Sou alérgica a cães!

105 23 7
                                    

Estava um domingo chuvoso e frio. Decidi adiantar um trabalho para inglês que tenho de entregar. Trouxe o computador para o quarto e quando comecei a trabalhar o Peter ainda dormia. Lembrei-me das crianças mas deixei-as a dormir até mais tarde um bocado.

Depois de ter começado o trabalho levantei-me e fui até à cozinha com intenção de tomar o pequeno-almoço e preparar também para o resto da família. Quando cheguei à cozinha a mesa estava posta e Jordyn estava a fazer panquecas.

-Bom dia Sophy! Senta-te! -disse-me bem disposta.

-Onde está o meu pai?

-Ainda está a dormir. -respondeu-me.

-Sabes, acho que bebo um iogurte líquido no quarto. Tenho de acabar um trabalho.

-O trabalho pode esperar. Senta-te, come aqui.

Fiquei com uma cara surpreendida a olhar para Jordyn.

-Não queria dizer para adiares o trabalho, só gostava que comesses aqui connosco, como uma família.

Apeteceu-me dizer-lhe "nós somos uma família, mas tu não fazes parte dela!" mas não disse. Fui ao frigorífico, tirei um iogurte líquido e dirigi-me para o quarto. Aquela mulher queria mesmo tomar o lugar da mãe. Queria controlar as nossas rotinas à sua maneira. Isto não está certo, mas como direi ao pai?! Ao chegar ao quarto acordei Peter.

-Pet, Pet, acorda!

-O que foi Sophy?!

-A Jordyn...

Peter saltou da cama num ápice e  sentou-se.

-Estavas a dizer...

-Oh sim, claro. A Jordyn levantou-se cedo e está na cozinha a preparar o "pequeno-almoço em família".

-Sophy... -começou com cabeça baixa e voz doce -Sou o único que acho que esta mulher vai tomar o lugar da mãe? Quero dizer, olha como o pai a trata. Ela já controla as nossas refeições. Ela já se sente à vontade para se levantar cedo e controlar tudo. Nós sabemos que de manhã tu acordas as crianças, fazes o pequeno-almoço e eu preparo-lhes as coisas para a escola e meto-os a lavar a cara e os dentes, a pentear o cabelo... Tal como a mãe nos fazia.

Peter tinha razão. As nossas vidas já estavam atribuladas e com uma nova mulher em casa não ia correr bem.

-Falamos com o pai? -perguntei-lhe.

-Não, tu falas com o pai. Sabes bem que ele só te dá ouvidos a ti.

-Está bem! -disse um pouco amedrontada. O nosso futuro estava nas minhas mãos.

Fui acordar as crianças que dormiam todas no quarto de Marian e Spencer. Disse-lhes para acordar o pai e irem tomar o pequeno-almoço "em família".

Não consigui concentrar-me no trabalho. Guardei o que tinha feito e sentei-me na cama. Comecei a pensar na reação da família quando o pai ao almoço anunciou que ia voltar a casar. Os avós ficaram estupefactos por nunca antes terem visto aquela mulher. As tias ficaram surpreendidas por terem uma mulher nova para as ajudar a cozinhar. Os tios não reagiram. Limitaram-se a ouvir e a observar. Os primos perguntaram quem era aquela "estranha" e continuaram a brincar. Nós os cinco fingirmos estar contentes com a notícia.

De repente, fiquei com a sensação de que algo me faltava. É claro. Mr. Spike ainda estava lá fora e não tinha comida. Saí do quarto num passo apressado. Ao passar pela cozinha ouvi o pai dizer:

-Sophy, porque não te sentas connosco a comer?

E a nova e estranha mulher de nome Jordyn respondeu por mim antes que eu pudesse abrir a boca:

-Está a fazer um trabalho que não pode esperar.   

Corrine percebeu que com aquela velocidade e para onde me dirigia ia soltar Mr. Spike e o ia trazer para dentro para comer os restos. Saltou da cadeira e gritou "Mr. Spike". O resto dos meus irmãos levantaram-se e fomos todos abrir a porta da casota para que o nosso lindo lavrador branco pudesse entrar e comer.

O cão ficou muito contente de nos ver e entrou de forma apressada e atrapalhada e foi direito ao pai e a Jordyn que estavam sentados um ao lado do outro. Ouviu-se um grande grito.

-AHHHHHHHH! Tirem este cão de cima de mim!

Começamos todos a rir, incluindo o pai.

-Eu sou alérgica a cães. Tirem-no daqui.

Fizemos todos silêncio de repente. O pai ordenou que prendêssemos Mr. Spike novamente e que ele comesse na sua casota. Jordyn acalmou-se e o pai ficou um pouco atrapalhado sem saber o que dizer. Saímos da sua beira e fomos lavar as mãos porque tínhamos todos tocado no pobre cão. Eu e Peter trocamos olhares. Peter e eu percebemos que Jordyn iria arranjar maneira de nos tirar o cão.

Em busca da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora