Veneno para Ratos

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A manhã de 25 de Dezembro foi incrivelmente animada. A Nanny ainda não tinha acordado quando Peter e eu trocamos com o avô e a tia Sarah e fomos para junto das crianças que nos esperavam em casa, ansiosas por abrir os tão desejados presentes.

Oferecer sempre foi uma coisa que adorei fazer. Poder ver o olhar de entusiasmo e o sorriso na cara das pessoas a quem oferecemos uma prenda é algo de fascinante. Assistir é bem melhor, na minha opinião, e era também mais fácil. Dar algo a alguém é uma bonita forma de se demonstrar sentimentos e eu adorava experienciar esses tão bons momentos em família. Os olhos brilhantes e bem abertos dos meus irmãos mais novos era, sem sombra para dúvidas, o que de mais bonito tinham.

Eu sempre achara os olhos a parte mais bonita de cada ser humano. Os olhos dizem muito de uma pessoa e mostram muitas vezes, o que não se consegue ver por dentro. Certo dia alguém disse "no amplo silêncio do meu olhar bailam fragmentos cinéticos de mim, cintilando em sincronia", e não podia estar mais de acordo. Estou certa de que o nosso olhar transmite, a quem o sabe avaliar, exatamente quem nós realmente somos. E o olhar é uma forma de comunicar. Não sou só eu quem o diz, alguém, antes de mim, disse "as palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um" e dá que pensar.

As prendas estavam abertas; até Jordyn demonstrava um enorme sorriso ao receber a tão desejada pulseira de diamantes que eu lhe havia comprado.

Decidimos ficar a manhã no sofá a ver "Sozinho em casa 2" com a lareira acesa e as canecas de chocolate quente na pequena mesa da sala. O almoço foi o bacalhau que havíamos preparado para a véspera e, não me querendo gabar, estava maravilhoso! Agora percebo o porquê de a mãe insistir comigo e com Peter para que aprendêssemos a cozinha bastante cedo.

Fui até ao frigorífico e constatei que, de facto, era a minha vez de alimentar Mr. Spike que andava bastante sozinho. Vesti o robe, calcei as botas apressadamente abri a porta e fui diretamente à casota de Mr. Spike que se encontrava agora na garagem, devido ao frio que se faz sentir no inverno.

Bastava abrir a porta e dizer "Mr. Spike" para que o cachorro viesse a correr ter comigo, cheio de saudades e com fome. Foi o que fiz. No entanto desta vez alguma coisa não estava bem. Mr. Spike não ladrou nem veio a correr. Senti, por todo o corpo, um sentimento de pura preocupação. Voltei a chamar por ele e, mais uma vez, não obtive resposta. Fechei a porta da garagem e caminhei até à casota do lavrador. Olhei para a terrina da água que estava aparentemente vazia e depois para a da comida. Esta, ao contrário da primeira, estava cheia e suscitou-me alguma incerteza. Talvez Peter o tivesse alimentado com medo de que eu me pudesse esquecer. Talvez o pai cá tivesse vindo e aproveitasse para o alimentar. Não devia ser nada. Mr. Spike estava do outro lado da casota deitado. A sua respiração era lenta e não teve qualquer reação à minha presença. Algo não estava bem. Levantei-lhe a cabeça mas o pobre animal pouca força para se levantar tinha. O meu coração começou a bater mais rápido. Corri como nunca tinha corrido até à cozinha.

-Peter! Peter, vem ajudar-me! O Spike não está bem! –disse-lhe, quase sem folego.

-O que se passa? –perguntou-me numa tentativa de resposta.

-Eu não sei! Ele está deitado e a respiração está muito lenta para um cão. Ele mal tem força para se levantar. Algo se passa com ele! –disse quase a chorar. Não o quero perder!

Todos os meus irmãos foram a correr até à garagem. O pai chegou pouco depois, uma vez que não conseguia nem podia correr. Apenas Jordyn ficou em casa devido à sua lamentável e conveniente alergia a cães. Após alguns minutos todos constatamos que não valia a pena perder tempo. Aquele cão não estava bem e tínhamos de o levar ao veterinário.

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