Boas notícias!

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Dormir na casa de Chris era já um acontecimento recorrente. Não era tão confortável como dormir na minha própria casa, rodeada pelas minhas coisas, mas era igualmente acolhedor, a uma escala bem maior, claro. Apercebi-me que me tinha deixado levar pela exaustão no dia anterior. Não falei com o pai, não fui à polícia e não cheguei a comer a refeição quente a que me tinha comprometido.

Abri os olhos por volta das seis e meia da manhã e arrependi-me. Não queria acordar, pôr-me a pé e enfrentar mais um dia, possivelmente tão ou mais doloroso que os outros. Não queria ter de lidar com a realidade, não queria ter de pensar nos mais recentes acontecimentos, nem tão pouco imaginar aquilo pelo que os meus irmãos estariam a passar. Queria ficar ali, aconchegada, quente e imóvel, se possível inconsciente. Apercebi que já não precisava de despertador para acordar com as galinhas, mas faltava-me sobretudo energia.

Perdida nestes pensamentos passaram-se uns dez minutos até me ter lembrado que tínhamos de ir à polícia. Havia ainda muito para fazer... Que novas informações teriam os agentes para nos dar? Como poderia ser útil? E como estaria o pai? Em que condição estaria a nossa casa? Apetecia-me acordar todas as pessoas na mansão para podermos ir rapidamente até à esquadra da polícia e começar o dia, no entanto, contive-me. Tal como eu, os restantes elementos naquela casa estariam certamente cansados, se não fisicamente pelo menos psicologicamente. E eu sabia o quão bem fazia poder dormir as horas medicamente aconselhadas. Por um lado, era fonte de energia, bem-estar e tranquilidade. Por outro, diminuía o ruído, dava para fugir aos problemas e preocupações e era convenientemente inconsciente. Eramos atribuídos ao nosso sonho, para que fizesse connosco o que quisesse, permitindo-nos escapar por umas horas de tudo aquilo que conhecíamos.

Vesti-me ainda inundada nos meus pensamentos. Pensei vagamente na quantidade de roupa que tinha trazido para casa do Chris ao longo do tempo, mas depois a minha mente escapou-se para algo mais inquietante: tinha sido muito indelicada com Chris na noite anterior. Ainda não tínhamos conversado desde a nossa última intensa troca de palavras, pelo menos, intensa da minha parte. Não tinha o direito de falar com ele assim quando ele apenas me queria ajudar, como sempre. Amava-o e a minha atitude perante ele tinha sido errada. Precisava desesperadamente de pedir desculpa.

Tomei uma decisão. Não ia acordar a casa toda, apenas Chris. Queria pedir-lhe desculpa e falar com ele para poder começar bem o meu dia, como tanto desejava.

O quarto de hospedes onde tinha dormido ficava do outro lado da casa. Teria de atravessar a sala de estar, a cozinha, 5 quartos (dos irmãos e pais de Chris) o mais silenciosa e delicadamente possível até chegar finalmente à porta do quarto de Chris que estaria, como sempre, devidamente fechada. Não era uma tarefa fácil. Desastrada como sempre fora, teria de estar altamente concentrada e focada no que estava a fazer de modo a não provocar um susto desnecessário que acordaria certamente a mansão inteira. E para aumentar a já grande probabilidade de algo correr mal, era o facto de serem apenas sete da manhã e estar escuro.

Apercebi-me que estaria seguramente num qualquer transe quando cheguei, mais rápido do que imaginei ser possível, à porto do quarto de Chris. Debati-me por uns segundos se seria uma boa ideia bater ou não à porta, mas convenci-me de que seria melhor entrar sem bater.

Entrei de mansinho ainda não completamente rendida à minha decisão. Chris estava na cama, coberto com os seus lençóis brancos e o edredão verde-escuro e dormia profundamente com a boca aberta. Aproximei-me dele, agachei-me ao seu lado e coloquei-lhe a mão no ombro.

-Chris... -falei demasiado baixo para alguém me ouvir. -Chris... -repeti, desta vez um pouco mais alto.

-Mãe, deixa-me dormir. Não sejas chata... -respondeu-me entre dentes. Achei piada ao facto de Chris achar que eu era Mrs. Mattews mas não me ri, em vez disso, entrei na brincadeira.

Em busca da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora