Lamentações

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-Deixa-me ajudar-te! -gritei-lhe do outro extremo da cozinha.

-As visitas não têm de cozinhar nesta humilde cabana. -respondeu-me brincalhão. -Vou fazer as melhores sandes de bacon que já provaste. Pouco queijo para a miss Sophia Covery, eu sei! -completou Chris animado.

-Pronto, então vou ficar aqui a olhar para ti!

-Nem pensar, vais me desconcentrar e ainda deito fogo à cabana! Vai até lá fora ler um livro. -sugeriu.

-Eu não trouxe nenhum livro.

-Tens ali atrás alguns, podes escolher o que quiseres! -disse apontando para uma estante na sala. -Ah e o melhor lugar para ler um livro é no baloiço.

Segui as sugestões de Chris à letra. Demorei um pouco mais a escolher o livro, não sabendo exatamente aquilo que queria ler para passar o tempo. Acabei por pegar num velho romance de Agatha Christie e sentei-me do lado direito do baloiço para evitar o sol que agora escaldava.

O tempo parou enquanto lia, até Chris aparecer com duas sandes de bacon. Comemos em silêncio enquanto observávamos a bela paisagem que tínhamos à frente. Todo aquele momento foi delicioso, não apenas a sandes. Os olhos verdes de Chris brilhavam enquanto saboreava a comida que fez com tanto amor. Dava gosto vê-lo apreciar tanto um pedaço de pão, mas esse era um dos motivos que faziam o meu coração bater de amor por ele: a sua capacidade de amor as coisas simples e a sua humilde simplicidade.

Dei por mim a pensar como seria possível alguém com tanto dinheiro e tantas posses ser tão humilde, mas depois lembrei-me que Chris tinha ótimos pais, que lhe deram uma boa educação e cujos valores eram partilhados por todos os filhos. Chris tinha também sofrido bastante com o facto de ser, apesar de ele não gostar da terminologia, rico. O dinheiro atrai a maldade e eu podia atestá-lo, porque tanto quanto sabia Jordyn era movida pela ganância e o poder que só o dinheiro lhe podiam dar. Para mim um mundo melhor passava pela extinção do dinheiro, mas no fundo sabia que tal não era possível. Fui aprendido com os meus poucos anos de experiência nesta vida que tanto o bem como o mal podem florir em qualquer situação ou por qualquer motivo. Já tinha visto com os meus próprios olhos o amor e o apoio de estranhos, assim como também já tinha sofrido na pele a dor e a angústia provocada por estranhos. À quem diga que "faz parte da vida" e aprendi a aceitá-lo, ou pelo menos estou no processo.

Chris pegou nos dois pratos agora vazios e levou-os para a cozinha, colocando-os na máquina de lavar. Tal como a casa de Chris, a Cabana era extremamente sofisticada e tecnológica, mas tal só fazia sentido quando me lembrava da profissão de Mr. Mattews.

Quando voltou, Chris sentou-se novamente ao meu lado no baloiço. Não disse uma palavra, tal como eu. Ficamos uns cinco minutos no silêncio, provavelmente ponderando o que iríamos dizer a seguir. Da minha parte ainda havia muito por dizer, mas não queria chorar. Do lado de Chris era difícil de ler. A sua expressão facial demonstrava um misto de preocupação e apreensão, o que quer que isso significasse.

-Estás melhor? -perguntou-me Chris ao mesmo tempo que eu comentei "O Peter deve estar...". Soltamos uma gargalhada por acharmos graça à coincidência. Ignorei completamente a pergunta de Chris quando ele continuou a minha intervenção.

-O Peter está muito preocupado contigo. Já falaste com ele hoje? -perguntou-me.

-Ele está muito desiludido comigo... -respondi-lhe. -Sabes... nós nunca discutíamos ou discordávamos assim antes. Não me lembro de alguma vez nos termos chateado sequer, a não ser aquelas coisas inofensivas de irmãos... ele gostava de me chatear! -sorri ao recordar-me dos velhos tempos. -A culpa é toda minha e não sei lidar com o facto de o Peter, o meu primeiro irmão, o meu melhor amigo, a pessoa que me conhece melhor do que ninguém, estar tão desiludido comigo. -continuei numa velocidade um pouco mais acelerada do que o meu normal.

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