"Não contes a ninguém!"

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Fui até ao jardim. Mr. Spike veio a correr ter comigo. Acariciei-lhe as orelhas. As crianças vieram depois.

-Corrine, Spencer, hoje é a vossa vez de dar banho ao cão. -as caras dos meus irmãos alegraram-se. -Porque não vestem os biquínis, enchem a piscina de plástico e tomam banho com ele?

As crianças foram a correr, contentes, esquecendo-se de prender Mr. Spike, que olhava confuso.

-Sophy, também posso? Eu sei que não é a minha vez mas iria ser bastante divertido! -perguntou Marian triste.

-Eu preciso de ti agora! Vem comigo! Se formos rápidas, ainda podes ir.

Marian e eu fomos para o quarto das crianças. Sentei-me na sua cama.

-Marian, porque guardas um livro na tua almofada? -perguntei-lhe. A sua cara confusa foi visível. -Sabes que nós não temos segredos, certo?

-Sophy, eu não tenho nenhum livro na almofada. Estou a ler aquele livro ali! -apontou rapidamente para um livro que se encontrava na mesa de cabeceira de Spencer.

Aproximei-me, peguei na almofada e retirei de lá o livro.

-Essa cama não é minha! Eu e Spencer trocamos as camas por causa da Corrine! A minha agora é encostada à parede para ficar perto da Corrine, caso ela tenha um pesadelo. O Spencer dorme como uma pedra, sabias?

-Tens notado algo de estranho no Spencer? -perguntei-lhe.

-Acho que não! Quer dizer... -fez uma pausa. -Ele tem escrito muitas letras ou números numa língua esquisita.

Marian aproximou-se do armário, abri-o, e mostrou-me outro daqueles números num dos cantos.

-Onde é que ele tem escrito isso? -perguntei-lhe na esperança de vir a descobrir mais pistas.

-Ele escreve em muito sítios. Espera... -Marian abriu a gaveta dos pijamas de Spencer e depois de procurar por uns instantes disse:

-Eu sabia! Ele esconde sempre no mesmo sítio! Este é o caderno de notas do Spencer. Podemos ver se ele tem alguma coisa aqui escrita.

Peguei no caderno e abri-o, cuidadosamente. O caderno estava repleto daqueles números e de desenhos de crianças assustadas e a fugir de uma figura feminina de cabelo preto.

-Talvez isto não sejam números, mas sim letras! O Spencer anda a espalhar uma mensagem em código pela casa! -disse a Marian.

O olhar da minha irmã tornou-se obstante e escuro. O sorriso desvaniu-se da sua cara e a respiração ficou mais ofegante.

-Passa-se alguma coisa com o Spencer? Ele está louco?

-Não, claro que não! Olha Marian, tens de me prometer que não contas nada disto a ninguém! É um segredo nosso, está bem? Por favor! -fiz uma pausa. -Nem mesmo ao Spencer!

-Não vais contar ao Peter? -perguntou-me.

-Talvez, mas para já ninguém pode saber! -respondi-lhe.

Marian saiu. Olhei pela janela e ela já estava com os irmãos a dar banho ao cão.

Voltei para o quarto. Abri novamente o computador e comecei a digitar os símbolos esquisitos que tinha encontrado na cozinha e no guarda fatos das crianças. Depois de alguns minutos de pesquisa descobri finalmente o abecedário egípcio que continha aquelas letras. F e M, porque haveria alguém de escrever um F e um M por aí? Tem de haver mais! Não fazia qualquer sentido. Podiam ser nomes, mas de quem? Podiam ser meses como Fevereiro, Março ou Maio mas nenhum de nós fazia anos nesses meses. Nada batia certo e começava a incomodar-me. Fechei rapidamente o computador. Peguei em quatro toalhas e fui para o jardim.

-Vá, está na hora de saírem. -disse-lhes.

-Oh Sophy, só mais um bocado! -retorquíram.

-Não quero que fiquem doentes! Mostrem-me as vossas mãos. Quem tiver mãos de velhinha tem de sair!

Aquele truque nunca falhava. Depois de tanto tempo na água era óbvio que estariam com as peles enrugadas. Embrulhei cada um deles numa toalha, incluindo Mr. Spike. Depois de limpas as crianças foram ver televisão enquanto dei comida ao pobre lavrador branco e o prendi na casota.

Peter chegou a casa eram já 17h. Fiz um lanche e fizemos um pique-nique na parte exterior da casa. O pai e Jordyn regressaram uma hora depois.

-Olá crianças! -disse o pai quando chegou.

Fomos todos a correr imediatamente e saltamos-lhe para o colo, derrubando-o. Jordyn ficou ali, isolada, sozinha, provavelmente a pensar que nunca conseguiria conquistar o nosso amor e isso era verdade. Sempre fomos muito unidos, não seria tarefa fácil para ninguém integrar-se.

-Vá crianças, tenham calma, estou a ficar velho! -gargalhou o pai.

Foi invadido por beijos e abraços de todos. Jordyn entrou em casa sussurrando que ia arrumar a cozinha e preparar o jantar.

-Jordyn querida, o que dizes se hoje formos jantar fora? -foi o pai quem perguntou.

Saímos por volta das oito. Estávamos todos muito arranjados, as meninas de vestido e os meninos de camisa e gravata. No restaurante, todos nos olhavam e realmente parecia um lindo jantar de família. Enquanto estávamos à espera do jantar Jordyn disse:

-Spencer, não vais comer com essas mãos todas sujas, pois não?

Spencer gaguejou ao de leve.

-Vá, eu vou contigo à casa de banho lavar as mãos e aproveito para retocar a maquilhagem. -disse, respondendo a si própria.

Ainda íamos nas entradas quando regressaram. Spencer estava com um expressão confusa e desconfiada. Sentou-se ao lado de Marian que logo lhe perguntou alguma coisa em segredo. Da conversa dos dois apenas consegui perceber "os egípcios antigos são mais fáceis de compreender do que as pessoas de agora". Fiquei assustada. As crianças não costumam dizer coisas como estas. A noite correu na perfeição. O jantar estava delicioso e todos passaram um bom tempo em família (mais a Jordyn). Provavelmente, mesmo que Jordyn se case com o pai, eu nunca a vou considerar família. É complicado!

Quando chegamos a casa era tarde. No céu escuro, as estrelas brilhavam e o frio já se fazia sentir. Eu e Peter fomos rapidamente deitar as crianças e não nos demoramos a deitar-nos também. O sono estava a demorar. Enquanto não conseguia dormir comecei a pensar no casamento. Peguei num folha de papel e comecei a escrevinhar os nomes dos convidados.

"1º (família da mãmã) Avô e avó; tio Charlie, a tia Katherine e os gémeos, Bella e James; tio Danny, a tia Christine, a prima Anne e o recém nascido Michael.

2º (família do papá) Avô e avó; tia Sarah e o namorado John; tia Cadence e tio Tom, tia Charlotte, o tio Sam, o pequeno Jimmy e o Alan.

3º (família da Jordyn)". Fiz uma pausa quando cheguei à família de Jordyn. Ela nunca antes tinha mencionado qualquer membro da sua família, talvez não tivesse ninguém. Depois prossegui:

"4º (família afastada) prima Jane e o filho; primo Andrew e a irmã; madrinha e padrinho do pai; Madrinha de Peter; tia Ivy, irmão e marido; prima Hannah, tio Paul, primo Paul; padrinho de Spencer e sua namorada.

5º (amigos do pai) John P., Cedric M., James F., Victor L., Antony M., Emely G., Barbara D., Caroline T.

6º (amigos de jordyn)

7º (colegas de trabalho de ambos) o patrão, sua mulher e filhos; rececionista e o marido; a Jennah das limpezas; Mr. Philips; Mrs. Danniels."

Quando acabei fiz o total, davam 54 convidados sem a família e os amigos de Jordyn o que era um valor aceitável. Estava agora exausta, os meus olhos estavam a fechar-se lentamente e a minha boca abria a cada dois minutos que passavam. Aconcheguei-me, apaguei a luz do candeeiro e adormeci.

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