Capítulo 21 - Ladrão

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Ruas da cidade, 07h50...

– Atchim! – Berrei, escondendo o meu rosto num lenço de papel.

– Maldito gato... – Resmunguei enquanto limpava o nariz e os meus olhos marejados.

– És alérgico a gatos? – Perguntou a Petra. Estava com ela e com o resto do nosso grupo, a ir para a escola.

– Sim, e o gato da minha vizinha está sempre a enfiar-se na nossa casa... – Resmunguei enquanto esperava por mais um espirro.

– Isso das alergias é lixado. – Felizmente consegui perceber o que o Noah tinha dito por cima do meu milionésimo espirro.

– Nem imaginas... – Concordei, limpando mais uma vez o nariz.

– Enfim... Lá vamos nós outra vez. – A Catherine comentou assim que entrámos na escola.

A primeira coisa que vi foi o Harry sentado com a Maya num dos bancos de jardim. Vê-los juntos irritava-me. Ainda mais, sabendo que o Harry não era boa pessoa...

Depois das aulas da manhã, fomos todos para a cantina e a Petra, mais uma vez, escondeu-se por entre os cabelos da Catherine, como era habitual.

Estávamos a almoçar em paz, quando o Harry e a Maya se sentaram à nossa beira. Odiava o facto de o Harry andar na mesma escola que nós, e odiava ainda mais que a Maya estivesse com ele. Infelizmente, não lhe podia dizer quem o Harry realmente era...

– Vejam só o colar que eu encontrei ontem. Não é demais? – Arregalei os olhos assim que vi o colar que o Harry nos mostrou.

– Seu grande...! – A Anna rosnou depois de ver que aquele era o seu colar, com a fada, dando a volta à mesa para ficar em frente ao Harry.

– Quem é que pensas que és para me roubares isso?! – Surpreendi-me com a raiva da Anna, pelos vistos aquele colar era mesmo especial para ela.

– É teu? Não sabia... – O Harry pôs uma cara inocente e pensei que a Anna lhe fosse dar um estalo ou qualquer coisa assim, mas em vez disso ela fez algo muito mais assustador (na minha opinião...).

– Nunca mais te metas na minha vida. – Ela disse num tom de voz baixo, aproximando o seu rosto do do Harry e deixando os mesmos a centímetros um do outro.

A rapariga retirou violentamente o colar das mãos do Harry, pegou na maçã que tinha no seu tabuleiro e saiu do refeitório sem dizer mais nada.

Fiquei impressionado com a atitude dela. Pelos vistos a Anna já não tinha aquele medo horrível que costumava ter do Harry. Isso deixava-me feliz. Mas mesmo assim, ainda queria saber o que se tinha passado entre aqueles dois...

– Atchim! – Um dos meus espirros quebrou o silêncio que se tinha instado na nossa mesa e comecei a assoar o nariz.

– Qual é o problema da Anna? – A Maya explodiu e limpei os meus olhos marejados para olhar para ela.

– O problema da Anna? Ela não tem culpa que o Harry ande a roubar as coisas dela... – Retruquei enquanto limpava o nariz.

– Roubar? A sério? E por que é que o Harry haveria de roubar aquele colar estúpido? – A Maya continuou a conversa e comecei a ferver. Como é que ela pode ser tão cega?

– Não sei, mas sei que foi ele quem roubou o colar. A Anna não tinha necessidade de mentir acerca deste assunto. – Defendi a rapariga em causa.

– Tinha sim, visto que ela é maluca! Já viste bem as atitudes dela? Ela é... – Interrompi-a antes que ela pudesse acabar a frase.

– Para mim já chega. A Anna não é maluca, simplesmente tem uma vida difícil, e ninguém tem nada que ver com isso! – Levantei o meu tom de voz, mas fiquei sério. Não ia começar uma discussão para no final acabar aos berros com a minha melhor amiga e com uma plateia constituída por todos os alunos da escola que se encontravam na cantina a assistirem ao nosso "show" recheado de berros...

Levantei-me da minha cadeira, fui pousar o meu tabuleiro junto dos outros tabuleiros sujos e saí da cantina, levando comigo a minha maçã. Procurei a Anna em todas as salas e corredores da escola, na biblioteca, junto aos quartos de banho e balneários, na sala dos alunos, e até mesmo naquela sala de fotografia onde tínhamos ficado da outra vez, mas não a encontrei.

Olhem para mim, a andar por toda a escola feito maluco à procura da Miss Seriedade...

Eu devo estar doente ou algo assim.

Eu sei que a Anna não tinha ouvido o que a Maya tinha dito ainda agora, mas acho que estava a agir como se tal tivesse acontecido. Acho que tinha pena dela.

Cheguei ao campo de jogos e ela também não estava lá. Onde raio estaria? Sentei-me numa zona em que apenas existiam árvores e alguns bancos de jardim, para descansar um pouco. Estava cansado de andar a correr como um louco.

A minha vida tinha virado um carrocel desde que tinha entrado para esta escola, desde que tinha conhecido a Anna e todos os outros. Mesmo que quisesse desistir desta vida louca que andava a levar, já não o podia fazer. Já me tinha envolvido demasiado em tudo isto, para além do facto de ser um feiticeiro.

Para além disso, também tinha que proteger a Anna. Eu prometi isso. Eu sei que ela era bem mais forte do que eu e que portanto não precisava de mim para nada, mas agora que o seu lado demoníaco tinha despertado, ia estar aqui para acalmá-la quando fosse preciso. Ia mesmo!

– Acorda. – Ouvi uma voz vinda de cima dizer e saltei.

Olhei para cima e a Anna estava sentada num dos ramos da árvore na qual eu me tinha encostado.

– J-Já estás aí há quanto tempo? – Perguntei surpreendido.

– Já estava aqui antes de tu chegares. Tu é que não me viste... – Ela atirou o caroço da maça que tinha na mão para o chão.

– Claro... – Tirei a minha maçã do meu bolso e atirei-a à Anna, que por sua vez a apanhou mas se surpreendeu com o meu gesto.

– É para ti. – Sorri-lhe e ela ficou ligeiramente corada.

Espera, o quê?

Voltei a olhar para ela, e era verdade. De facto, ela estava mesmo corada. Voltei a sentar-me no chão e ficamos assim, sem dizer mais nada até termos que voltar para as aulas.

Esta miúda estava a deixar-me doido...

Completamente doido.

Anna [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora