Em busca da felicidade

Esperança

Quando percorremos de carro a curva que permite a entrada pelos grandes portões da mansão, fomos recebidos por todos os inquilinos da mansão. Ao longe, conseguia distinguir cerca de 15 silhuetas em pé, esperando pacientemente que Peter estacionasse o carro. Entendi pela receção que talvez o bilhete de Peter tivesse libertado uma tamanha esperança ao ponto de acharem que precisavam de nos esperar à porta. Ainda que não tivéssemos informações muito concretas para partilhar, não pude deixar de sorrir ao sentir o devorador sentimento de amor que era emanado daquelas pessoas.

Apenas quando Peter aproximou o carro da entrada, consegui ver o pai, sentado na sua cadeira de rodas, atrás da multidão, muito quieto. O seu olhar de desespero, confundia-se com uma expressão de solidão, pelo que me senti na obrigação de aumentar o meu sorriso para o tranquilizar.

Saí do carro, um bocado envergonhada por ver 30 pares de olhos postos em mim. Queria desesperadamente que alguém quebrasse o silêncio para não me sentir tão exposta. Como sempre, Chris veio para me salvar, quão cavaleiro sobre um cavalo branco.

-E então? O que ficaram a saber? -perguntou a ninguém em concreto.

-Trazemos boas notícias. -disse Peter para levantar o ar pesado da expectativa.

-A polícia conseguiu identificar uma pessoa de interesse. -acrescentei.

-Isso são ótimas notícias! -disse Mrs. Mattews com um enorme sorriso, apertando com força o braço do marido.

-Gostávamos de poder dizer que já os temos connosco ou que sabemos onde estão, mas temos de celebrar cada pequena vitória e o que nos disseram hoje é uma grande vitória! Não há quaisquer indícios de que as crianças estejam feridas e estamos um passo mais perto de as encontrar. -disse Peter tentando ser o mais positivo possível.

-Isso significa que ainda não sabem quem ele é? -acrescentou Zack que nestes assuntos estava um passo à frente dos restantes.

-Mais ou menos. Significa que temos imagens do suspeito, sabemos a sua fisionomia, a cor do seu cabelo, a forma como se mexe... mas não sabemos quem é. Não foi possível fazer recognição facial e nem eu nem o Peter conseguimos identificá-lo. É um perfeito desconhecido. -acrescentei.

-No entanto hoje é um grande dia. A guerra ainda não acabou, mas sinto que ganhamos estas batalha. Estamos mais próximos de trazer as crianças para casa e isso é um ótimo motivo para sorrir. -disse Peter, tentando convencer a multidão.

-O Peter tem razão! E hoje é um dia ainda mais feliz por termos a oportunidade de estarmos todos juntos. Obrigada a todos pelo vosso apoio. -disse-lhes com uma lágrima no canto do olho.

A Megan desceu os degraus da entrada da mansão e lançou-se nos meus braços. Chris seguiu-a e abraçou Peter. Depois ajudaram-nos a subir a escadaria até estarmos no epicentro do grupo de pessoas que nos esperava. Um a um vieram juntar-se a um grande abraço de grupo, aquecendo instantaneamente o meu coração.

Presa entre dezenas de braços, as lágrimas começaram a escorrer pela minha face. Apesar da dor e da reafirmação de que a guerra estava ainda longe de terminar, sentir todo aquele amor era surpreendente. Saber que um dia traria as crianças para aquele meio, onde seriam tão amadas e adoradas, onde teriam tanto apoio e segurança, era a melhor sensação do mundo. Era a prova de que tudo aquilo tinha valido a pena. Tínhamos criado uma família, bem maior do que a nossa própria família. A mãe haveria de estar a cantar no céu.

O abraço dispersou-se e, aos pares, fomos entrando todos dentro da mansão. Os ânimos gerais estavam muito positivos e o barulho de pessoas contentes começava novamente a fazer-se ouvir. Sem me aperceber ficou decidido que iríamos fazer um churrasco no jardim para comemorar as boas notícias. Gostei da sugestão, porém senti que antes de entrar no espírito da festa, precisava de ter "a conversa" com o pai.