Capítulo 50 - Dia de Natal

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Duas semanas depois...

Casa da Anna, 12h20...

Anna On#

Acordei com qualquer coisa em cima de mim, uma coisa que se mexia muito e fazia um barulho infernal.

– Vá lá, acorda! – A mesma coisa berrou e tapei-me com os lençóis. Queria dormir só mais um pouco...

– Anna! – A mesma voz gritou e tirei os lençóis bruscamente.

– O que queres, Petra?! – Gritei à fada e a mesma riu-se.

– Quero que te levantes! – Ela gritou mais alto e começou a saltar em cima da cama (mais precisamente em cima de mim...).

– És tão chata... – Informei e ela grunhiu.

– O que vamos fazer hoje? – Ela perguntou suspirei. Tantas perguntas logo pela manhã...

– Ainda não sei... – Levantei-me da cama e ela acabou por ir para o quarto de banho mexer nas minhas coisas.

Vesti-me rapidamente e depois de pegar numa maçã saí de casa. Durante a manhã ia exterminar alguns demónios que houvessem por aí. Depois ia almoçar com o Harry, e ocupava o resto da tarde com mais demónios estúpidos.

O Natal era hoje e portanto a minha mãe ia andar de um lado para o outro a fazer comida para uma multidão de pessoas. Não queria que ela me chateasse com esse tipo de coisas...

Anna Off#

Assim que tive os bilhetes nem consegui acreditar que os tinha conseguido mesmo. O Noah falou-me de um concerto de piano ontem, e disse que era hoje, por isso tive que correr todas as lojas da cidade para encontrar bilhetes.

Acho que era uma boa prenda de Natal, não só para a Anna mas também para mim. E assim, com este concerto ainda conseguia estar com ela no Natal!

Pensei em ligar-lhe ou mandar mensagem, mas achei que preferia falar pessoalmente com ela. Não estava muito preocupado, o pior que podia acontecer era levar uma tampa...

Saí da loja e segui em direção à casa da Anna. Sinceramente não sabia o que é que ela me ia dar de prenda de Natal, se é que ela me ia dar alguma coisa...

Para a Catherine comprei um peluche de gato cor-de-rosa. Sei que ela ia delirar com aquilo, até porque o Noah me disse que ela adorava gatos.

Aliás, ela foi fantasiada de gata na festa de Halloween!

Para o Noah tinha comprado um novo jogo de consola, acho que ele ia gostar. Era um dos jogos mais recentes...

Toquei à campainha da casa da Anna e respirei fundo enquanto esperava que alguém aparecesse. A porta abriu e fiquei um pouco mais aliviado por ser só a senhora Sheltery.

Oh, não! Eu devia ter comprado qualquer coisa para ela! Nem que fosse um caderno colorido... Sei lá?

– Olá, Lucas. – A mulher cumprimentou-me.

– O-Olá... – Tentei acalmar-me, mas foi em vão.

– Vieste falar com a Anna? – A senhora Sheltery perguntou e fiquei mais aliviado por ela não ter dito "Tens algum presente para mim?".

– Sim. – Informei e ela mudou a sua expressão para uma cara de lamento.

– Ela saiu. Acho que foi ter com o Harry. – Oh, boa...

– Hmm, entendo... Então eu volto mais tarde... Feliz Natal. – Surpreendi-me a mim próprio por a minha voz não ter soado cheia de irritação.

– Tudo bem. Feliz Natal! – A mãe da Anna sorriu-me e depois de nos despedirmos ela fechou a porta.

Dei um ponta-pé no chão e enterrei as mãos nos bolsos das calças, saindo de casa da Anna com passos largos.

Tinha vontade de queimar, cuspir e rasgar a porcaria dos bilhetes. Tive que estar uma hora na maldita fila da loja para os conseguir, e a Anna resolve passar o dia com o Harry?!

– Oh, Harry. Como eu gosto de ti! – Imitei com uma voz aguda. Que raiva!

– Olá. – A voz angelical disse e olhei em frente.

– Oh, olá. – Saudei a Susy e ela deu-me um pequeno sorriso.

– Onde vais passar o Natal? – Ela perguntou assim que parei em frente a ela.

– Em casa, pelos vistos... – Grunhi e desviei o olhar.

– Porque não passas connosco? – Ela devia estar a referir-se ao Jack e ao Zack. Confesso que não me sentia muito à vontade com aqueles dois para passar o Natal com eles.

Aliás, não me sentia à vontade com nenhum dos três...

Mas preferia passar o Natal com eles do que sozinho. De facto, eles são o melhor grupo em que posso estar. São todos feiticeiros, porreiros, preocupam-se comigo...

Não é que os outros não se preocupem. O problema é que as coisas mudaram.

– Bem, não sei... Depois digo alguma coisa. – Informei e ela encolheu os ombros.

Depois de trocarmos os nossos números de telemóvel despedimo-nos um do outro e voltei para casa.

Passei o dia a ajudar a família a arranjar as coisas para o Natal: escondi o fato de Pai Natal que o meu pai iria usar à noite por causa da Kate, enfiei alguns dos presentes que haviam na sala debaixo da árvore de Natal e ajudei a minha mãe na cozinha.

Resumindo: sou um bom menino!

Eu até não cozinho mal. O problema é que sou um pouco distraído e deixo as coisas queimarem, ou deixo cair a comida ao chão, ou outra coisa qualquer. Mas se estiver concentrado até consigo ser um bom cozinheiro!

– Mano, mano! O Pai Natal já chegou? – A Kate puxou-me pela milionésima vez e suspirei.

– Não, já disse que não... – Insisti e ela foi dar mais uma corrida, aproveitando para ir buscar maquilhagem para me pintar todo.

– Vou-te pintar as unhas. – Ela anunciou mas não liguei.

Quando olhei para as minhas mãos tinha cores por todo o lado: azul, rosa, amarelo florescente... Que lindo!

Corri até ao quarto de banho e felizmente consegui tirar todas aquelas cores, mas uma das minhas unhas ficou com uma cor azul e muito brilhante. Boa...

Depois do jantar informei a minha mãe de que precisava de sair e ela inventou logo fofoquices sobre a Anna e eu. É sempre a mesma coisa...

Voltei à casa dela pela segunda vez e tinha a certeza de que desta vez ia conseguir falar com ela. Toquei à campainha e respirei fundo, como de manhã.

A porta abriu e foi mais uma vez a senhora Sheltery quem me atendeu.

– Hmm... Desculpe estar a chatear outra vez, visto que é Natal, mas a Anna já chegou? – Perguntei desconfortavelmente e ela sorriu-me.

– Sim, chegou. Não te preocupes, não incomodas nada. Eu vou chamá-la. – A senhora Sheltery disse e assim que entrou em casa festejei a minha vitória, mas em silêncio.

Já não conseguia olhar para a mãe da Anna da mesma forma que olhava antes. Ela não parecia nada ser o tipo de pessoa que se quereria suicidar pela morte do marido.

A Anna surgiu junto à porta e vi que ela usava uma camisa branca com uma saia azul escura. Ela tinha-me dito que não gostava de branco.

– Ena! Para quem não gosta de branco... – Gozei e ela suspirou.

– A minha mãe obrigou-me a vestir esta porcaria... – Ela exclareceu e ri-me baixinho.

– O que é que queres? – Boa, estava agressiva.

Mostrei-lhe os bilhetes do concerto e ela abriu a boca, surpreendia. E eu, claro, com o meu sorriso confiante estampado na cara.

– Vens? – Perguntei e ela tirou um casaco preto de dentro de casa.

– Mãe, vou sair. – Ela gritou e fechou a porta de casa.

Eu sabia que ia conseguir...

Anna [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora