Se For Pra Ser Será

12

Corro como se tivesse alguma coisa monstruosa atrás de mim,e realmente tinha,mas nao era um bicho de seis cabeças,um lobisomem na lua cheia, um vampiro que não come a séculos ou um homem com dentaculos....era a morte

Paro na porta quando ouço um barulho de tiro, vendo a mulher que me deu a vida,a mulher que brincava comigo quando nenhuma criança queria brincar,a mulher que sempre estava ali pra eu chorar  no ombro dela,rir, brincar e dormir no colo ou no peito dela apos um pesadelo ou quando estava cansado,caindo no chão com um tiro na cabeça

  -NAO.

  Levanto num pulo suando frio e ouço um barulho de arma sendo engatilhado, o que só piora minha situação.

  -não atira por favor-  me viro e não consigo ver nada pois meu olhos estão cheios de lágrimas

  A:sou eu, a Amara.

  -não atira.

  Ela joga a arma no chão e fica de joelhos, enquanto eu so sinto a falta de ar em meus pulmões trazendo a sensação de sufocamento, flashes daquele momento repetidamente na minha cabeça,a sensação de culpa e insuficiencia que me invade como sempre quando tenho esse pesadelo.

  Sinto mãos em meu rosto e olho para sua íris castanhas

  A: respira comigo.

  Tento respirar mas é como se não tivesse ar existente a minha volta e começo a apavorar. Como quando vamos muito fundo em uma piscina e o ar acaba,nadamos desesperados para sentir o pulmão se enchendo de ar, e aqueles miseros segundos são desesperadores.

  A: não precisa de pressa,eu estou aqui com você ok? Vamos aos poucos

  Ela respira de novo e eu a acompanho fazendo essa sequência ate minha respiração ficar menos descontrolada.

  A morena me abraça e enterro minha cabeca em seu pescoço, chorando de soluçar

  -foi culpa minha

  A:não foi-sinto suas unhas acariciando devagar meu couro cabeludo,e lembro das vezes que nao conseguia dormir e minha mãe fazia o mesmo

  -por favor...por favor tira essa vontade de mim

  A:vontade de que, meu amor?

  -acabar com essa minha vida.... por favor

 

  Amara on

  Eu não sabia o que dizer.

  Por trás desse homem marrento que todos conhecem,por trás de um homem que nao pensa duas vezes em atirar em alguem,por trás desse homem que sorri existe um ser que deseja isso...um ser que é machucado,que mesmo eu sendo ótima em leitura corporal nunca deixou um sinal pra mim.

  -seja o que for que esta passando na sua cabeça agora,não leve isso a serio. Não foi sua culpa,tenho certeza que você fez o que pôde para não deixar acontecer, mas tem coisas que realmente são pra ser e mesmo que tentamos mudar, iria acabar acontecendo...não deixe uma coisa do passado,uma coisa que voce nao poderia ter feito nada, faça você pensar que merece a morte

  Ele se acalma e ainda no abraço olho pro relógio vendo que são 2 da manhã. Deitamos e eu coloco sua cabeça em meu peito fazendo carinho e mesmo que eu esteja curiosa sobre o que ele estava pensando,decido não perguntar para ele não se lembrar disso tudo mais uma vez.

  V:desculpa-diz em um sussurro quase inaudível-nao queria acordar você a essa hora.

  -não precisa se desculpar por nada, nada mesmo...eu estou aqui pro que você precisar, então nao importa a hora e não importa o lugar....eu vou sempre estar aqui.

  V:obrigada

  -quer me contar?-ainda fazendo carinho no cabelo dele

  V:minha mãe...a 7 anos homens invadiram nossa casa...ela nunca gostou do que meu pai fazia, mas ele nunca escutou o que ela dizia.... eles me prenderam em um quarto-ele soluça- fizeram coisas horríveis e mesmo eu sendo treinado desde cedo não consegui...-sinto lágrimas e lágrimas no meu ombro e tento fazer ele parar, mas ele nao para.
-não consegui parar eles... quando consegui correr pra fora,fui tentar protege-la mas falhei....eu falhei com ela

  -Vinnie não.....-ele me interrompe

  V:atiraram sem piedade na cabeça dela.... na minha frente-outro soluço-na minha frente e nao consegui impedir. Eu tinha 14 anos, e não consegui.

  Suas maos começam a tremer de novo e ele chorar descontroladamente e que merda.

  Eu deveria ter ficado quieta.

  -não amor-o abraço apertado sentindo suas lágrimas e sua respiração ofegante no meu pescoço
-você era só uma criança....uma criança que presenciou uma coisa horrível dessas,você não tinha culpa nao podia fazer nada...tenho certeza que ela tem muito orgulho do homem maravilhoso e incrível que voce se tornou,aonde quer que ela esteja.

  Eu não acredito na vida apos a morte, mas achei que seria o melhor a se dizer agora. Dizer coisas a alguem que eu vou matar, me parece mais fácil do que dizer algo a alguem que esta chorando nos meus braços.

  V:Queria que ela estivesse aqui.- diz em um sussurro depois de ter se acalmado, e depois pega em um sono profundo.

  No entanto, eu não consegui fechar os olhos sem imaginar tudo o que ele passou.

  14 anos...ninguém merece passar por isso,principalmente uma criança que mesmo sendo pressionada a ser uma assassina fria,ainda acreditava na vida e na felicidade.

  Eu não consigo entender como um homem que ja passou por tudo isso, ainda permanece assim...feliz.

  Ou talvez ele só demonstre ser feliz

 Não sei quando esses pesadelos começaram, e a possibilidade dele estar convivendo com eles nos últimos 7 anos apertou meu coração de uma maneira que a muito tempo não apertava, e saber que seu desejo mais sombrio é morrer me matava lenta e dolorosamente. Talvez ele não queira morrer, mas só acabar com essa dor.

  Eu sinto muito...eu te amo, e jamais vou permitir que se sinta sozinho outra vez.