Capítulo 57 - Que bebida era aquela?

125 10 5
                                    

Casa, 7h40...

Se havia algum dia em que eu não queria ir para a escola, era hoje. Estava cheio de dores de cabeça, (vá-se lá saber porquê...), para além dos testes que teríamos esta semana. Mesmo assim, obriguei-me a mim próprio a levantar-me da cama e a vestir-me. Tinha que ser um bom menino e ir à escolinha...

– Já vou indo. – Informei os meus pais depois de descer as escadas.

– Tem um bom dia, mano. – A Kate disse-me enquanto me acenava com uma boneca na mão, por isso acabei por também retribuir com um sorriso.

Assim que abri a porta de casa encontrei o gato dos vizinhos a fazer chichi numa das preciosas roseiras da minha mãe.

O que é que ela criatura miserável estava aqui a fazer? A tentar estragar as flores da minha mãe e a tentar deixar-me com mais alergias?

Comecei a bater com o pé no chão para aquele animal horrendo desaparecer da minha vista, o que acabou por resultar.

Depois de o Super-Lucas livrar a cidade das flores de mais um malfeitor, pude seguir caminho até à escola, ainda que não tivesse vontade de ir.

– Olá, Lucas. – Ouvi uma voz feminina chamar durante o meu percurso, vinda de trás.

– Oh, bom dia. – Retribui à Susy, ao Jack e ao Zac.

– Eu não quero ir à escola... Quero voltar para o Segundo Mundo... – O Zac queixou-se enquanto se espreguiçava e andava.

– Podem explicar-me por que é que me atacaram a mim e à Anna? – Resolvi perguntar depois de me lembrar da maravilhosa forma como nos conhecemos.

– Nessa altura eles eram uns totós armados em rufias... – A Susy disse com a sua voz angelical enquanto andava um pouco mais à nossa frente.

– Bem, pode-se dizer que éramos... Mal comportados. – O Zac corrigiu e voltei a olhar para a frente.

Apesar de serem bastante discretos, eram pessoas com quem gostava de estar, e que tinham muito mais que ver comigo do que a Anna e os outros.

Sim, ao menos não tinham ataques de fúria ou de seriedade, como ela...

– Então e tu, Susy? Também vens do Segundo Mundo? – Resolvi perguntar. Afinal, ela tinha chegado aqui sei lá onde

– Sim. A Mia procurou por nós os três e pediu-nos que ajudassemos a Anna a matar o Shadow. – A rapariga respondeu-me.

– Hmm... Estou a ver. – Acabei por dizer.

– A escola! – O Jack gritou com um tom de voz assustado e alguns alunos que também estavam na rua olharam para nós. Esqueçam a parte em que eu disse que eles eram pessoas discretas...

Acabamos por entrar os quatro juntos e a primeira pessoa que vi foi a Maya.

– Bom dia, Lucas. – A mesma sorriu-me e forcei-me a dar-lhe outro sorriso. A verdade é que por causa das minhas dores de cabeça não estava com muita vontade de falar.

Assim, a Maya acabou por vir connosco até à sala e eu fui-me sentar no meu lugar, ficando a olhava pela janela.

Limitei-me a ficar a olhar para lá para fora com a cabeça pousada em cima da mesa, mas alguém se colocou à frente da minha carteira.

– Bom dia. – A Anna disse com um pequeno sorriso.

Espera. De onde é que vem esta simpatia toda?

– Bom dia. – Acabei por retribuir e levantei a cabeça da mesa, surpreendido com tanta simpatia.

– Tudo bem? – Ela perguntou e deixou-me ainda mais confuso. Por que é que ela estava a continuar a conversa? Ela nunca continua uma conversa... Só quando está zangada ou quer mostrar que tem razão (ainda que nem sempre a tenha).

– Sim, mais ou menos. – Respondi enquanto a minha cabeça continuava a latejar...

– Hmm... – Ela disse e ficou a olhar para o teto. Agora sim, era a Anna normal.

– Não achas que devíamos falar? – Perguntei ao final de alguns segundos em silêncio. Estava a referir-me ao beijo que ela me deu (quero mais uma vez deixar bem claro que foi ela que me beijou, não eu).

A mesma corou de imediato e abriu a boca. A sério que ela já não se lembrava? Pelos vistos foi mesmo importante para ela...

– D-Depois... – Ela gaguejou e olhou para o chão, começando a tirar vários livros da sua mochila à toa. Mesmo quando está nervosa desta maneira consegue ser fofa...

Algum tempo depois o professor entrou na sala e iniciou a aula, o que me fez esquecer a Anna durante algum tempo e voltar a dirigir-me às minhas dores de cabeça...

Depois das duas primeiras aulas de noventa minutos da manhã, tivemos Educação Física antes da hora do almoço e confesso que fiquei bastante cansado.

Tinha que jogar precisamente contra a Anna. Bom, ela é bastante boa em qualquer desporto tendo em conta que anda sempre a lutar com tudo o que mexe e a ter sessões de terapia com demónios de nível inferior.

Desta vez estávamos a jogar voleibol e foi ela quem lançou a bola para o outro lado da rede, lançando a mesma com toda a força.

Ninguém conseguiu parar aquela bola e por isso a equipa dela ganhou mais um ponto.

Toda a gente ficou surpreendida com aquela jogada, mas a Anna ficou simplesmente a mexer num dos seus pulsos enquanto olhava para nós como quem diz "O que foi? Não foi nada de especial...", tal como só a Anna faz.

Lá está. Para ela, fazer este tipo de coisas é normal.

A hora de almoço tinha chegado finalmente e eu comi a minha comida e metade da da Catherine, que hoje parecia não ter fome nenhuma. Acho que nunca tive tanta fome em toda a minha vida.

Anna On#

Depois daquele jogo de voleibol que parecia jogado com miúdos da primária, fui almoçar com a Catherine, o Lucas e o Noah enquanto a Petra se divertia a voar dentro do meu corpo e a ver se estava tudo bem com a minha alma. Segundo ela, hoje estava mais instável.

Tirei uma garrafa de água da minha mochila e vi que a mesma estava roxa. Mas que raio? Abri a tampa da mesma e cheirei-a. Aparentemente o seu cheiro estava igual ao de qualquer outra água. Acabei por dar um gole e vi que o sabor também era o mesmo. Era como se fosse uma água acabadinha de comprar, mas roxa.

Apesar daquela cor estranha acabei por bebê-la. Se estava boa não iria desperdiçar.

– Posso beber um bocadinho? – A Catherine pediu depois de entregar o seu prato ao Lucas, que não parava de comer desde que nos tínhamos sentado na mesa. Há quanto tempo é que ele não come? Há 2 meses?

– Claro. – Respondi à Catherine e entreguei-lhe a garrafa.

– Por que é que está roxa? Tens a certeza de que está boa? – A rapariga perguntou e assenti, por isso ela acabou por confiar na minha palavra e deu alguns goles.

O som da campainha ecoou pela cantina e todos os alunos se começaram a levantar das suas mesas, preparados (ou não) para mais uma tarde de aulas.

Sinceramente, para quem decora tudo à primeira a escola começa a ser uma grande seca...

Afinal, não faz muito sentido eu andar a estudar, visto que o meu único objetivo é matar o Shadow. Estou disposta a perder toda a minha vida para isso.

Anna [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora