Confissões

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-Ela ia adorar-te!

-O que te leva a dizer isso? -Chris parecia intrigado com a minha afirmação.

-Primeiro porque me fazes muito feliz... -Chris sorriu subtilmente perante a minha declaração apesar de não ter levantado o olhar que fixava a ondulação da água do lago. -Depois porque a minha mãe conseguia ver o coração das pessoas, conseguia ver o bem nos outros e nunca se enganava!

-Eu gostava muito de a ter conhecido. Gostava de lhe pedir a tua mão, gostava de a tranquilizar e poder prometer-lhe tomar conta de ti e nunca te magoar...

-Não deves prometer coisas que não podes cumprir! -respondi-lhe sinceramente.

-Porque dizes isso? Achas que seria capaz de te magoar?

-Sim, claro! Todos somos! Eu não queria magoar ninguém e nas últimas semanas magoei todas as pessoas de quem mais gosto... -desabafei.

-Não é o mesmo Soph! Eu jamais de magoaria!

-Por favor, não faças isso, não digas essas coisas! É claro que me vais magoar, faz parte da vida! Não me faças acreditar nisso e ser mais difícil quando me desiludires...

-Soph mas eu...

-Chris, eu amo-te, mas não me faças isso! Não me tentes fazer acreditar que nunca me irás magoar porque vais... e eu vou-te magoar a ti, até já o fiz, e não quero que fiques desiludido ao ponto de já não me conseguires perdoar!

-Está bem. Também te amo. -Chris colocou-se em pé estendendo-me a mão para me ajudar a levantar. Aceitei a sua ajuda. Em frente a Chris senti-o amarrar a minha cintura abraçando-me por trás.

-Tenho outro sítio para te mostrar. -sussurrou-me ao ouvido fazendo-me estremecer pelo arrepio que me causou. -Mas vais ter de tirar as sapatilhas e as meias.

Copiei Chris quando este se começou a descalçar. Chris pegou em mim como se desmaiada estivesse e carregou-me pelo passadiço até ao caminho de onde tínhamos vindo. Em vez de virar à esquerda para regressar à cabana, Chris seguiu pela direita entre a margem do lago e as árvores de grande porte. Uns metros mais à frente consegui ver um banco de madeira estrategicamente colocado sobre a margem do lago permitindo a quem se sentasse molhar os pés. No lado direito do banho, pendurado sobre um velho ramo de um pinheiro opulento, estava imóvel um baloiço também de madeira feito à mão. Também o baloiço ficava sobre a água, tendo, na minha opinião, o mesmo objetivo do banco, isto é, molhar os pés enquanto se baloiça. Chris carregou-me até ao baloiço e sentou-me sobre a tábua de madeira.

-Força! Estás a precisar de voar. -disse-me sorridente.

Comecei a baloiçar a medo, apesar de não ter qualquer apreensão perante a construção do baloiço ou receio de cair na água. Chris sentou-se no banco de madeira com um pé esquerdo dentro de água e a perna direita esticada sobre o banco de modo a poder olhar para mim. Fechei os olhos e balancei. De cada vez que o baloiço tentava tocar nas nuvens ou regressava em direção à floresta, os meus pés tocavam na água fresca do lago fazendo chapinhar. Amarrei com força ambas as mãos às cordas que seguravam o baloiço e dei lanço. A brisa que fazia voar os meus cabelos e acariciava a minha pele arrepiada no pescoço permitiu-me respirar fundo. Senti um recomeço. Senti uma nova força que não sabia que tinha ou que, se não tinha, acabava de ser restaurada. Chris permanecia calado, imóvel e sereno. Senti vontade de preencher o silêncio, de falar com o meu companheiro e melhor amigo, mas não fui capaz. De início estranhei a minha apreensão perante o começo de uma nova conversa, mas logo percebi que se tratava do momento, ainda tinha muito por aproveitar daquele momento. Deixei-me estar, de sorriso rasgado continuei a balançar a favor do vento, chapinhando toda a água que entrava em contacto com os meus pés. Concentrei-me por viver o momento presente, por bloquear todo e qualquer pensamento menos positivo que me tentasse invadir e, por uns momentos, fui capaz. Depois disso, a felicidade começou a transformar-se fazendo-me pensar em todas as pessoas que mereciam um momento como aquele e que jamais o teriam, pelo menos no imediato. Abrandei, receosa de cair. Quando o baloiço estava já num balançar confortável e suave olhei para Chris.

Em busca da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora