os gatos costumam ter nas coleiras).

– Mas que raio...? – Fiquei escandalizado com aquela cauda.

Até ficava bem na Anna, mas era estranho vê-la assim. Espero que aquilo desapareça...

– Ao que parece, é uma das características do lado demoníaco dela. – A Petra comentou.

Conseguia ver um dos olhos da Anna, que estava completamente branco. Era sinistro.

– Temos que a parar! – Exaltei-me, encarando a Petra.

– Ela não tem consciência do que está a fazer, não tens forma de a parar. – A Catherine informou-me, mas não desisti da ideia de pelo menos a tentar parar.

– Vamos lá! – O Harry desafiou a Anna para um combate, mas a mesma não reagiu, o que foi estranho.

– Como é que ela ficou tão descontrolada a ponto de despertar o seu lado demoníaco? – Perguntei com medo da resposta.

– Quando desmaiaste, ela ficou irritada com o Harry. E também preocupada contigo. – A Petra informou-me e fiquei incrédulo.

– Ela até chorou. – A Catherine olhou para mim e comecei a tossir. Não estava à espera de ouvir aquilo.

– O quê? – Perguntei depois de me acalmar.

– É verdade. E a Anna nunca mais voltou a chorar depois do pai dela morrer. – A Petra focou o seu olhar na rapariga em causa.

Senti-me importante, mas ao mesmo tempo mal assim que ouvi aquelas palavras. Não tinha o direito de a fazer chorar quando ela nunca mais o fez depois da morte do próprio pai. E, no final das contas, eu era também o culpado de tudo isto. Se não fosse por se ter preocupado comigo, ela nunca teria despertado o seu lado demoníaco.

A nossa conversa foi cortada com o som de algo a ser cortado e pensei que fosse a Anna.

Mas não era ela.

A rapariga desviava-se agilmente e sem preocupação de todos os golpes que o Harry lhe tentava dar. Estava sem palavras.

– Wow... – Foi a única coisa que consegui dizer.

Depois de o Harry se cansar de golpear o ar, a Anna olhou-o com os seus olhos completamente brancos. As posições tinham mudado: agora o Harry estava na posição inicial da Anna, e vice versa. A mesma continuava sem reações, e isso fazia-me confusão. Isto não tinha sentido nenhum...

– Nunca pensei que existisse um demónio tão forte. – Ouvi a Catherine comentar, mas a mesma foi interrompida assim que a Anna começou a correr em direção ao Harry.

Não me perguntem o que aconteceu depois disso, porque eu não consegui ver nada. Apenas vi um loiro cair ao chão, completamente arrumado, e com um grande corte no seu peito.

Percebi que a Anna estava descontrolada, fora de si. A Catherine tinha razão. Ela não tinha consciência do que estava a fazer.

– Não vou permitir que ela continue. – Ignorei as dores que tinha em todo o corpo e corri até à rapariga.

Assim que a alcancei, a mesma nem olhou para mim. Estava simplesmente focada em dar cabo do Harry.

– Anna, acorda! – Abanei-a para a frente e para trás.

– És louco?! – A voz da Petra aproximou-se de nós.

– Não, mas não posso deixá-la continuar com isto! – Reclamei e abanei a Anna mais uma vez.

– Vou dar o meu melhor. – A fada informou-me e entrou dentro do corpo da Anna. Sempre que ela o faz ficava estupefacto. Era algo engraçado, e ao mesmo tempo incrível.

– Vá, diz o meu nome. – Pedi à Anna. Tinha que ter a certeza de que ela me reconhecia.

Mas ela não me respondeu. Em vez disso, tentou empurrar-me, mas resisti. Os seus olhos começaram a ganhar alguma cor, ao que parecia o trabalho da Petra estava a ser bem sucedido. Lembrei-me de que das outras vezes em que a Anna se descontrolou, tive que a abraçar para ela se acalmar, por isso resolvi fazer o mesmo.

Desta vez, o abraço foi diferente. O corpo da rapariga estava bastante quente, mas ao mesmo tempo parecia frio. Sem vida. Não havia reação por parte dela ao meu abraço.

Ouvi alguns gemidos serem abafados pela rapariga, e depois de um ou dois gritinhos, ela pareceu voltar ao normal. Pelos vistos ela tinha dores quando voltava ao seu modo "Rainha da Seriedade".

Tentei perguntar-lhe se ela estava bem, visto que os seus olhos já tinham cor, mas a mesma apenas se inclinou para a frente, para mim, acabando por desmaiar.

– Consegui? – A Petra sorriu-me depois de abandonar o corpo da Anna.

– Sim. Felizmente conseguiste. – Sorri à pequena fada e deixei a Anna descansar um pouco mais, ajoelhando-me com ela no chão.

Sinceramente, não sabia como é que a vida deste grupo iria ser daqui para a frente. A Anna já tinha dificuldades em lutar mesmo nunca tendo despertado o seu lado demoníaco, e agora que isso tinha mesmo acontecido, acho que íamos ter muitos problemas com vários demónios que iam querer matá-la, nomeadamente o Shadow.

Se o lado demoníaco da Anna voltasse a despertar, ela acabava por perder a noção do que estava a fazer, e isso não nos ajudava em nada. Por outro lado, se ela soubesse controlar esse seu lado e o usasse para nossa vantagem, nesse caso seríamos muito mais fortes. Para além do mais, eu agora já conseguia usar magia. Isso também era muito bom para nós!

Pretendia tornar-me o melhor feiticeiro de sempre, e assim iria conseguir proteger a Anna. Esse era o meu objetivo!

Anna [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora