Casa na Árvore 2

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Abri os olhos e não consegui voltar a fechá-los. O relógio marcavam 7:15h. Faltavam agora 3 dias para o Natal. O pai lutava contra o cancro, o mistério das letras egípcias ainda estava por resolver, Jordyn por apanhar e a neve caía agora a toda a hora, deixando as ruas e os telhados das casas brancos e gelados. A vontade de me levantar não era nenhuma, mas a vontade de dormir era ainda menor, e apesar da demora, acabei por calçar as pantufas cinzentas e vestir o robe que recebera no Natal anterior e fui até à cozinha. Sobre a mesa coloquei sete canecas em lugares estratégicos. Ao lado de três dessas canecas coloquei palhinhas e ao lado das restantes uma colher e uma saquinha de açúcar. Comecei a preparar um chá de camomila que estava pronto ao fim de dez minutos. Coloquei a chaleira no microondas para que o chá não arrefecesse e comecei a preparar uma pequena caneca de chocolate quente. Eu, Spencer e o pai não bebemos chá e por isso a quantidade de chocolate quente é sempre menor do que a de chá. Pela manhã toda a família apreciava umas boas torradas e, como estava já a preparar o pequeno-almoço, aproveitei para as fazer também. Marian, Spencer e o pai comiam torradas com manteiga. Eu, Peter e Corrine preferíamos com doce de pêssego. Faltava preparar as torradas para Jordyn. Mas do que gostaria ela? Acabei por colocar sobre a mesa a pilha de torradas e os frascos da manteiga, do doce e do mel. Em poucos minutos o pequeno-almoço estava pronto. Um por um, todos os membros da minha família foram aparecendo na cozinha. Uns mais ensonados, outros com fome e outros ainda com um sorriso bem-disposto no rosto, como se aquele fosse o dia mais bonito do ano. O pai e Jordyn foram os últimos a chegar, e após um pequeno silêncio constrangedor, toda a gente atacou as torradas e eu comecei a distribuir o chá e o chocolate quente.

Estavam já todos a comer quando eu comecei a pensar que este seria o melhor momento para levar a minha decisão a cabo. Esta seria a coisa certa a fazer e acontecesse o que acontecesse era para o bem de todos. Era ali, com aquelas pessoas e naquele momento. Demorei a pensar na melhor forma de me expressar, mas disse, por fim:

-Ainda bem que estamos todos reunidos e se por acaso alguém tiver alguma coisa planeada para hoje pode desmarcá-la porque hoje vamos passar o dia em família!

Os olhares espantados de todos os presentes caíam agora sobre mim. Tinha finalmente a sua atenção.

-Bem, eu tenho estado a pensar muito no assunto e acho que esta é a melhor solução, mesmo não sabendo o que vai acontecer futuramente. –fiz uma pausa. Virei-me cuidadosamente para as crianças, agarrei a caneca do chocolate quente com força e continuei. –Crianças, certamente já notaram que o pai tem andando um pouco distante de nós. Ele tem um bom motivo para isso e apesar de ainda não terem reparado, é bastante grave. O pai está doente. Tem cancro! Os cancros são doenças muito complicadas e que implicam muitas idas ao hospital. Apesar de haver riscos irremediáveis, não nos podemos concentrar nessa ideia e, por isso, vamos aproveitar todos os momentos que temos com ele! –os olhos de todos encheram-se de lágrimas. –Nem sequer pensem em chorar! Chorar não vai resolver nada, além disso não podemos perder tempo a chorar e a lamentar este acontecimento, esta dúvida e este medo. Muitas coisas más vão acontecer-nos e não vai ser a chorar que as vamos conseguir ultrapassar. Agora, quero sugestões para passar uma óptima tarde em família!

A minha voz soava autoritária e madura, mas o que é certo é que as lágrimas sumiram-se e a vontade de passar a tarde em família era agora muita.

-Podíamos ver um filme! –sugeriu Corrine que adorava ver televisão.

-Podíamos ir passear pelo centro da cidade! –sugeriu Marian.

As sugestões eram bastante agradáveis e quando estávamos quase a chegar a um consenso sobre ver um filme, Peter, que tinha estado até agora calado, disse:

Em busca da felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora