Um belo dia

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Aquele dia foi uma vitória no meu livro pessoal. Não tinha acontecido nada de trágico, não tinham surgido más notícias, ninguém estava magoado e o mundo parecia não querer desabar, pelo menos por enquanto. Para mim, isso era uma vitória!

Ao chegar à mansão, senti uma forte necessidade de agradecer por aquele dia. Não importava se o dia ia a meio e algo ainda poderia acontecer. Nem tão pouco importava o facto de o meu cérebro querer ignorar todas as situações erradas e dramáticas em que ainda estava envolvida. Por algum motivo decidi aceitar esta estratégia e ignorar o desaparecimento das crianças, o tratamento contra o cancro do pai, a casa de família vandalizada, a irmã distante... Em vez disso, queria apenas agradecer pelo universo ter adiado mais um dia o "fim do mundo", pelo menos para mim.

Enfiei-me no quarto de hospedes onde tinha dormido nas noites anteriores, ajoelhei-me do lado direito da cama, juntei as palmas das mãos e rezei. Mostrei a minha gratidão perante aquele dia, aquela ida à polícia, aquela lufada de ar fresco. Depois, aproveitei a oração para pedir a Deus que permitisse que as coisas assim continuassem. Rezei pelos meus irmãos, pelo pai, pela Marian, por todos aqueles que eu amo e sem os quais não conseguia continuar e, por fim, rezei por mim. Pedi força, pedi sabedoria, pedi destreza e, por último, voltei a pedir força, ainda não convencida de que a teria.

Quando terminei o "Pai Nosso" ouvi a porta abrir-se atrás de mim. Olhei pelo canto do olho e vi Chris com um copo de água e um pão com manteiga. Como eu o amava... Ele cuidava tão bem de mim! Melhor do que eu era capaz de fazer na maioria das vezes...

-Vá, come! Até uma guerreira tem de comer para ter força! -disse com um sorriso. Ri-me e corei. -Quero conhecer melhor os teus amigos. O que achas de os convidar para vir cá jantar hoje?

-A sério? O Adam e a Zoe? -perguntei esperançosa. Assentiu com a cabeça. -Vais adorá-los! Eles são muito engraçados e são boas pessoas. Podíamos todos jogar uns jogos no pátio. Chamamos o Peter e a Megan também. Ah... e o Zack!

-Sim, porque não? -fez uma pausa para pegar no telemóvel. -Sophy... Gosto de te ver assim!

-Assim como? -fiz-me um bocado de parva.

-Assim... mais contente, mais viva! Às vezes assustas-me, sabias? Pareces uma pessoa... -parou, arrependido com o que disse.

-Podes dizer Chris, por favor.

-Não me leves a mal, mas eu ia dizer que às vezes não cuidas de ti e isso também me custa. Eu ia dizer que ocasionalmente pareces uma pessoa doente, desgastada, que funciona com o piloto automático ligado a toda a hora. E isso custa-me. -olhou-me esperando uma resposta.

Mantive-me em silêncio durante algum tempo. Tinha de interiorizar e processar cada palavra que acabara de ouvir. Sabia que as preocupações de Chris eram partilhadas pela generalidade das pessoas, custava-me que lhes custasse ver-me assim. De qualquer forma, também não sabia como mudar isso. A verdade é que era uma pessoa desgastada e pior, era uma pessoa desesperada. Mas hoje recusava-me a pensar nisso, a viver nessa angústia e agonia.

-Eu sei. -disse apenas.

Chris sorriu e saiu do quarto deixando-me novamente a falar com os meus botões. Comi em silêncio o pão que o meu namorado gentilmente me trouxe ao quarto. De seguida, troquei de roupa. Queria, quanto me fosse possível, descontrair. Precisava de nutrir as minhas amizades e relações caso tencionasse mantê-las e nada melhor do que vestir algo divertido para me alegrar o ânimo. O que vesti não foi suficiente ou pelo menos não me pareceu apropriado. Decidi ir pedir ajuda a Megan, a rainha da moda e a minha conselheira mais confiável.

-Megan, posso entrar? -gritei do lado de fora da porta enquanto batia delicadamente.

-Sim, claro! -gritou Megan do outro lado.

Em busca da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora