Capítulo 21 :

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ARTHUR

Uma vez que o navio atracou e a maioria dos passageiros desembarcou para seu dia de compras e exploração da cidade de Salvador, Arthur entrou em ação. Ele já tinha pedido para que Teresa desse alguns telefonemas, e o laboratório do hospital local os esperava.

O sol estava quente e brilhante, e o cheiro do mar os cumprimentou no momento em que ele e Carla desceram no deck externo. Normalmente, Arthur teria apreciado aquilo. Adorava esta parte do cruzeiro. Atracar num porto, explorar a cidade, revistar seus lugares favoritos, descobrir novos.

Mas hoje era diferente. Hoje ele estava numa missão, portanto não ia notar a atmosfera festiva e relaxada de Salvador. Assim como não iria notar o vestido verde-claro que se aderia ao corpo de Carla, ou a aparência de suas pernas torneadas naquelas sandálias de salto alto. Ele não tinha interesse no fato de que os cabelos loiros de Carla, que hoje estavam soltos e ondulados chamavam atenção de todos ali, e realmente não estava notando o aroma doce que a brisa parecia levar bem na sua direção.

Coloca-la em sua suíte tinha parecido uma boa ideia no dia anterior. Mas o conhecimento de que ela estava tão perto, no fim do corredor, sozinha na cama, o perseguiu durante a noite inteira. Agora seus olhos ardiam, seus nervos estavam a flor da pele, e seu corpo rígido e dolorido.

Carla: Para onde estamos indo? — Perguntou ela quando ele pôs uma mão nas suas costas a fim de conduzi-la ao longo da prancha de embarque e desembarque para a praia.

Deus, apenas o leve contato foi o bastante para que ele quisesse esquecer tudo sobre o compromisso atual, e, em vez disso, arrasta-la de volta para sua cabine. Cerrando os dentes, Arthur reprimiu a imagem de sua cabeça.

Arthur: Teresa ligou para o hospital daqui — murmurou ele — O pessoal do laboratório está nos esperando. Eles colherão uma amostra para DNA, farão o exame e enviarão os resultados para o seu laboratório. Devemos ter a resposta em um ou dois dias.

Carla tropeçou, e ele a segurou em um gesto instintivo.

Carla: Rápido assim?

Arthur: Dinheiro — disse com um dar de ombros.

Aprendeu há muito tempo que com muito dinheiro, podia realizar qualquer coisa. O mundo funcionava assim. E pela primeira vez, sentiu-se satisfeito por ser rico o bastante para exigir ação rápida. Queria resolver aquela questão da paternidade. Parecia incapaz de parar de olhar para a fotografia dos gêmeos que Carla lhe deu.

Não conseguia parar de imaginar como a existência daquelas crianças iria afetar... mudar... a sua vida. Então, necessitava saber se iria ser pai ou se iria apenas processar Carla Diaz  por mentir para ele. Novamente.

Os saltos dela contra a prancha emitiam um ruído como batidas frenéticas de um coração. Carla estaria nervosa? Arthur se perguntou se ela realmente mentiu e agora estava com medo de ser descoberta. Pensou  que ele simplesmente aceitaria sua palavra de que os bebês lhe pertenciam? Certamente, não.

No fim da prancha de desembarque, um motorista de aplicativo estava esperando. Silenciosamente abençoando a eficiência de Teresa, Arthur abriu a porta para Carla, e entrou depois dela. Assim que entraram perceberam que o motorista não era brasileiro. Em frases curtas, faladas num espanhol quase fluente, cumprimentou o motorista simpático.

Carla: Eu não sabia que você falava espanhol — comentou quando ele se acomodou no banco ao seu lado.

Arthur: Há muitas coisas que você não sabe sobre mim.

Carla: Suponho que sim.

É claro, o mesmo podia ser dito, sobre o que ele sabia sobre ela. Lembrava-se claramente do tempo dos dois juntos, mais de um ano atrás. Mas naqueles momentos roubados, Arthur esteve mais interessado em se enterrar no corpo deleitoso do que em descobrir pensamentos, esperanças e sonhos dela.

Disse a si mesmo que haveria muito tempo para que eles se conhecessem. Não poderia ter adivinhado que em uma única semana a encontraria, a desejaria, e então a perderia. Entretanto, mesmo com a paixão ardente entre eles, Arthur se recordava das breves conversas nas quais ela tinha falado sobre lar, sua família.

Na época, pensava que ela era diferente das outras mulheres que conhecia. Que era mais sincera. Que estava mais interessada nele, o homem, do que no que ele era. No quanto possuía. É claro, aquela pequena fantasia foi destruída rapidamente.

Arthur ficou em silencio quando o carro partiu. Não queria conversar. Não queria pensar sobre nada, exceto no que estava prestes a fazer. Com uma simples checagem no seu DNA, sua vida poderia mudar irrevogavelmente para sempre. Seu peito estava comprimido e sua mente girando. Salvador não passava de uma mancha colorida do lado de fora da janela, enquanto eles se dirigiam ao laboratório e a um encontro com o destino.

Em poucos segundos, o carro foi engolido pela cidade agitada. Salvador era uma linda cidade. Hotéis, restaurantes, bares eram todos novos e atraentes, oferecendo o melhor para atrair os turistas que abarrotavam a cidade todos os anos.

No entanto, somente a algumas quadras do porto, Salvador era uma cidade grande como outra qualquer. As ruas eram congestionadas de carro, pedestres andando fora das calçadas num completo abandono, confiando que os motoristas não os atropelariam. Ruas laterais mais estreitas saiam das avenidas maiores, e da lá vinham os aromas tentadoras de cebolas fritas, temperos e carne grelhada.

Restaurante e bares se agrupavam, suas ruas de paralelepípedo, enquanto turistas subiam e desciam, câmeras fotográficas atadas a pulsos bronzeados. Quanto o motorista  misturou-se ao transito confuso, Arthur olhou preguiçosamente pela janela e notou os mercados abertos, um do lado do outro.

Carla: Estranho não é? — Perguntou ela, e Arthur virou a cabeça para fita-la. Ela estava olhando pela janela e Arthur se perguntou se ela estava falando sozinha — Toda a opulência, que cidade linda...

Arthur: É uma cidade como outra qualquer — disse ele.

Carla: É só um pouco decepcionante ver o mundo real sob o esplendor. — Ela virou a cabeça para encontrar seu olhar.

Arthur: Há sempre um lado oculto. Em tudo. Em todos — murmurou Arthur, estudando -lhe os olhos, perguntando-se o que ela estava sentindo. Questionando por que até mesmo se importava.

Carla: O que está escondido sob sua fachada então? — Indagou ela. Arthur forçou um sorriso.

Arthur: Eu sou exceção à regra. O que você vê é o que eu sou. Sem mistérios a ser selecionados. Sem segredos. Sem mentiras. — As feições dela se tornaram tensas.

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