Praia

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-A mantinha da Corrine! Aquela manta cor-de-rosa sem a qual ela não dorme! Não está aqui! -gritei histericamente não conseguindo conter qualquer emoção.

-Tens razão, não está mesmo! Mas estava aqui? Tens a certeza? -perguntou-me não se querendo convencer pela minha histeria.

-Peter passei inúmeras horas neste quarto, inclusive peguei nessa manta e coloquei-a delicadamente sobre a cama desfeita. Sei perfeitamente que estava aqui! -respondi-lhe quase sem parar para respirar e colocar os pés de volta na terra.

Convencido, Peter chamou os detetives que nos pediram fotografias e uma descrição detalhada da manta cor-de-rosa de Corrine. Tinha sido uma das últimas coisas que a mãe tinha comprado antes do seu nascimento e era o objeto preferido de Corrine. Levava a manta para todo o lado, não conseguia dormir sem ela e sofria sempre que tinha de a mandar para lavar.

Assim que me acalmei um segundo senti-me desiludida por não me ter lembrado dessa manta mais cedo. Como estaria Corrine sem a sua manta onde quer que estivesse? Com certeza estaria amedrontada, não teria qualquer objeto de conforto. Pensar nisso dava-me arrepios de alto a baixo. Tentei conter as lágrimas, mas era sempre em vão.

Avançamos para outras divisões da casa. Tal como na sala: a cozinha, a despensa, a garagem e o jardim foram completamente inúteis. Nada tinha sido levado e estava tudo igualmente desarrumado e destruído. Faltou apenas a casa de banho ao fundo do corredor, a casa de banho mais concorrida da casa. Essa casa de banho era partilhada por todos os irmãos, visto que os pais tinham uma só para eles. Não havia um momento em que a casa de banho estivesse desocupada excetuando talvez quando estávamos todos na escola.

Entrei a medo na casa de banho porque sabia que seria recebida pelos nomes na parede onde normalmente estariam os nossos copos com as escovas dos dentes. Não estava preparada para ver todos os nossos nomes, por ordem, nem o que seria deles depois do furacão que pela casa passou. Não estava preparada para ser catapultada para o passado onde tudo era bom, onde os dias chegavam e partiam sem grandes eventos, onde estávamos todos juntos e lutávamos uns com os outros para usar a casa de banho. A casa de banho estava estranhamente intacta relativamente ao resto da casa. Os copos pendurados estavam ligeiramente inclinados e as toalhas no chão, mas tirando isso tudo parecia estar perfeito. Até o meu seguir até ao armário em cima da sanita e sentir que algo ali faltava. Usei toda a minha capacidade intelectual, a minha memória e o restar da minha energia para fazer uma lista do que ali deveria estar. Rolos extra de papel higiénico, toalhas de banho, cremes de corpo, toalhitas, o vaso decorativo com peixinhos que o pai comprou numa feirinha. Parei. Onde raio estava o vaso?

-Peter! Ajuda-me a procurar aquele vaso com peixinhos que costumava estar no armário. -pedi-lhe.

Reviramos a casa de banho toda, voltamos a ver em toda a casa especificamente por esse vaso e nada. Estava desaparecido. Tal como fizemos para a manta, procuramos fotografias do vaso, porém nada encontramos. No entanto, era relativamente fácil de fazer uma detalhada descrição daquele pedaço de louça, o que deixou os detetives bastante mais positivos. Ficamos um total de duas horas dentro da casa e o meu físico começava agora a dar sinais de fraqueza.

À saída os investigadores agradeceram a nossa ajuda e tranquilizaram-nos de que estariam a fazer tudo para trazer as crianças de volta. Por mais frustrante que fosse, eu sabia que davam o seu melhor. Chris e Megan estavam à nossa espera ao virar da esquina na rua paralela à nossa. Riam-se abruptamente apesar de não saber o motivo. Contagiado, Peter começou também a rir como se naquele momento nada houvesse a fazer senão ceder às gargalhadas. Uma força estranha cresceu dentro de mim levando-me a desatar a rir sem qualquer motivo aparente. Talvez esta fosse a forma que o destino tinha de me libertar um pouco da tristeza e da dor, ou talvez fosse a maneira de me aproximar às pessoas que me rodeavam e de quem gostava tanto. De qualquer forma, só podia estar agradecida ao destino, a Deus, à mamã ou a quem estivesse por detrás disto. Fez-me mesmo bem.

Em busca da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora