A saudade fez-se sentir novamente, de forma intensa e dolorosa, ao cair da noite. Um dos melhores momentos da minha vida (a minha relação com Chris), não deveria estar a acontecer ao mesmo tempo que um dos piores momentos. Não está certo. Não é suposto ser assim. Zack ainda se encontrava connosco e esperávamos todos que Mrs. Mattews terminasse o jantar. Ofereci-me para ajudar mas a minha ajuda foi recusada sem discussão. "Estás muito cansada querida. Eu trato disto sozinha." disse-me Mrs. Mattews e esta tinha razão. Fui sentar-me ao lado de Megan no sofá aproveitando por lhe agradecer a roupa que me havia deixado e tirando algumas dúvidas sobre outfits. As dicas de Megan foram claramente apreciadas e extremamente úteis. Zack aproximou-se metendo-se na conversa e falando, pela primeira vez, sobre a sua irmã mais velha, Sierra, que, segundo este, adora vestir-se e maquilhar-se e que se encontrava numa universidade em Mississipi a tirar um curso de moda. Três telemóveis tocaram então ao mesmo tempo. O de Zack, o de Peter e o de Mr. Mattews. Todos atenderam e podíamos dizer pelas expressões nas suas caras que não eram boas notícias. Os meus olhos saltaram de um para outro e depois para o último na tentativa de receber alguma expressão de volta ou uma resposta. O primeiro a olhar para mim foi Peter, mas rapidamente os seus olhos encontraram o chão. Nada disseram, mal se ouviam as suas respirações e aquele ambiente disfórico e melancólico começava a afetar todos os recetores nervosos no meu corpo. Estremeci. Senti o sangue que me percorre as veias tornar-se frio e espesso e toda a felicidade que me restava escorrer-me lentamente da cabeça aos pés. Um segundo depois o mundo tornou-se um cenário preto e silencioso que se estendia em todas as direções. Não havia lá ninguém, nem nenhum som era produzido, nem mesmo o bater do meu coração conseguia ouvir. Não tinha a certeza se estava com os olhos abertos ou fechados mas também não era importante. A minha alma chorava, mergulhada em más recordações e em saudades longínquas. Apenas a minha alma dava sinais de vida. O meu corpo permanecia estático, congelado e imóvel. Ouvi uma voz que se dissipou após dois segundos de som. Pareceu-me a voz da mamã, talvez não. Era definitivamente uma voz feminina e dizia apenas o meu nome. De repente todo aquele cenário negro começou a ganhar cor muito lentamente e as vozes, agora mais do que uma, voltaram a fazer-se ouvir.
-Sophy? Sophy! Sophy, consegues ouvir-me? Sophy!
Consegui acenar afirmativamente com a cabeça mas das minhas cordas vocais nenhum som foi produzido.
-Sophy abre os olhos. Sou eu! Sou a Megan. Sophy!
A pouco e pouco fui abrindo os olhos, o meu corpo recuperou as suas forças habituais (que ultimamente eram mínimas) e ao fim de largos minutos já me consegui sentar.
-Desmaias-te. Estás bem? Tragam-lhe um copo com água. Por favor.
Megan parecia particularmente afetada e algo na sua voz trespassava aflição. Ignorei. Precisava de saber o que é que eles tinham descoberto naqueles telefonemas.
-Alguém que me diga o que se está a passar! Descobriram alguma coisa? Eles não estão... -parei. Não consegui dizer em voz alta, mas mais do que dizer, custava pensar nos seus pequenos e perfeitos corpos encontrados sem vida, abandonados. Sem dar por isso comecei a chorar inconsolavelmente.
-Sophy, respira. Ainda não sabemos de nada, para além de que encontraram o jipe que a Jordyn conduzia. Vão levá-lo e processá-lo. -Peter parecia incrivelmente calmo. Lembro-me de ficar irritada pela sua expressão descontraída. Seria a única preocupada? Mais tarde, ao pensar no assunto, apercebi-me de que estava a tentar esconder a sua preocupação para não tornar as coisas mais difíceis para mim. Amei-o mais por isso. Se é que amá-lo mais seria possível.
-Podemos lá ir? Pode ser que eu me lembre de alguma coisa que possa ser útil. -falei diretamente para Zack.
-Sim, falei com um amigo da esquadra, vamos para lá agora. Mas a probabilidade de conseguir autorização para vocês verem o carro é aproximadamente zero. És civil e estás relacionada com as crianças desaparecidas.
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Em busca da felicidade
Non-FictionA vida é difícil. Ainda mais para quem não tem pais. Mas é preciso saber viver em família e tudo será mais fácil, ou pelo menos é o que Sophy pensa. Sophy já não é aquela menina. A vida já não é como antes. A adolescência, a ausência, a saudade, o a...