Feliz Aniversário

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Com três horas de sono e umas olheiras escuras e carregadas, levantei-me da cama onde permanecia deitada mirando o teto há quarenta minutos. Visto que a festa de anos do pai tinha sido planeada em cima da hora, havia ainda muito para fazer. Tudo o resto era vagamente acessório à exceção do bolo. Sabia fazer bolos de aniversário desde os meus onze anos de idade, seria certamente uma tarefa fácil de concretizar. Lembrei-me que, enquanto o bolo ia ao forno poderia fazer uns queques e umas bolachas caseiras, algo que também tinha aprendido bastante nova. A mãe tinha uma paixão pela cozinha que tentou transpor para os filhos. Eu apanhei claramente alguma da sua paixão, mas apenas pelos doces. Tudo o resto eu sabia cozinhar, apesar de não ter o mesmo gosto e talvez capacidade. Podia dizer que desenrascava, não era nenhuma chef.

Durante a noite tinha aproveitado para verificar os convidados que tinham confirmado a sua presença. A lista não era muito grande, mas faria certamente o pai muito feliz. Entre os habituais companheiros da mansão e todos os meus amigos, confirmaram também o afilhado do pai, o "tio" Dean de quem sempre fora muito amigo, o tio Sam e a sua nova namorada (de quem nem o nome sabia) e a tia Christine, a irmã mais nova da mãe. Tinha recebido algumas mensagens de lamentos por parte de amigos e familiares que infelizmente não puderam vir, especialmente por ter sido tão em cima da hora, mas que prometeram ligar para desejar os parabéns. Às vezes o que conta é a intenção e eu não tinha como não compreender. Os avós moravam muito longe, disseram-me logo, no dia anterior, que não tinham como cá vir. A avó ficou especialmente abalada pelo que tive que a consular e descansar. "Coração de mãe" pensei.

Eu estava habituada a uma mansão sempre muito silenciosa, mas hoje não parecia ser o caso. Ainda no corredor, conseguia ouvir barulhos vindos da cozinha. Aproximei-me cautelosa, não sabia quem estaria ali, seria Justin?

-Eu logo vi que te ia encontrar aqui! Imaginei que tu fosses por a pé cedo para preparar a festa. Então e o que vamos fazer? -Mrs. Mattews encontrava-se já vestida e cheia de vontade de ajudar. Tinha retirado todos os ingredientes e mais alguns para fazer um bolo e tinha-os distribuído todos pelo balcão da ilha de mármore na cozinha.

-Bom dia. Parece que já me conhece muito bem! -sorri surpreendida. -Eu estava a pensar fazer um bolo com dois andares em que o de baixo seria de chocolate e o de cima de laranja, é o preferido do pai. -acrescentei.

-Vamos a isso então. Já coloquei o forno a aquecer. -respondeu-me cheia de energia e com um enorme sorriso no rosto. -Ah que tontice a minha, ainda nem tomaste o pequeno-almoço. O que vais querer comer, querida? -adicionou embaraçada.

Tomei o pequeno-almoço enquanto dava indicações a Mrs. Mattews sobre a receita para fazer o bolo. Assim que terminei, comecei a fazer os queques visto que Mrs. Mattews parecia ter tudo sob controlo. Parecíamos até mãe e filha a cozinhar, fez-me ter saudades das tardes de sábado que passei com a mãe a fazer doces. Tinha tantas saudades desses momentos. Enquanto batíamos os ovos ou preenchíamos as formas, íamos conversando um pouco sobre tudo. Falamos na festa, nos preparativos para a venda de garagem, na Megan, na mansão, até que chegou o tema Chris e senti um nó na garganta.

-O meu Chris anda um pouco em baixo não anda? Menos falador, um pouco mais introspetivo. Tu, por acaso, não sabes o que ele tem, pois não? -perguntou-me.

-Gostava de a poder ajudar, mas também não sei o motivo para ele andar tão calado... -disse apenas.

-Ele gosta muito de ti, isso eu posso dizer. Ele nunca teve uma namorada, pelo menos nada sério como tem contigo. E para ser sincera, nunca gostei das raparigas que ele já trouxe cá a casa... pareciam todas... não pareciam a pessoa certa para o meu Christopher. -fez uma pausa mas logo sentiu necessidade de esclarecer. -Mas tu não! Tu és perfeita para ele, pelo menos é o que a minha intuição de mãe me diz. E eu sei que ele gosta mesmo de ti, nota-se.

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