Capítulo 43 :

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Carla: Você..... — Ela empalideceu.

Apenas por um segundo Arthur se sentiu um cretino completo. Então lembrou que estava lutando pela única família que possuía. Seus filhos. E não ia desistir. Assim como não iria se sentir culpado por querer ser parte da vida deles, independentemente da maneira pela qual conseguiria isso.

Carla: Você faria uma coisa dessas?

Arthur: Sem vacilar.

Carla: Você realmente é um imbecil cruel, não é?

Arthur: Eu sou o que tiver de ser para conseguir o que eu quero — respondeu Arthur.

Carla: Meus parabéns então. Você ganhou esta rodada.

Um dos bebês começou a chorar, como se sentisse a tensão súbita na sala. Arthur olhou para baixo e viu que era Daniel, o pequeno rosto contorcido, enquanto lagrimas escorriam pela face. Um instante depois, seguindo o exemplo do irmão, Davi soltou um grito que tanto cortou o coração de Arthur quanto o assustou. Ele deu um olhar de pânico para Carla, que somente maneou a cabeça.

Carla: Você quer um curso intensivo de paternidade, Arthur? — Ela gesticulou a mão em direção aos garotos, cujos choros agora estavam altíssimos, enquanto eles chutavam o ar, e balançavam os bracinhos furiosamente. — Aqui está a lição número um. Você os fez chorar. Agora, faça-os parar.

Arthur: Carla...

Então, enquanto ele a observava estupefato, Carla pegou a pilha de roupas recentemente dobrada, seguiu por um corredor curto e desapareceu no que ele supunha ser o quarto dos meninos, deixando-o sozinho com os filhos frenéticos.

Arthur: Ótimo — murmurou ele, se ajoelhando na frente dos gêmeos — Isso vai ser ótimo. Bom trabalho, Arthur. Parabéns.

Enquanto se ajoelhava, balançava as cadeirinhas e suplicava para que os gêmeos parassem de chorar, teve a distinta impressão de que estava sendo observado. Mas se Carla estivesse parada nas sombras, observando a performance dele, Arthur não queria realmente saber. Então se concentrou nos filhos e disse a si mesmo que um homem que podia construir uma linha de cruzeiros marítimos do nada deveria ser capaz de acalmar dois bebês chorando.

Afinal de contas, o quanto aquilo podia ser difícil?

No fim daquela tarde, Arthur estava esgotado e Carla estava apreciando o show. Ele tinha alimentado os bebês, dado banho neles... o que foi tão divertido que ela lamentou não ter filmado tudo... e agora estava tentando vesti-los. Carla estava parada na porta do quarto dos bebês, silenciosamente observando com um sorriso encantado no rosto.

Arthur: Vamos Davi — implorou Arthur — Somente me deixe vestir essa camisa em você, e nós iremos... — Ele parou, inalou o ar, então deu um olhar horrorizado para Daniel — Você fez? — perguntou inalando novamente. — Fez, não fez? E eu acabei de vestir uma fralda limpa em você.

Carla cobriu a boca com uma das mãos e estudou Arthur a luz do sol que infiltrava pelas persianas. As paredes eram verde-claras e continham um painel que ela mesma tinha pintado quando estava gravida. Havia arvores, flores, coelhos e cachorros, pintados em cores primarias e brilhantes, ao longo do jardim. Uma penteadeira branca era posicionada ao fim do quarto, e uma cadeira de balanço estofada no canto.

E agora, Arthur. Olhando para o berço, onde deitou os dois meninos por segurança, Arthur passou ambas as mãos pelos cabelos uma ação que vinha repetindo com frequência e murmurou alguma coisa que ela não entendeu.

Mesmo assim, Carla não se ofereceu para ajudar.

Ele não tinha pedido ajuda, e ela achava que era justo que Arthur tivesse uma ideia real de como eram seus dias. Se nada mais, aquilo o convenceria de que não estava tão pronto para ser pai solteiro de dois meninos gêmeos.

Arthur: Certo Davi — disse ele em um suspiro cansado, — Eu vestirei sua camisa em um minuto. Mas primeiro tenho que fazer alguma coisa com seu irmão, antes que nós todos morramos asfixiados. — Carla riu, e Arthur lhe deu um olhar rápido. — Você está gostando disso, não está?

Carla: E não é engraçado? — perguntou ela, ainda sorrindo. Arthur maneou a cabeça e torceu o nariz.

Arthur: Certo, é uma grande piada. Mas você tem que admitir que não estou me saindo mal.

Carla: Suponho que não — disse ela, assentindo com um gesto na cabeça — Mas pelo cheiro, eu diria que você está diante de um pequeno problema no momento.

Arthur: Vou cuidar disso — Arthur falou com firmeza, como se estivesse tentando convencer a si mesmo, assim como convence-la.

Carla: Certo, então. Vá em frente. — Ele esfregou uma mão no rosto, olhou para o berço e murmurou:

Arthur: Como alguém tão bonitinho pode cheirar tão mal?

Carla: Outro mistério do universo – replicou ela.

Arthur:Outro?

Carla: Esqueça — disse ela, pensando em sua conversa com Dona Mara enquanto ainda estava no navio. Antes da loira. Antes que fosse embora de maneira apressada. Oh, Deus. Ela ergueu a coluna e fechou os olhos.

Dona Mara. Imagine quando ela descobrisse que Arthur estava lá.

Arthur: Você está bem? — perguntou ele.

Abrindo os olhos novamente, ela o fitou, tão estonteante ali no quarto do seus bebês, e disse a si mesma que aquilo era exatamente o que ele havia falado sobre a noite dos dois juntos. Nada mais do que uma imagem numa tela de radar. Um pequeno passeio dentro do mundo comum. Uma vez que Arthur provasse o que queria provar, e conhecesse um pouco os filhos, iria embora e tudo voltaria ao normal.

O que era bom, certo?

Arthur: Carla?

Carla: Hum? Oh, sim. Estou bem. Só... pensando. — Ele a olhou por um longo momento, como se tentando descobrir no que ela estava pensando. Felizmente, ler mentes não era uma das habilidades de Arthur.

Arthur: Certo.

Carla: Então — murmurou suavemente — Você vai cuidar do pequeno problema do Dan ou precisa de socorro? — Ele não pareceu feliz, mas também não deu a impressão de que ia implorar.

Arthur: Não, eu não preciso de socorro. Eu disse que posso cuidar deles, e posso — Arthur respirou fundo e se aproximou do berço.

Carla ouviu o barulho das tiras de velcro sendo abertas na fralda descartável, então escutou o gemido de Arthur.

Arthur: Oh, meu Deus. — Rindo, ela virou-se e deixou-o com os filhos.

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