Em busca da felicidade

"A Rapariga que mudava vidas"

Ao jantar toda a gente se esforçou imenso para não tocar no assunto e evitar conversas relacionadas com crianças, para que Peter e eu pudéssemos ter um jantar sossegado, uma vez que não havíamos comido nada há horas. Todos os irmãos de Chris eram bastante atenciosos e, para quebrar o gelo, contaram algumas das suas aventuras enquanto crianças. Consegui apenas soltar um pequeno sorriso, que permaneceu durante alguns segundos e se esgueirou. Todos fizeram com que ambos, Peter e eu, nos sentíssemos em casa, o que, em parte, melhorou a nossa situação atual ao sabermos que podíamos contar com eles. Mr. e Mrs. Mattew contaram algumas aventuras das suas últimas férias em família, e até nos convidaram para ir à Islândia no próximo ano. Convite esse, que não pudemos aceitar.

Vi os olhares de Peter e Megan cruzarem-se por várias vezes ao longo de todo o jantar. Os sorrisos trocados por ambos fizeram-me sentir que, desta vez, talvez houvesse um final feliz para Peter. Tudo corria serenamente até a noite cair e, no céu, milhares de pequenas estrelas reluzentes aparecerem. A noite, ainda que calma, era assustadora e o meu coração insistia em perguntar onde estariam as crianças numa noite como aquelas. Peter, Chris e eu caímos exaustos. Eram já 23h. Não sei nada do que aconteceu depois. Sei apenas que acordei na manhã seguinte, na cama de Megan, e que ao meu lado encontrava-se apenas um bilhete que dizia:

"Estavas a dormir profundamente, não quis acordar-te. O pequeno-almoço está servido na mesa da sala. Desce quando quiseres comer. Estou no campo de Ténis com os meus irmãos. Ass: Megan"

Na poltrona ao lado da cama estavam dois conjuntos de roupa para eu escolher. De um lado um vestido verde, sem lantejoulas ou brilhantes, mesmo a minha cara. Do outro, uma saia azul com uma camisa branca rendada. Eram ambos conjuntos bastante bem estudados para mim. Não eram demasiado vistosos ou elegantes, mas modestos e confortáveis. Lembrei-me então de imaginar qual dos outfits Chris gostaria mais e na minha mente viajei até ao dia em que nos conhecemos e ele me emprestou aquele lindo vestido de Megan. A minha mente ainda se lembrava perfeitamente da reação de Chris quando saí da luxuosa casa de banho. A decisão estava tomada. Peguei no lindo vestido verde esmeralda e vesti-o. Não via em qualquer parte algo para eu calçar, mas sabia que Megan não se havia esquecido de algo tão importante. Mais à frente, perto do seu guarda-fatos principal (Megan tinha algo como três pequenos quartos para a sua roupa, sapatos e acessórios) encontrei três pares de sapatos. Um par de botas castanhas com um pequeno tacão, umas bonitas sabrinas verdes com um laço na parte traseira e uns saltos-altos pretos brinlhantes. Os três pares de sapatos haviam sido bem escolhidos, tanto a cor, como o estilo, como a sua textura, pois era inverno e o frio ainda se fazia sentir. Sabia, porque a conhecia, que Megan não se esquecia de um simples pormenor, por isso, olhei mais uma vez à minha volta e, em cima da sua secretária estavam três casacos, uma meia-calça transparente e seis acessórios. Vesti a meia-calça, calcei os sapatos pretos de tacão-alto e, por último, vesti o casaco de penas preto. Escolhei um colar de pérolas e esmeraldas e prendi o cabelo num rabo de cavalo. Após ter ido à casa de banho e ter avaliado o meu aspeto umas duzentas vezes, saí do quarto e desci até à sala para tomar o pequeno-almoço. Quando lá cheguei, já só encontrei Mrs. Mattew, que acabava o seu chá e o irmão mais velho de Chris, Fred, que lia o jornal, muito concentrado. Hesitei por segundos mas perdi o medo e falei.

-Bom dia, desculpem a demora! –disse-lhes.

-Bom dia querida! Vá, come qualquer coisa, não te preocupes com isso. –respondeu-me Mrs. Mattew.

Fred baixou o jornal, levantou os olhos e sorriu.

-Bom dia, Sophy! Dormiste bem? –perguntou-me.

-Dormi sim, agradeço imenso terem-nos deixado ficar! A propósito, o meu irmão já desceu? –perguntei-lhes.

-Sim. O Peter acordou cedo e já saiu. Disse qualquer coisa como ir buscar o vosso pai ao hospital. –respondeu-me Fred.