O pai já partiu e nós tivemos um dia normal. Foi o nosso primeiro dia sozinhos mas estávamos confiantes e sem medo.
À tarde, cheguei a casa e ouvi um som estranho. Parecia um ganir de um cão, mas isso seria impossível porque não temos animais. Dirigi-me ao quarto da Marian e ela estava lá, com uma cara suspeita.
-Boa tarde! Estás bem? -perguntei.
-Boa tarde! Porque não haveria de estar? -gaguejou.
-Talvez porque a tua cara mostra que estás assustada e a esconder algo. -retorqui.
-Eu?! A esconder algo? Não!
-Está bem, se tu o dizes...
Saí do quarto e dirigi-me à cozinha para lanchar e decidi ligar a televisão. Não passaram dois minutos e pareceu-me ouvir Marian a falar sozinha, e novamente aquele som estranho. Não liguei porque a televisão estava alta. Podia ter sido eu a imaginar...
Às cinco da tarde saí para ir buscar a Corrine ao infantário.
Quando chegamos já todos estavam em casa e encontravam-se a estudar e a fazer os trabalhos de casa. Mal a Corrine entrou, Marian e Spencer levaram-na para o quarto e não voltei a vê-los. Liguei o computador para imprimir um trabalho da escola, o horário que fizemos para ir buscar a Corrine e para falar com o pai.
A casa estava demasiado silenciosa para estarem os três juntos no quarto e, como ainda não estava nenhum a chorar, decidi ir ver o que se passava lá dentro. Aquele silêncio era muito invulgar!
Entrei devagar e tentei fazer o menos barulho possível, mas quando entrei só vi as crianças sentadas no chão a rir! Ia jurar que estavam a esconder algo mas não sabia o quê...
-Está tudo bem por aqui?
-Sim! -respondeu a Marian.
-Têm a certeza? -insisti.
-Sim, estamos bem!
-Ainda bem! Já acabaram os trabalhos?
-Sim, já está tudo!
-Está na hora da televisão, querem vir?
-Não, estamos bem aqui!
Ok, isto foi definitivamente estranho! Nunca, mas mesmo nunca recusaram ver televisão porque há regras e só podem ver televisão a determinadas horas. Passam o dia a pedir para ver televisão e agora não querem?! Algo se passa e eu vou descobrir o que é!
Saí do quarto e dirigi-me à cozinha.
-Ouve lá, Peter, sabes o que é que...
Peter estava com um ar péssimo, estava calmo, calado e quieto. Não parecia o Peter de sempre, parecia triste.
-Peter, estás bem?
-Eu? Estou bem, claro!
-Não estás nada. Peter és meu irmão, conheço-te melhor do que ninguém. Tu não estás bem e eu quero saber porquê.
-Oh, Sophy, não te preocupes comigo!
-Não me preocupo contigo?! Estás doido? Quem é que me apoiou quando eu me apaixonei pela primeira vez? Quem me ajudou quando perdemos a mãe? Quem me apoia sempre? Tu Peter, tu apoias-me sempre e está na hora de retribuir!
-Sophy o que se passa é que eu e a Susie não andamos muito bem e isso deixa-me em baixo.
-Conta-me o que é que se passou!
-Bem, uma rapariga chamada Jennifer da nossa turma anda a atirar-se a mim e a Susie não acredita que é ela quem anda atrás e não eu. Aquela miúda não me larga mas eu gosto mesmo da Susie e não a quero perder.
-Pois eu percebo Peter, mas não podes deixar que essa Jennifer te estrague a relação. Sei lá, fala com as duas ao mesmo tempo ou então tenta explicar-lhe que gostas da Susie e pretendes lutar por ela.
-Vou tentar, mas sabes como é...
-Olha, tenta animar-te e ajuda-me a descobrir o que é que os pequenos andam a tramar.
Quando fomos dormir ainda não sabia o que os irrequietos dos meus irmãos escondiam mas não me importei e fui para a cama. Peter estava deitado virado para a parede. Estava quieto e calado, mas acordado. Não disse nada porque ele devia estar a pensar. Fui ter com ele, dei-lhe um beijo na testa e apaguei as luzes. Não ouvi mais nada, o meu dia tinha chegado ao fim.
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Em busca da felicidade
Non-FictionA vida é difícil. Ainda mais para quem não tem pais. Mas é preciso saber viver em família e tudo será mais fácil, ou pelo menos é o que Sophy pensa. Sophy já não é aquela menina. A vida já não é como antes. A adolescência, a ausência, a saudade, o a...