Pessoa de Interesse

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Acredito com cada célula do meu ser que não existem duas pessoas iguais. Tenho experiências diferentes das vividas pelos meus irmãos, tenho nuances da minha personalidade que são diferentes e gostos diferentes ainda que tenhamos todos crescido no mesmo ambiente e com a mesma educação. Assim como acredito que não existem duas pessoas iguais, também acredito que não há dois dias iguais, porque as coisas nunca acontecem duas vezes da mesma forma, há sempre alguma pequena mudança, há sempre algo novo.

Não há dois dias iguais, mas sinto que estou a viver um verdadeiro dejá vù. Voltei a acordar antes de qualquer outro inquilino da mansão. Voltei a ser invadida pelo silêncio da manhã soalheira e de ter de optar entre ficar sozinha ou acordar alguém para me fazer companhia. Estou ansiosa por começar o dia. Tenho a sensação, desde que abri os olhos esta manhã, de que tenho muito para concretizar hoje, ainda que não tenha nenhum plano muito traçado sobre o que tenho para fazer.

Decidi deixar a Megan e a Zoe a dormir confortável e calmamente no quarto e saí tentando minimizar ao máximo todo e qualquer barulho. Não só não quero acordar ninguém, como também não os quero assustar ou preocupar. Tal como nos dias anteriores, que apesar de diferentes, parecem estranhamente semelhantes, optei por não acordar ninguém e ocupar a minha manhã com os meus pensamentos.

O local onde me sinto mais protegida dos meus pensamentos, dentro do terreno da mansão, é no jardim. Sentei-me nos bancos de jardim, a olhar para as flores fechadas e ansiosas pelo sol, esperando que alguém acordasse para me fazer companhia. Ainda não totalmente imune aos meus pensamentos ruminantes, ensaiei várias vezes a conversa que queria ter com o pai assim que o apanhasse suficientemente forte para a ter. Desejava por uma oportunidade para lhe expressar o quão arrependida estava por não o ter apoiado mais e por todas as vezes em que o culpei por trazer a Jordyn para as nossas vidas. Ele sofria tanto ou mais do que nós e estávamos a ser egoístas. Queria que ele o soubesse. Mas acima de tudo, queria que ele o sentisse. E queria que ele visse que eu estava melhor, que o meu desaparecimento foi por um bom motivo e que os esforços do Chris tinham valido a pena. Reduzir o seu sofrimento e a sua dor era tudo o que me interessava naquele momento. Faria tudo o que estivesse ao meu alcance.

Perdida algures entre pensamentos e frases soltas, não me apercebi da pessoa que se aproximou de mim.

-Sophy?

-Que susto! Queres matar-me de coração? -respondi.

-Desculpa! Já estava a chamar-te desde a porta das traseiras, mas tu não me ouviste. O que fazes aqui sozinha?

Peter ainda estava de pijama e com o cabelo despenteado. Como o conhecia melhor do que ninguém conseguia fazer um palpite quase certo do porquê de ele estar ali. Tinha acordado para ir beber água, no entanto, ao passar pela sala viu a porta aberta e o seu receio de que fosse eu fê-lo investigar. Não precisava de lhe perguntar para saber.

-Eu sei o que estás a pensar e não é nada disso. Eu não tive insónias, dormi até muito bem. Só que madruguei e não queria acordar ninguém então vim para aqui para respirar ar puro e pensar. -respondi-lhe ainda que ele não me tivesse perguntado diretamente.

-Está bem, eu faço-te companhia. -disse sentando-se ao meu lado. -Em que é que estavas a pensar?

Engoli em seco antes de preparar uma resposta para lhe dar. Depois arrependi-me de ter dado um intervalo tão longo porque poderia passar a imagem de que estava a esconder alguma coisa. Isso só iria preocupar Peter ainda mais.

-Estava a pensar no que tenho para fazer e no que tenho por dizer.

-Dizer a quem? -perguntou-me confuso.

-Ao pai! Acho que tu também devias estar presente durante essa conversa.

-Está bem, mas posso primeiro saber qual é o tema?

Em busca da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora