Mitologia egípcia

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-Sophy, acorda! -a voz abafada e alegre de Peter gritava-me ao ouvindo.

-Sim... -disse ainda com os olhos fechados.

-São 10:00h! Onde estiveste ontem à noite?

-Na festa, tu sabias!

-Eu vi-te a chegar de carro, com um rapaz! Sophy...

-Não comeces, Peter! Deixa-me dormir!

-Não ouviste? São 10:00h! Levanta-te preguiçosa!

-Está bem, eu levanto-me daqui a 10 minutos.

-Humhum... -Peter puxou-me os cobertores e pegou em mim. -Vais levantar-te agora! Nem penses que te deixo ficar a dormir.

-Pronto, já estou acordada! Contente?

-Muito! Agora fala-me desse rapaz.

-Conheci-o na festa. Chama-se Chris, mora a quatro quarteirões daqui. -fiz uma pausa. -Espera aí, tu não estavas a dormir?

Peter solta uma gargalhada orgulhosa.

-E queres explicar como é que saíste daqui com um vestido vermelho novinho e chegaste com um vestido azul também novo? O que é que andaste a fazer?

-Pronto, eu conto-te! Eu estava na festa com a Zoe e ela trocou-me por um rapaz de quem gosta. Depois eu fiquei sozinha. Conheci o Chris e, acidentalmente, ele entornou a bebida por cima de mim e, para se redimir, convidou-me para ir a casa dele e emprestou-me um vestido da irmã.

Era mais do que óbvio que hoje teria de responder aos questionários e provocações do meu irmão. Peter não deixa passar uma, especialmente em relação a mim. Mas, ao mesmo tempo, eu sei que ele só quer o melhor para mim e que não é para ser cusco ou para se meter na minha vida (até porque ele constitui a parte mais importante dela).

-Hoje vamos ter com o Zack! -Peter disse.

-Mas ainda não descobrimos nada para lhe contar. Descobriste alguma coisa que não me tenhas contado? -perguntei-lhe.

-Não, mas podemos dizer-lhe que a Jordyn quer antecipar o casamento.

-Eu vou vestir-me e depois de tomar o pequeno almoço podemos ir.

Estava a entrar na cozinha quando reparei num símbolo numa língua que desconhecia escrito a giz no chão. Fiquei bastante curiosa. Quem o fez e porquê? Olhei em volta. Não vi ninguém ou outro símbolo daqueles no chão. Voltei a olhar. Um papel muito bem dobrado e encostado ao lado do frigorífico chamou-me a atenção. Aproximei-me e apanhei-o. Abri-o cuidadosamente. No papel estavam desenhados um par de olhos assustados e ao lado a palavra "Sekhmet". Aquela palavra assustou-me. Peter entrou na cozinha. Dobrei discretamente o papel e guardei-o no bolso.

-Está tudo bem, Sophy? -perguntou Peter, preocupado.

-Sim! Vamos? -respondi-lhe.

Fomos num passo apressado até à casa de Zack, que nos esperava na caverna. Nenhum de nós mostrava uma boa cara ou parecia ter qualquer tipo de informações preciosas para o caso.

-Olá Zack! Como estás? -Peter cumprimentou-o com um daqueles comprimentos longos inventados pelos dois.

-Como estão? Sophy, já arranjaste namorado? Ou ainda tenoa hipóteses? -disse Zack, divertido.

-Descobriste alguma coisa? -fui direta ao assunto.

-Não! Estava na esperança que vocês pudessem trazer novidades.

-Na verdade, temos uma coisa para te contar, mas sinceramente não sabemos como é que isso nos pode ajudar. -disse Peter, sentando-se numa das cadeiras da mesa central.

-É assim, a Jordyn pediu-nos para antecipar o casamento! Por causa da Marian, diz ela. Eu sinceramente não acreditei em nada do que ela disse.

Zack franziu as sobrancelhas. A sua cara era de quem se esforçava muito para se lembrar de alguma coisa.

-Uma coisa que me deixou intrigado foi o facto dela dizer que já tinha um vestido de noiva e que apenas precisava de fazer uns ajustes. -Peter disse escorregando pela cadeira.

-Ela disse que já tinha vestido? Pensem, talvez não ela, mas uma das muitas personagens que ela inventou se tivesse casado ou tivesse casamento marcado! -disse Zack, virando-se para os ecrãs e teclados.

Depois de escrevinhar por uns momentos e depois de Peter e eu trocarmos olhares preocupados, ele disse:

-"Josie Roses foge no dia do seu casamento com o empresário Paul Blunt e desaparece por completo. O seu paradeiro é ainda hoje desconhecido e a sua procura pela policia de Nashville foi dada como terminada. Paul Blunt diz numa entrevista "Esse dia foi um terrível pesadelo!"."

-Ou seja, é mesmo ela! -Peter disse abalado. -Tenho medo pelas crianças. Se algo lhes acontece eu não sei o que faço.

-Mas o que é que ela ganha em casar com o nosso pai? -perguntei confusa.

-É isso! Como é que não me lembrei mais cedo? Sophy é um génio! -disse Zack admirado.

Sorri ao de leve.

-O objetivo dela é casar com o vosso pai. Não por dinheiro, mas para ficar com nacionalidade e não ter de se preocupar em esconder o seu passado. Se ela casar com o vosso pai passa a pertencer à vossa família. Não tem de mudar de país, de aparência, de esquema. Ela tem dinheiro, basta ter o nome do vosso pai e pode viver em paz e a nadar no dinheiro dos outros.

-Então ela perdeu anos a seduzir o nosso pai para poder viver em paz e gastar o dinheiro que roubou? -disse completamente chocada.

-Dito por outras palavras, mas: sim. -respondeu-me Zack.

-Então nós temos de a desmascarar antes do casamento? Isso não é muito arriscado? -Peter está agora de cabeça baixa e fala num tom de voz baixo e triste. -As crianças não sabem disto, imagina que a Marian ou o Spencer descobrem alguma coisa. Ou que a Corrine ouve alguma coisa e diz a toda a gente. Tenho tanto medo do que lhes possa acontecer!

Saímos da casa de Zack e, como precisávamos de espairecer, fomos até ao parque. Peter estava calado. Não se mexia, não falava, não reagia, apenas respirava.

-Calma P! O melhor que temos a fazer é começar a organizar o casamento para que ela não desconfie de nada e tentar ver o tal sinal que tem no braço.

Não obtive resposta. Fomos para casa e quando chegamos estavam todos à nossa espera para almoçar. Peter continuou calado até ir trabalhar e, por isso, como ele não estava, decidi investigar mais sobre aquele número e aquele bilhete escondido perto do frigorífico. Liguei o computador e a primeira coisa que investiguei foi a palavra "Sekhmet".

"Sekhmet, na mitologia egípcia é a deusa da vingança e das doenças para os egípcios antigos. O centro de seu culto era na cidade de Mênfis e pode estar relacionada à Deusa nórdica Syn, guardadora dos portões dimensionais."

As palavras "vingança" e "doenças" fizeram eco na minha cabeça por uns segundos. Investiguei o número e pertencia à escrita egípcia. Quem escreveu aquilo e porquê. Peter teria-me dito se tivesse feito tal coisa e nenhum dos adultos que moravam agora connosco teria razões para o fazer. Levantei-me, fechei o computador e encaminhei-me para o quarto das crianças. Abri a porta com cuidado, não estava lá ninguém. Fechei a porta sem qualquer barulho e espreitei pela janela. Lá fora, as crianças brincavam divertidas com Mr. Spike. Comecei por procurar na secretária e debaixo das camas e, sinceramente, não sabia ao certo do que andava à procura. Não encontrei uma única coisa ligada à mitologia egípcia. Foi então que me lembrei de procurar na prateleira dos livros. Vi todas as prateleiras duas vezes e... nada. Não estava lá nada mítico ou egípcio. Abri os armários na esperança de encontrar alguma coisa que me pudesse ajudar. Depois de abrir todas as gavetas, procurar entre todos os brinquedos e mexer em todas as mochilas, caí exausta na cama de Marian. A minha cabeça embateu numa coisa dura que não eram definitivamente as penas pelas quais as almofadas eram constituídas. Peguei na almofada. Abri cuidadosamente o fecho e meti a mão lá dentro. Retirei de lá um livro chamado "O despertar do Príncipe". Comecei a ler a capa "Deuses do Egito- livro 1". Volto a pôr cuidadosamente o livro dentro da almofada. Deixei tudo impecavelmente igual e saí fechando a porta atrás de mim.



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