Capítulo 13 - Acordar

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Casa do Sr. Abraham, 10h30...

Anna On#

Acordei com fortes dores por todo o corpo e com várias vozes que falavam entre si, baixinho. Abri os olhos lentamente e vi que estava num quarto já conhecido, com quatro caras familiares a rodearem-me: a Petra, a Catherine, o Noah e o Lucas.

– Ela já acordou. Vai chamar o Sr. Abraham! – A Catherine ordenou ao Noah e ele saiu do quarto.

– Como é que te sentes? – O Lucas aproximou-se de mim e desviei o olhar. Não me apetecia responder.

Levantei-me da cama e comecei a andar como se não tivesse dores.

– Deita-te! – A voz rouca do Sr. Abraham interrompeu os meus pensamentos e dirigi o olhar para ele.

– Sabes ao menos o que é que te aconteceu? – Ele aproximou-se de mim.

– Não, mas também não importa. – Fechei os olhos e ouvi um grunhido escapar dos lábios do velhote.

– Sheltery, o teu caso é muito grave! – Ele gritou mas fiquei indiferente ao que ele disse.

– Por pouco não despertaste o teu lado demoníaco! – Prendi a respiração e abri os olhos assim que ele disse aquilo.

– O... – Nem sequer consegui falar. Como é que me podia ter descuidado tanto?

– Eu nunca ia deixar que isso acontecesse! – Berrei depois de algum tempo a pensar.

– Mas quase aconteceu! – O velhote gritou de volta e enfiei-me no quarto de banho para me vestir.

Arranjei uma camisola branca com uma saia qualquer e saí de casa sem dizer nada a ninguém, e muito menos levar o meu telemóvel. Só queria que me deixassem em paz.

Depois de despistar o Lucas (que me perseguiu quase metade do meu caminho), entrei no auditório de música da cidade e dirigi-me ao palco do mesmo, onde havia um piano.

Precisava de descontrair, e para isso, não havia nada melhor do que o piano. Apesar de não o mostrar, era uma das minhas grandes paixões. Faz parte de mim... Além disso, as minhas primeiras aulas de piano foram-me dadas pelo meu pai. Tinha saudades dele, simplesmente não conseguia evitar não pensar nele.

Pensava em milhões de coisas enquanto tocava uma música rápida e agitada, precisava de me esquecer de tudo o que tinha acontecido. Esquecer o meu pai, esquecer o Harry, esquecer a Layla...

Esquecer o Lucas...

Saltei no banco do piano e parei de tocar quando me lembrei dele. Consegui relembrar algumas partes da nossa luta no museu, quando ainda tinha alguma consciência. Lembrava-me de ele me ter protegido sem pensar duas vezes.

– Porquê que ele o fez...? – Deixei escapar e fechei o piano. Tinha perdido a vontade de tocar.

Não sabia exatamente quanto tempo tinha passado desde a ida ao museu, mas provavelmente só uma noite, visto que as minhas feridas ainda eram bem recentes.

Todas elas doíam bastante, mas não se comparavam a toda a dor que já tinha sentido ao longo da minha vida. Acho que sofrer era algo que já fazia parte de mim. Todos os dias me doía alguma coisa. Fosse essa uma dor física, ou psicológica...

Anna [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora